Após sete dias de intensos protestos populares na Colômbia, que até o momento deixou 24 mortos, 87 desaparecidos e mais de 800 detidos, o presidente Iván Duque anunciou nesta quarta-feira (05/05) um cronograma para o diálogo nacional.
No entanto, a proposta do governo Duque ainda não obteve resposta das lideranças e organizações sociais que realizam as manifestações contra o modelo neoliberal e vêm sofrendo fortes repressões por parte de agentes de segurança.
Para tentar as negociações, o presidente nomeou o Alto Comissário para a Paz, Miguel Ceballos, como coordenador do diálogo. Ceballos disse aos meios de comunicação locais que as principais questões a serem abordadas serão a vacinação contra a covid-19 em massa, a reativação econômica segura e o desenvolvimento social.
Hemos invitado al Comité Nacional del Paro a analizar los temas esenciales para el país, en el marco de los Encuentros para Escucharnos y Avanzar en lo Fundamental.
Agradecemos y valoramos la propuesta de los dirigentes del Comité para realizar esa reunión el próximo 10 de mayo. pic.twitter.com/YYG4dyKWLz— Alto Comisionado Paz (@ComisionadoPaz) May 5, 2021
Ainda segundo o indicado, também serão discutidas a não violência, a estabilização das finanças públicas, a matrícula zero (fundo de solidariedade educacional), bem como a proteção dos mais vulneráveis. Sobre esse assunto, Ceballos destacou que em cima da mesa estarão a Reforma Tributária e o novo texto que será apresentado em seu lugar ao Legislativo.
Ceballos disse que essas questões atendem às demandas dos setores, mas esclareceu que não se trata de uma conversa nacional, mas sim do que seria o fundamental para sair da crise que o país atravessa. No entanto, o coordenador do diálogo descartou negociações sobre a reivindicação de retirada das forças policiais das ruas.
Ao apresentar a proposta, o Alto Comissariado para a Paz repudiou os acontecimentos da noite de terça-feira (04/05) em Bogotá, quando 15 instalações de unidades policiais foram atacadas e incendiadas. Em uma das ocorrências o incêndio aconteceu com os policiais dentro.
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Presidente Iván Duque faz pronunciamento sobre protestos e fala em ‘luta contra o vandalismo’
Violações de direitos humanos
De acordo com relatório da Defensoria do Povo, 24 pessoas morreram durante as manifestações que ocorrem em diferentes regiões do país. Dentre as vítimas, 17 se localizavam no departamento de Valle del Cauca, em Antioquia, Bogotá, Cundinamarca, Huila, Risaralda e Tolima.
O relatório alerta ainda que a Polícia Nacional é responsável por 11 das 24 mortes registradas, enquanto que as demais estão em investigação para que seja identificada a autoria. Mais da metade dos assassinatos foram cometidos com arma de fogo, e outros teriam sido decorrentes de ataques com faca. Essa informação também segue sob investigação.
O defensor´ público Carlos Camargo dirigiu-se nas últimas horas à Procuradoria-Geral da República para entregar o relatório com 89 desaparecido desde o início das passeatas. Ele também divulgou um calendários de reuniões e debates com prefeitos, governadores e comissões colombianas.
Resultados das manifestações na Colômbia
A greve iniciada no último 28 de abril, ainda que sob forte ataque, já conquista vitórias. O ministro da Fazenda colombiano, Alberto Carrasquilla, renunciou na segunda, depois que Duque desistiu de seu projeto de reforma tributária e pediu ao Congresso que retirasse a proposta.
A derrubada da reforma tributária – que pretendia aumentar em 19% impostos sobre serviços públicos, como gás e energia – é uma das pautas da jornada de protestos. A lista de reivindicações ainda inclui a retirada do “pacotaço” – que prevê mudanças e reformas nas leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social –, o fim da violência policial contra líderes sociais e defensores de direitos humanos, além de uma série de exigências em diversas áreas sociais.
(*) Com Telesur.