Indígenas Misak derrubam estátua de colonizador espanhol no centro de Bogotá
Segundo o Movimento de Autoridades Indígenas do Sul Ocidental, Gonzalo Quesada representa o 'maior violador' da colonização na Colômbia
Um grupo de indígenas Misak derrubaram na madrugada desta sexta-feira (07/05) a estátua do colonizador espanhol Gonzalo Jiménez de Quesada que ficava localizado em frente à Universidade do Rosário, no centro de Bogotá, na Colômbia.
“Hoje, os povos indígenas recuperam mais um de nossos espaços sagrados que foram violados, perpetrados e desapropriados pelos pistoleiros da ‘conquista e da colônia espanhola’”, informou o Movimento de Autoridades Indígenas do Sul do Ocidente (AISO), que reivindicou a ação, nas redes sociais.
Com a estátua no chão, os indígenas comemoraram tocando tambores e flautas ao redor, em forma de protesto contra os símbolos que representam a conquista espanhola. “Derrubamos Gonzalo Jiménez de Quesada, que foi historicamente o maior massacrador, torturador, ladrão e violador de nossas mulheres e de nossos filhos”, declararam o grupo.
Segundo os indígenas, as famílias da elite colombiana descendem de colonizadores como Quesada que “continuam reproduzindo problemas que continuamos a sofrer: assassinatos, corrupção e roubos”. “A prova disso é a Reforma Tributária apresentada há poucos dias pelo governo, e que foi derrubada nos últimos dias pelos povos unidos nas mobilizações”, afirmaram.
Na declaração, o grupo destaca “mês das mães” e lamenta por aquelas que perderam os filhos em todos os territórios e as “que têm caído por causa de uma guerra fratricida que nos impuseram”, que, no entanto, “devemos enfrentar juntos”.
“Apelamos ao país a não perder a esperança, a partir de agora iremos reescrever a nossa história, o povo colombiano compreenderá e reconhecerá as histórias de vida e resistência dos nossos povos perante às injustiças históricas a que fomos submetidos”, declarou o AISO.
O movimento termina a declaração dizendo que vão semear paz, motivo pelo qual todos os povos, indígenas, negros, camponeses e comunidades urbanas, devem continuar caminhando.
Monumento de colonizador foi derrubado nesta madrugada na Colômbia – Reprodução/Movimiento de Autoridades Indígenas del Sur Occidente
Não é a primeira vez que indígenas do povo Misak derrubam um monumento da memória da colonização no país desde o início da greve. Em 29 de abril, o movimento derrubou a estátua do colonizador espanhol Sebastián de Belalcázar na cidade de Cali.
“Derrubamos Sebastián de Belalcázar em memória de nosso cacique Petecuy, que lutou contra a coroa espanhola, para que hoje seus netos e netas continuem lutando para mudar este sistema criminoso de governo que não respeita os direitos da Mãe Terra”, afirmou o Aiso.
“Assim como caiu Sebastián em Cali como marco da reivindicação da memória histórica do povo Misak, também cairá Ivan Duque e sua Reforma Tributária”, disse o grupo nas redes sociais.
Em setembro de 2020, uma outra estátua de Belalcázar havia sido derrubada em Popayán, no departamento de Cauca.
Protestos
A Colômbia vive mais de oito dias de protestos diários contra a reforma tributária apresentada pelo presidente de Iván Duque que pretendia aumentar 19% dos impostos sobre serviços públicos, como gás e energia.
Ainda que o presidente tenha solicitado ao Congresso a retirada do projeto da pauta no domingo (02/05), uma conquista da paralisação, os atos continuam pedindo a revogação completa da proposta e não somente a exclusão dos pontos mais polêmicos, conforme alegou que faria o mandatário.
Além de criticar a reforma fiscal, os ativistas protestam contra o chamado “pacotaço”, que também inclui mudanças e reformas nas leis do trabalho, na área da saúde e da previdência social. Outro ponto central da mobilização é a denúncia contra o assassinato de líderes sociais e a recorrente violência estatal contra a população colombiana, a exemplo do que acontece neste momento.
Em diálogo com representantes políticos do país que ocorreu nesta quinta-feira (06/05), os principais pontos discutidos foram a desmilitarização das cidades, a punição dos responsáveis pela violência institucional e a garantia do direito ao protesto.
O presidente da Senado, Arturo Char Chaljub, esteve presente na reunião e disse que os sindicatos, a sociedade civil e o governo devem enfrentar a situação que o país atravessa.
Relatos de repressão policial, violência sexual, tortura e desaparecimentos estão sendo noticiados na Colômbia desde que os protestos começaram.