O Alto Secretariado para Direitos Humanos da ONU condenou nesta terça-feira (04/05) a morte de manifestantes na Colômbia e se disse preocupado com a crescente violência policial no país.
Segundo a porta-voz do órgão, Marta Hurtado, o escritório da ONU na Colômbia “está trabalhando para verificar o número exato de vítimas e as circunstâncias desses eventos terríveis”.
Na noite desta segunda-feira (03/05), policiais da Esmad (Esquadrão Móvel Antidistúrbios da Polícia) dispararam contra cidadãos que participavam de um protesto na cidade de Cali, uma das maiores do país.
Segundo a Human Rights International, um massacre perpetrado pela polícia ocorreu no bairro popular de Siloé, em Cali. A ONG investiga as mortes de 6 pessoas, entre elas um menino de 11 anos, além de 18 feridos, incluindo uma criança de 7 anos.
“Estamos profundamente alarmados pelos acontecimentos ocorridos na cidade de Cali, na Colômbia, na noite passada, quando a polícia abriu fogo contra os manifestantes que protestavam contra a reforma tributária, matando e ferindo várias pessoas”, disse a porta-voz da ONU.
As mobilizações contra a reforma tributária proposta pelo presidente Iván Duque tomaram o país desde o dia 28 de abril. Apesar do mandatário ter desistido do projeto no último domingo (02/05) e do ministro da Fazenda ter renunciado nesta segunda, milhares de colombianos continuam saindo às ruas do país para protestar contra o governo.
Diversas regiões protagonizaram episódios de repressão policial na noite de segunda-feira, mas em Cali, relatos de manifestantes e de organismos de direitos humanos apontam para um uso desmedido da força policial.
Segundo o jornal colombiano El Tiempo, a Esmad praticou prisões arbitrárias durante os atos, disparou contra manifestantes e agrediu membros de ONGs de direitos humanos que estavam no local para fiscalizar a ação da polícia.
Ainda de acordo com o periódico, os agentes da repressão não utilizavam número e nome de identificação nos uniformes.
“Lembramos as autoridades do Estado sua responsabilidade de proteger os direitos humanos, incluindo o direito à vida, e de facilitar o direito à reunião pacífica. Os agentes encarregados de fazer cumprir a lei devem respeitar os princípios de legalidade e proporcionalidade ao acompanharem as manifestações”, disse a funcionária da ONU.
CUT Colombia
Nações Unidas pedem que Estado proteja os direitos humanos dos colombianos
27 mortos na Colômbia
Dados do Comitê Nacional de Greve da Colômbia indicam que a repressão das forças de segurança às manifestações contra a reforma tributária deixou um saldo, até agora, de 27 mortos e 124 feridos.
Em um balanço que inclui o período de 28 de abril a 2 de maio, a entidade informou que foram registrados 1.089 casos de violência policial e 27 manifestantes assassinados – 12 deles só em Cali, capital do departamento de Valle del Cauca, no sudoeste do país.
Os números não incluem os eventos ocorridos em Cali na noite de segunda-feira (03/05).
O Comitê Nacional de Greve acrescentou em seu relatório que, dos feridos, 13 sofreram lesões oculares. Também foram denunciados seis atos de violência sexual, 726 detenções arbitrárias e 45 defensores de direitos humanos limitados no exercício de suas funções.
Protestos continuam
Os dirigentes da greve asseguraram que, apesar de o presidente Iván Duque ter retirado o polêmico projeto de reforma tributária, as medidas de protesto continuarão contra a militarização das cidades.
Os manifestantes exigem também a retirada da reforma sanitária, o desmantelamento do Esquadrão Móvel Antimotim (Esmad) da Polícia Nacional, responsável por inúmeros abusos de poder, e a vacinação massiva contra a covid-19, entre outras demandas.
Para esta quarta-feira, 5 de maio, foi convocado um novo dia nacional de protestos, no qual participarão diferentes plataformas sociais e centrais de trabalhadores.