Quase três crianças são feridas a cada hora na Faixa de Gaza pelos ataques de Israel contra os palestinos, que começaram há oito dias. Os dados são da organização humanitária Save The Children (salvem as crianças, em tradução livre) e foram publicados neste domingo (16/05).
“Quantas famílias mais precisam perder seus entes queridos antes que a comunidade internacional entre em ação?”, indagou o diretor da Save the Children na Palestina, Jason Lee em nota. “Para onde as crianças podem correr quando ataques aéreos choverem em suas casas?”
Na última semana, pelo menos 58 crianças foram mortas e mais de mil pessoas no território, incluindo 366 crianças, também ficaram feridas.
A nota da organização traz o relato de uma criança palestina de 10 anos, cujo nome foi omitido para preservar sua identidade: “Cada vez que há um ataque aéreo, ficamos com medo. Cada vez que tentamos sair, quando chegamos à porta da frente, há outro ataque aéreo e corremos para dentro o mais rápido que podemos. Cada vez que coloco minha cabeça no travesseiro, há outro ataque aéreo e eu acordo apavorado”.
“Famílias em Gaza e nossa equipe estão nos dizendo que eles estão no limite – eles estão vivendo no inferno sem nenhum lugar para buscar refúgio e aparentemente sem fim à vista”, disse Lee.
A Save The Children também informou que os serviços de resgate e médicos, além das infraestruturas civis, estão “no limite”. Isso porque, além dos bombardeios, Israel fechou a fronteira pela qual entra o combustível, de forma que Gaza deve ficar sem suprimentos de energia e eletricidade, segundo a nota.
Sem energia, informa a organização, a entrega de insumos essenciais para tratamentos de emergência fica impossibilitada e crianças doentes ou feridas não podem deixar a região para fazer um tratamento.
A ONG lembra ainda que muitos desses serviços na Faixa de Gaza já estavam no limite antes mesmo dos ataques recentes. De acordo com a ONU, o último dano à infraestrutura deixou 480 mil pessoas em Gaza com acesso limitado ou nenhum acesso à água.
@UNFPAPalestine
Organização afirma que serviços médicos e de resgate estão no limite
Israel não permite o funcionamento de corredores humanitários
O diretor da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), Matthias Schmale, disse à emissora Al Jazeera que Israel não permitiu a criação de corredores humanitários durante os ataques.
Corredores humanitários são zonas sem militarização destinadas a passagem segura de ajuda humanitária para fora de uma região militarmente ocupada, como é o caso do território palestino. A configuração é prevista no Direito Humanitário Internacional.
Ele explicou ainda que em 2014, durante outra ofensiva militar de Israel a territórios palestinos, existiam os corredores onde a agência podia se “movimentar entre as instalações e trazer o material”.
“Eles também estão atingindo muito perto de nossa instalação, então o entendimento que tínhamos no passado, de manter alguma distância em nossa instalação, não está sendo respeitado o suficiente”, declarou.
Início das hostilidades de Israel
A violência recente de Israel contra palestinos caminha para o 8º dia consecutivo. A região de Jerusalém Oriental vem sendo palco de uma repressão de forças israelenses que se intensificou nos dias 8 e 9 de maio, depois que a polícia lançou balas de borracha e granadas de choque contra a mesquita de Al-Aqsa. Em resposta, o partido político palestino Hamas lançou foguetes perto de Jerusalém, e em 10 de maio, começaram os primeiros ataques aéreos de Israel.
Um dos pontos centrais da escalada de tensão foi a decisão de um tribunal israelense de despejar 28 famílias palestinas do bairro Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, para dar lugar a colonos israelenses. Revoltados, os palestinos foram às ruas para protestar.
Outro ponto que despertou descontentamento da comunidade palestina que vive na região foi uma marcha convocada por grupos nacionalistas de Israel para celebrar o “Dia de Jerusalém”, data que marca a ocupação de Jerusalém Oriental por forças israelenses.
Os palestinos vivem sob ocupação militar desde a vitória de Israel na Guerra dos Seis Dias, contra Síria, Egito, Jordânia, Líbano e Iraque, em 1967. A violência israelense contra territórios palestinos, no entanto, se inicia com a criação do Estado de Israel, em 1948. Foi nesse ano que, em 15 de maio, ocorreu o “nakba”, palavra em árabe que significa catástrofe. A data remete ao episódio em que parte da população palestina foi expulsa de suas casas e teve que buscar refúgio em outros países.