Milhares de chilenos foram às ruas em diversas cidades do país nesta segunda-feira (18/10) para participar de manifestações que marcaram o segundo aniversário dos protestos de outubro de 2019, jornada que mobilizou o país durante meses e deu origem à Assembleia Constituinte do Chile.
Apesar de estar inspirada na revolta social de 2019 – que tinha como reivindicações a desprivatização da saúde, da educação e da previdência social –, a jornada desta segunda não foi marcada tanto por demandas conjunturais, mas sim por um alvo político mais evidente: o presidente Sebastián Piñera.
Segundo organizações sociais que convocaram os atos desta segunda-feira, pelo menos 300 mil pessoas participaram das marchas em Santiago, capital chilena, e cerca de 50 mil se mobilizaram em diferentes cidades do país como Valparaíso, Antofagasta, Concepción e outras. Já a polícia chilena deu uma estimativa de apenas 40 mil pessoas na manifestação realizada na capital.
O mandatário chileno sempre foi criticado em protestos no país nos últimos dois anos, mas desta vez ele enfrenta um processo de acusação constitucional, similar ao do impeachment no Brasil, que foi iniciado recentemente na Câmara dos Deputados.
Piñera se tornou alvo após o escândalo dos chamados Pandora Papers, que revelou um contrato secreto pelo qual ele vendeu ações de uma empresa mineradora através de contas no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, o qual tinha uma cláusula que fazia com que a negociação só fosse válida se o governo chileno (comandado por ele) não aplicasse maiores restrições ambientais à região onde a empresa iria operar, relação que está sendo investigada pelos deputados como possível uso do poder em benefício próprio.
As manifestações desta segunda ainda contaram com uma homenagem aos chamados “presos políticos da revolta”: cerca de duas mil pessoas que estão em prisão preventiva desde 2019, sem uma sentença definitiva, algumas delas indiciadas por suposto delito de terrorismo. Também foram lembradas as mais de 400 vítimas de traumas oculares, incluindo os casos de Gustavo Gatica e Fabiola Campillay, que perderam a visão dos dois olhos por causa da ação repressiva da polícia chilena durante as manifestações de dois anos atrás.
Wikicommons
Jornada de 2019 mobilizou o país durante meses e deu origem à Assembleia Constituinte do Chile
“Ainda não chegou o Chile da justiça social que nós queríamos, temos que continuar nas ruas, e com cuidado, porque a violência policial vai ser a mesma de antes ou pior”, afirmou Gatica, em uma entrevista a meios locais, durante a marcha desta segunda.
A principal consequência da revolta social de outubro de 2019 foi a instalação da primeira Assembleia Constituinte da história do Chile, eleita em maio deste ano e empossada em julho, com a missão de escrever a nova Carta Magna, que substituirá a que foi imposta em 1980 pelo ditador Augusto Pinochet.
Eleições presidenciais no Chile
Além da Constituinte e do processo que poderia levar à destituição do presidente Sebastián Piñera, o Chile também vive atualmente uma campanha presidencial que está bastante equilibrada.
O líder da disputa, segundo as pesquisas mais recentes, é Gabriel Boric, candidato da coalizão progressista que reúne a Frente Ampla, o Partido Comunista e a Frente Regionalista Verde. Segundo pesquisa publicada pela Activa Research no último sábado (16/10), Boric tem 21,3% das intenções de voto.
A pesquisa também mostra o candidato de extrema direita José Antonio Kast em segundo lugar com 16,3%. Além de estar cinco pontos atrás de Boric, ele está tecnicamente empatado com a democrata cristã Yasna Provoste, que tem 13,1%. O governista Sebastián Sichel, que perdeu mais de dez pontos desde setembro, aparece com apenas 7,5%.
O crescimento de Kast nas pesquisas chama a atenção, já que se trata de uma candidatura baseada no ódio aos imigrantes e na defesa do governo de Jair Bolsonaro como modelo que pretende instalar no Chile.
O primeiro turno das eleições presidenciais do Chile acontecerá no dia 21 de novembro. Um provável segundo turno tem data marcada para o dia 19 de dezembro.