O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta segunda-feira (15/11) da Conferência de Alto Nível da América Latina no Parlamento Europeu, em Bruxelas, capital da Bélgica.
Durante a sessão, promovida pelo social-democrata, Lula fez um discurso, bastante aplaudido pelos presentes, em que destacou as dificuldades da atual conjuntura mundial e as os motivos pelo qual se considera otimista.
“Não nasci otimista – aprendi a ser. Porque vi em vários momentos da minha vida o quanto um ser humano é capaz de realizar, e o quanto um povo é capaz de construir, quando existe força de vontade e geração de oportunidades”, afirmou Lula, num dos trechos do discurso. Lula também pontuou a importância do combate à fome: “A verdade é que não é possível sermos felizes enquanto milhões de crianças ao redor do mundo vão dormir esta noite com fome, e acordarão amanhã sem saber se terão o que comer”.
Também estiveram na conferência José Luis Rodríguez Zapatero, ex-primeiro ministro da Espanha (2004-2011), e Claudia Nayibe López Hernández, prefeita de Bogotá, Colômbia, entre outras lideranças políticas internacionais.
Leia abaixo a íntegra do discurso de Lula:
Eu vou começar quebrando o protocolo e falando o nome de um companheiro, que me dá muita alegria ver sua presença aqui, o nosso querido companheiro Rafael Correa, ex-presidente do Equador. Bom te ver, Rafael.
Quero cumprimentar a companheira Iratxe García, presidente do grupo de socialistas e democráticos do Parlamento Europeu, o querido companheiro José Luis Zapatero, ex-primeiro ministro da Espanha, a companheira Claudia Pardo, prefeita da Cidade do México, que parece que vai falar aqui numa gravação, Pedro Marques, vice-presidente do grupo SD, companheira Maria Manuel Leitão Marques, coordenadora da Assembleia Eurolat, companheiro Javi López, copresidente da Assembleia Eurolat, companheiro Pedro da Silva Pereira, vice-presidente do Parlamento Europeu, e Andreas Schieder, copresidente do Fórum Progressista Mundial.
Quero cumprimentar alguns companheiros brasileiros que vieram na minha delegação: o companheiro Aloísio Mercadante, ex-senador, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, ex-ministro da Educação e ex-ministro-chefe da Casa Civil, ex-líder do governo, ex-deputado federal, ex-economista da Unicamp, ex-assessor do movimento sindical e um grande companheiro hoje, presidente da Fundação Perseu Abramo. Quero cumprimentar o companheiro Celso Amorim, embaixador, que foi ministro no tempo em que Itamar Franco era presidente da República, e foi por oito anos meu chanceler, depois ministro da Defesa da Dilma. Quero cumprimentar o querido Humberto Costa, companheiro do meu partido, senador da República. Quero cumprimentar o companheiro Arlindo Chinaglia, deputado federal médico pelo Partido dos Trabalhadores.
Meus queridos companheiros e queridas companheiras, as primeiras palavras são de agradecimento. Agradecimento e reconhecimento da solidariedade extraordinária que vocês tiveram, enquanto campo progressista aqui neste parlamento, na luta contra o golpe que foi dado na presidenta Dilma Rousseff, com um impeachment que não tinha nenhuma motivação, e depois com a minha prisão, nos processos contra o PT, os processos contra mim e contra outros companheiros, e no final a minha proibição de ser candidato a presidente da República em 2018 e, possivelmente, o impedimento de nosso partido de voltar a governar o Brasil.
É importante apenas um reconhecimento que há uma razão pela qual uma parte da elite brasileira, sobretudo a elite política e a elite econômica, tem um problema sério em relação ao PT. É que o PT, com apenas nove anos de existência, na sua primeira disputa à presidência da República, o PT foi o segundo colocado, em 1989. Em 1994, o PT foi novamente o segundo colocado. Em 1998, o PT foi outra vez o segundo colocado. Em 2002, o PT foi o primeiro colocado. Em 2006, o PT foi o primeiro colocado. Em 2010, outra vez, o PT foi o primeiro colocado. Em 2014, o PT outra vez foi o primeiro colocado. Em 2018, o PT seria outra vez o primeiro colocado. Lamentavelmente, eu fui proibido de concorrer, e o companheiro Fernando Haddad foi outra vez o segundo colocado. E nós estamos trabalhando fortemente, Rafael, para que em 2002 sejamos outra vez o primeiro colocado e possamos recuperar a democracia no nosso país.
Não tem como eu agradecer o que vocês fizeram por nós, pela democracia, pela luta do PT e das forças progressistas do Brasil. Meus parabéns a vocês, e eu espero que nunca seja necessário retribuir solidariedade a vocês, porque eu espero que vocês nunca sejam vítimas das atrocidades que eu fui no Brasil, que Rafael foi no Equador, que Lugo foi no Paraguai, que Evo foi na Bolívia, que outros companheiros que são perseguidos no nosso continente.
Quero dizer para vocês que tenho a honra de ter feito política no meu país no mais importante momento momento da esquerda e dos setores progressistas em toda a história da América Latina. No nosso tempo de governo, eu tive o privilégio de ser presidente do Brasil com Lagos e depois Michelle Bachelet na presidência do Chile, com Kirchner e depois Cristina na Argentina, com Tabaré e depois Pepe Mujica na presidência do Uruguai, com o companheiro Lugo na presidência do Paraguai, com Rafael na presidência do Equador. Mesmo os companheiros da direita de alguns países, por exemplo, da Colômbia, participavam ativamente das políticas da Unasul, tive o prazer de, junto com os companheiros, criar a Unasul, criar a Celac, expulsar a Alca da América do Sul, e fortalecer o Mercosul, e tive o prazer de viver o mais importante momento de ascensão social do povo pobre da América do Sul e da América Latina. Essa é uma conquista que devemos agradecer a todos os presidentes que governaram junto conosco. O Rafael sabe porque ele foi afastado da política do Equador. O Rafael sabe porque ele era perseguido, porque no mundo latino-americano, em toda a história da América Latina, todos os presidentes ou governantes que resolveram ousar e dar ao pobre o direito de trabalhar, o direito de comer, o direito de estudar, o direito de ser respeitado, ou foram assassinados, ou foram perseguidos politicamente.
Qual é a razão para a perseguição ao companheiro Evo Morales? Ah, o Evo não poderia concorrer a um quarto mandato? É muito engraçado, no regime presidencialista, só o Roosevelt concorreu a quatro mandatos. Mas no restante do mundo, todo mundo que pensa num terceiro mandato já é considerado um ditador… E no parlamentarismo, as pessoas governam dezesseis anos. Angela Merkel acaba de completar 16 anos no governo. Margaret Thatcher, Helmut Kohl, toda essa gente fica dezenas e dezenas de anos e não é ditadura, não é autoritarismo. Somente quando um de nós tenta concorrer a um terceiro mandato… Eu tô muito à vontade para falar, porque na época eu tinha 87% de bom e ótimo nas pesquisas e queriam aprovar um terceiro mandato para mim, eu não aceitei. Eu disse em alto e bom som que o Brasil tinha de ter alternância de poder e tinha que eleger outros companheiros.
Logicamente, eu nunca imaginei que o Brasil fosse eleger uma pessoa como Bolsonaro para presidir. Nunca me passou pela cabeça. De qualquer forma, se nós temos alguma responsabilidade, enquanto esquerda, enquanto progressistas, de alguns setores à direita governarem o nosso país, nós temos agora o compromisso de tirá-los e devolver a democracia e o bem estar social para o nosso povo.
Queria agradecer o convite do Parlamento Europeu. Sinceramente, eu não sei se estou habituado. Faz muito tempo que eu não participo de uma atividade com esta, companheiro Zapatero. Estou aqui fazendo um aprendizado, porque durante 580 dias na cadeia, eu não pude nem dar entrevista. E depois que eu saí da cadeia, eu fui visitar o papa, fui a Berlim, fui à França, e depois eu entrei no lockdown. Depois eu fiquei em casa quase dois anos, por conta da pandemia. Agora que estou conseguindo fazer meu primeiro pronunciamento sem máscara. Isso é muito importante, porque a máscara me aprisiona.
Eu estou com muita vontade, mas muita vontade, Rafael, de viajar pelo Brasil, falando outra vez com o povo brasileiro sobre a importância do Brasil para o mundo e para a democracia. Queridos companheiros e companheiras, eu estou com o discurso escrito, espero que o tradutor não se canse, vou tentar ler 'de espacio' (lentamente, em espanhol), para que ele possa entender direito e a gente possa trabalhar em harmonia. Eu já vi em muito discurso o orador brigar com o tradutor. Então eu prometo que não tem nenhuma confusão aqui, até porque eu não estou escutando a sua tradução, os outros é que vão escutar.
Queridos companheiros e companheiras, deputados e deputadas do Parlamento Europeu: eu quero começar falando não da América Latina, nem da União Europeia, nem de algum país, continente ou bloco econômico em particular, e sim do vasto mundo em que vivemos todos nós – latino-americanos, europeus, africanos, asiáticos, seres humanos das mais diferentes origens.
Vivemos em um planeta que tenta a todo momento nos alertar de que precisamos de novas atitudes e de uns dos outros para sobreviver. Que sozinhos estamos vulneráveis às tragédias ambientais, sanitárias e econômicas. Mas que juntos somos capazes de construir um mundo melhor para todos nós.
No entanto, ignoramos esses alertas. Insistimos em não aprender com os erros do passado.
O resultado da nossa falta de compreensão está à vista de todos: pandemia, desigualdade, fome, emergências climáticas que no futuro próximo poderão comprometer a sobrevivência da espécie humana no planeta Terra.
Apesar de tudo isso, quero reiterar aqui minha crença inabalável na capacidade da humanidade.
Não nasci otimista – aprendi a ser. Porque vi em vários momentos da minha vida o quanto um ser humano é capaz de realizar, e o quanto um povo é capaz de construir, quando existe força de vontade e geração de oportunidades.
Quem vive hoje no Brasil, ou acompanha o noticiário sobre o país, tem todos os motivos para estar pessimista. Mas onde quer que eu vá, faço questão de dizer: o Brasil tem jeito – apesar do projeto de destruição colocado em prática por um bando de extremistas de direita sem a menor noção do que seja cuidar de um país ou cuidar de um povo.
O Brasil tem jeito, apesar dos 19 milhões de brasileiros que passam fome. Apesar dos 19 milhões de desempregados e desalentados, que já desistiram de procurar um novo emprego. Apesar dos ataques constantes contra a população negra e indígena. Apesar do avanço da destruição do meio ambiente, inclusive na Amazônia.
E apesar, sobretudo, das mortes de mais de 610 mil brasileiros, muitas delas evitáveis – caso houvesse por parte do atual governo o interesse em combater com seriedade o coronavírus.
Apesar de tudo, digo com total convicção: o Brasil tem jeito. Sei disso porque num passado muito recente nós fomos capazes de reconstruir e transformar o país, e temos plena capacidade de reconstruí-lo outra vez.
Da mesma forma que acredito que o Brasil tem jeito, acredito que o mundo tem jeito. Apesar dos 750 milhões de pessoas que passam fome, apesar dos 5 milhões de mortos pela Covid-19, apesar da desigualdade que não para de crescer, apesar dos conflitos étnicos, religiosos e geopolíticos que não raro alimentam as guerras.
Como disse no início desta fala, meu otimismo não nasce do acaso, mas da experiência. Acredito que a humanidade tem jeito porque estou aqui hoje, neste Parlamento Europeu, reunido com representantes de países que em meados do século 20 eram inimigos ferozes no campo de batalha, numa das maiores carnificinas da história da humanidade.
60 milhões de pessoas morreram na Segunda Guerra Mundial. É bem provável que os antepassados de vocês tenham lutado em lados opostos. Que tenham matado, morrido e sofrido na pele as atrocidades da guerra.
Vocês e seus países teriam, portanto, razões para se odiarem uns aos outros. No entanto, são protagonistas de uma das mais extraordinárias experiências da história moderna, que foi a construção da União Europeia.
Vocês estão hoje aqui, neste Parlamento Europeu, em clima de paz, buscando juntos soluções para a construção de uma Europa melhor.
Conhecemos o imenso poder de destruir que o ser humano tem em suas mãos, e que ele tantas vezes não hesitou em usar. Mas não podemos jamais esquecer que a humanidade tem também uma extraordinária capacidade de construir e reconstruir.
Ricardo Stuckert/Divulgação
Lula discursa no Parlamento Europeu, em Bruxelas
A União Europeia, o Parlamento Europeu e vocês, companheiros e companheiras, eurodeputados e eurodeputadas, são portanto exemplos dessa virtude humana. A União Europeia não é perfeita, como nada é, mas é um patrimônio da humanidade, como exemplo de cooperação e construção da paz entre os povos.
Senhoras e senhores deputadas e deputados, somos 7 bilhões e seiscentos milhões de seres humanos habitando este planeta. Homens, mulheres, crianças e velhos, ricos e pobres, pretos e brancos, gente de todas as cores.
Cada um de nós carrega dentro de si o seu universo particular. Somos diferentes uns dos outros, cada qual com sua individualidade, mas unidos todos por uma certeza ancestral: o ser humano não nasceu para ser sozinho. O que me faz lembrar do pequeno trecho de uma das grandes obras primas da Bossa Nova, esse gênero musical brasileiro tão ouvido no mundo, que conquistou muitos de vocês. Um verso que dizia o seguinte: “É impossível ser feliz sozinho.” Isso é do nosso querido Antônio Carlos Jobim, um dos músicos mais extraordinário do nosso continente.
A verdade é que não é possível sermos felizes enquanto milhões de crianças ao redor do mundo vão dormir esta noite com fome, e acordarão amanhã sem saber se terão o que comer.
Não é possível sermos felizes em meio a tamanha desigualdade, que cresceu de forma inaceitável em plena pandemia. Os ricos ficaram muito mais ricos e os pobres, ainda mais pobres.
A desigualdade entre ricos e pobres manifesta-se até mesmo nos esforços para a redução das mudanças climáticas. O 1 por cento mais rico da população do planeta vai ultrapassar em 30 vezes o limite necessário para evitar que um aumento da temperatura global ultrapasse a meta de 1,5 grau centígrado até 2030.
O 1 por cento mais rico, que corresponde a uma população menor que a da Alemanha, está a caminho de emitir 70 toneladas de gás carbônico per capita por ano.
Enquanto isso, os 50 por cento mais pobres do mundo emitirão, em média, apenas uma tonelada per capta por ano, segundo estudo produzido pela ONG Oxfam e apresentado na semana passada na COP 26.
A luta pela preservação do meio ambiente para mim é indissociável da luta contra a pobreza e por um mundo menos desigual e mais justo.
Queridas deputadas e deputados, é preciso deixar bem claro que o otimismo, a esperança e a fé não podem ser jamais sinônimos de resignação. Por conta disso, eu me considero um otimista indignado.
Em 2009, os países ricos se comprometeram em aumentar para 100 bilhões de dólares ao ano, a partir de 2020, a contrapartida para os países em desenvolvimento preservarem a natureza e enfrentarem as mudanças climáticas. Esse compromisso não foi cumprido, e agora está sendo postergado para mais dois anos, ou seja, a partir de 2023, a transferência de 100 bilhões ao ano para enfrentar a emergência climática.
Iniciativa louvável, que merece ser celebrada. Mas não podemos esquecer que na crise de 2008, só os Estados Unidos destinaram 700 bilhões de dólares para salvar da falência bancos que de forma irresponsável investiram em títulos imobiliários podres.
Na mesma época, o G-20 destinou mais 1,1 trilhão de dólares aos países emergentes e ao comércio mundial, para combater os efeitos da crise.
É preciso lembrar também que os Estados Unidos gastaram 8 trilhões de dólares nas guerras pós-11 de setembro. Quantia suficiente para eliminar a fome no mundo e preparar o planeta para lidar melhor com as mudanças climáticas. E que no entanto foi usada para custear a morte direta de mais de 900 mil pessoas em países como Iraque, Afeganistão, Síria, Iêmen e Paquistão. Sem contar as mortes provocadas pela perda de água, esgoto e infraestrutura relacionadas às guerras.
Ou seja, não faltam recursos para salvar bancos e para causar a morte ou o deslocamento forçado de milhões de seres humanos. Mas na hora de salvar vidas humanas ou o próprio planeta em que vivemos, a solidariedade dos países ricos é às vezes dezenas de vezes menor.
Senhoras e senhores, uma das maiores alegrias que tive quando presidente do Brasil, e mesmo depois de deixar a Presidência, foi percorrer o mundo, a convite dos mais diferentes países, para falar dos nossos extraordinários avanços econômicos e sociais.
Tive a honra de ser presidente do Brasil quando o país foi a 6ª maior economia mundial. E de fazer do país um exemplo para o mundo de como é possível superar a extrema pobreza e a fome, com total respeito à democracia, em um curto espaço de tempo.
Vocês podem, portanto, imaginar o quanto dói participar de grandes eventos internacionais como este e ter que declarar o quanto o Brasil andou para trás desde o golpe de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e a chegada da extrema direita ao poder.
O Brasil vive hoje uma tragédia social, econômica, ambiental e sanitária sem precedentes. Temos apenas 2,7 por cento da população mundial. No entanto respondemos por 12 por cento das mortes por Covid registradas no mundo.
Choramos a morte de mais de 610 mil brasileiros. Não chegamos a essa trágica estatística por alguma fatalidade, e sim pela atitude criminosa do atual governo.
O atual presidente ironizou a gravidade da doença. Zombou dos mortos. Atrasou o quanto pôde a compra das vacinas. Fez propaganda enganosa e distribuiu medicamentos comprovadamente ineficazes contra o vírus.
Deixou faltar oxigênio em hospitais. Incentivou e promoveu aglomerações. Induziu a população à desconfiança quanto à eficácia das máscaras. Ajudou a espalhar fake news contra as vacinas, chegando a dizer que elas podem levar as pessoas com HIV a desenvolverem AIDS.
Experiências com medicamentos ineficazes, usando seres humanos como cobaias involuntárias, chegaram a ser realizados no Brasil, reeditando os horrores do nazismo.
Além disso, cerca de 116 milhões de brasileiros, metade da nossa população, vive hoje em situação de insegurança alimentar, de moderada a muito grave. Desses, cerca de 19 milhões, quase duas vezes a população da Bélgica, chegam a passar um dia inteiro sem ter o que comer.
Isso está acontecendo no Brasil, que é o terceiro maior produtor mundial de alimentos.
E está acontecendo porque o Brasil, que em 2014 saiu do Mapa da Fome da ONU pela primeira vez na história, hoje copia o que o neoliberalismo trouxe de pior ao mundo: alta concentração de renda, baixa geração de empregos, destruição de direitos trabalhistas, desmonte das políticas sociais, ausência do Estado, abandono dos mais pobres à própria sorte.
O resultado dessa trágica equação não poderia ser outro: miséria, fome, desesperança.
Mas eu estou aqui para dizer outra vez a vocês e ao mundo: o Brasil tem jeito. Porque ele é muito maior do que qualquer pessoa que tente destruí-lo.
O Brasil é o país que num passado muito recente encantou o mundo com as suas políticas inovadoras, que retiraram da extrema pobreza 36 milhões de pessoas – o equivalente à soma das populações inteiras de Portugal, Suécia, Dinamarca e Irlanda.
O Brasil é o país que assumiu voluntariamente diante do mundo o compromisso de reduzir em 75 por cento o desmatamento na Amazônia, como forma de conter a emissão de gases poluentes.
E cumprimos antecipadamente nossa promessa – entre 2004 e 2012, nós, de fato, reduzimos em 80 por cento o desmatamento da Amazônia, contribuindo para minimizar o avanço das mudanças climáticas.
Infelizmente, os países ricos, justamente os principais responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa, não cumpriram a sua parte. Talvez porque ainda tenha gente rica que acredite que tenha como se proteger, e que as mudanças climáticas afetarão com maior intensidade os mais pobres, o que é a triste realidade.
Mas o que eles esqueceram é que todos nós – ricos e pobres – precisamos do mesmo oxigênio para respirar, precisamos de água limpa para sobreviver, precisamos de um planeta saudável, onde nossos filhos possam viver com saúde e paz.
Queridos companheiros e queridas companheiras, felizmente, essa era de trevas que se abateu sobre o planeta, por conta da ascensão de governos de extrema direita pelo mundo afora, emite claros sinais de que está chegando ao fim.
Partidos e candidatos progressistas vêm conquistando importantes vitórias. Isso está acontecendo em vários países, e estou certo de que vai acontecer também no Brasil, a partir da eleição presidencial do próximo ano.
O Brasil voltará a ser uma força positiva no mundo. Voltaremos a ser criadores de políticas públicas capazes de mudar para melhor o nosso planeta.
Acreditamos num mundo multipolar. Voltaremos a ter uma política externa altiva e ativa. Vamos fortalecer o Mercosul, reconstruir a União de Nações Sul-Americanas, a Unasul, e ampliar nossas parcerias com a União Europeia.
Vamos aperfeiçoar os termos do acordo Mercosul-União Europeia. Não queremos uma América Latina voltada exclusivamente para o agronegócio e a mineração. Temos total capacidade de sermos países industrializados, tecnologicamente avançados.
O acordo hoje se encontra paralisado, por conta da desconfiança de países europeus quanto ao cumprimento dos compromissos ambientais assumidos pelo governo brasileiro.
Nós temos imensas extensões de terras agricultáveis, temos tecnologia, pesquisas agropecuárias avançadas. Nossa produção de alimentos não precisa desmatar a Amazônia para exportar soja ou criar gado. As atividades criminosas dos que destroem o meio ambiente devem ser punidas, e não podem prejudicar toda a economia brasileira.
Temos uma biodiversidade extraordinária, e os nossos biomas haverão de se regenerar após a extinção do atual governo, que estimula o desmatamento e as queimadas, o avanço do garimpo em terras de proteção ambiental e os ataques aos povos indígenas.
O povo brasileiro não quer que essa destruição continue. Os brasileiros querem a Amazônia viva e de pé. E para isso, é necessário construir alternativas sociais e de desenvolvimento, com ciência, tecnologia e o protagonismo e respeito aos povos que vivem na floresta, a seus saberes e a sua cultura.
Meus amigos e minhas amigas, acreditamos num mundo cada vez mais plural, unido em torno de valores como solidariedade, cooperação, humanismo e justiça social. Acreditamos numa nova governança mundial, começando pela ampliação do Conselho de Segurança da ONU, e vamos continuar lutando por ela.
Acreditamos que somos capazes de construir no mundo uma economia justa, movida a energia limpa, sem a destruição do meio ambiente e livre da exploração desumana da força de trabalho.
Acreditamos que outro Brasil é possível, outra Europa é possível e outro mundo é possível – porque, num passado muito recente, fomos capazes de construí-lo.
Nós podemos ser felizes juntos. E seremos. Por isso, a esquerda e os socialistas do mundo inteiro precisam se unir e discutir aonde e em que momentos cometemos alguns erros e porque a extrema direita se fortaleceu tanto em alguns países. E nós temos que ir para a rua para derrotá-los, porque o mundo não suporta mais fascismo, o mundo não suporta mais nazismo, o mundo precisa de democracia, o mundo precisa de paz e não de guerra, o mundo precisa de livros e não de armas, o mundo precisa de amor e não de ódio. E esse mundo, nós seremos capazes de construir.
Um abraço e muito obrigado.
(*) Com informações da Revista Fórum.