A alta comissária da Organização das Nações Unidas (ONU) para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, pediu nesta terça-feira (13/04) que os Estados-membros da entidade tomem medidas imediatas e decisivas para pressionar a junta militar de Mianmar a interromper a “repressão e o massacre” da população do país.
Bachelet falou em mais um “derramamento de sangue coordenado em muitas partes do país”, incluindo a morte de pelo menos 82 pessoas na região de Bago, no fim de semana.
Para ela, os “militares aparentam querer intensificar sua política impiedosa de violência contra o povo de Mianmar, usando armamento de nível militar e indiscriminado”.
A alta comissária teme que a “situação em Mianmar esteja caminhando para um conflito total”. Ela afirma que os Estados “não devem permitir que os erros mortais do passado em diversos lugares se repitam” no país.
De acordo com relatos, forças de segurança em Mianmar, conhecidas como Tatmadaw, usaram granadas e morteiros em Bago, no sul do país, em uma ofensiva a civis no fim de semana. Os militares ainda impediram que os feridos fossem socorridos, e cobraram das famílias uma “multa” de cerca de US$ 90 (cerca de R$509) para liberar os corpos.
Muitos jornalistas, ativistas e figuras públicas estão sendo procurados pela polícia simplesmente por se expressam na internet. Os serviços de banda larga sem fio e dados móveis foram cortados indefinidamente em 2 de abril, deixando a grande maioria das pessoas sem acesso a fontes importantes de informação e comunicação.
AFP/Télam
Pelo menos 82 pessoas na região de Bago, no fim de semana, por conta da repressão dos militares em protestos
Milhares de migrantes saíram dos centros urbanos para voltar ao interior do país. Com os tumultos, foi suspenso o combate à pandemia da covid-19.
A alta comissária da ONU pediu aos militares e aos países vizinhos que facilitem acesso humanitário e proteção. Para ela, declarações de condenação e sanções limitadas já provaram ser insuficientes para combater esta crise.
Bachelet afirma que os “Estados com influência precisam aplicar urgentemente uma pressão coordenada sobre os militares para impedir a prática de graves violações dos direitos humanos e possíveis crimes contra a humanidade”.
Golpe
O golpe de Estado aplicado pelos militares ocorreu no dia 1º de fevereiro, dia em que os parlamentares eleitos em 8 de dezembro iriam tomar posse. Naquele dia, foram presos a líder “de facto” do país, Aung San Suu Kyi, e o presidente, Win Myint, além de diversos representantes políticos.
As Forças Armadas justificaram o golpe por uma suposta “fraude eleitoral” na vitória avassaladora do partido de Suu Kyi, o Liga Nacional para a Democracia (NLD), que teve mais de 70% dos votos. No entanto, tanto a Nobel da Paz de 1991 como o presidente estão sendo acusados de crimes que nada tem a ver com o processo eleitoral.
As eleições de dezembro marcavam o segundo pleito livre desde 2015, que também foi vencido pelo NLD. Antes desse ano, os cidadãos ficaram 25 anos sem uma democracia real, vivendo em um regime militar.
(*) Com ONU News e Ansa.