Não foram apenas os iraquianos que sofreram durante o governo de George W. Bush. Utilizando-se de um discurso que, com frequência, remetia às Cruzadas, o ex-presidente dos Estados Unidos também travou uma batalha sem fim contra o aborto, elevando os ânimos religiosos no país.
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Para Anne Daguerre, pesquisadora associada da Sciences Po, em Paris, o governo Bush financiou prioritariamente os programas de abstinência sexual e efetuou cortes significativos nas verbas para os programas de contracepção. Além disso, nomeou o ultraconservador Samuel Alito para a Suprema Corte, principal responsável por modificar a legislação, fortalecendo os direitos do feto sobre os da mãe.
Países com menos restrições ao aborto, de acordo com a associação Center for Reproductive Rights:
Para a Federação Nacional do Aborto (National Abortion Federation), a eleição de Barack Obama foi uma mudança de rota. Segundo a federação, “o presidente Obama tem demonstrado apoio crescente para o acesso seguro e legal ao aborto. Em um de seus primeiros atos como presidente, ele suspendeu o Global Gag Rule, uma regra que bania dos EUA o financiamento a grupos internacionais que davam acesso ao aborto seguro, promoviam sua legalização ou trabalhavam com o aconselhamento no à métodos contraceptivos.” Além disso, a associação aponta que o presidente americano se comprometeu a valorizar o direito de escolha da mulher, com base no caso Roe vs. Wade.
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Histórico
Nos EUA, a interrupção voluntária da gravidez foi legalizada desde 1973, a partir de uma sentença da Suprema Corte intitulada “Roe vs. Wade”. No mesmo ano em que foi aprovada, o Senado americano também passou uma emenda, proposta pelo democrata Frank Church, que permitiu aos organismos financiados pelo Estado – leia-se instituições de saúde – se recusarem a praticar o aborto por razões morais e religiosas.
Países com mais restrições ao aborto, de acordo com a associação Reproductive Rights:
Em 1977, uma outra emenda proibiu a utilização de fundos federais para financiar as interrupções voluntárias de gravidez (IVGs), exceto em caso de estupro ou de risco de morte materna. Com isso, o aborto ficou a cargo dos estados, municípios e instituições privadas, dificultando o acesso de pessoas de baixa renda.
Segundo Daguerre, “nos anos 1990, grupos antiaborto cometeram sete homicídios e 17 tentativas de assassinato”. Esses crimes obrigaram o governo f ederal a reprimir a intimidação dirigida a médicos e pacientes. “Em 1994, uma lei foi aprovada para proteger aquelas que buscavam os centros de IVG. Porém nada disso funcionou na prática. Durante a Marcha pela Vida, realizada em Washington em 22 de janeiro de 1995, um dos grupos fundamentalistas, a Coalizão Americana de Ativistas pela Vida, levantou cartaz com os nomes e endereços de treze 'aborteiros'. A partir de então, estes tiveram que viver sob proteção policial permanente. Como os médicos americanos que praticam a IVG são uma minoria – apenas 2% dos ginecologistas –, é muito fácil identificá-los”.
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