Quase um ano e meio após a prisão de Alex Saab, empresário colombiano naturalizado venezuelano e possuía credenciais diplomáticas de Caracas, familiares e ativistas se mobilizam para pedir sua liberdade.
Em conferência realizada na capital venezuelana nesta sexta-feira (19/11), a esposa do empresário, Camila Fabri, que encabeça o movimento “Free Saab”, disse que seu marido foi preso e extraditado por ter “enfrentado as sanções dos EUA contra a Venezuela”.
“Saab viajava em nome da Venezuela para trazer insumos, principalmente durante a pandemia. Meu marido foi sequestrado por tentar enfrentar as sanções”, disse.
O empresário foi preso em Cabo Verde em junho de 2020. Ele estava de viagem a serviço do governo da Venezuela e foi detido a pedido da Interpol durante uma parada técnica do avião que o transportava no país africano. Após meses pedindo sua extradição, os EUA conseguiram levar Saab em outubro deste ano para uma prisão na Flórida.
A justiça norte-americana acusa Saab de lavagem de dinheiro em uma operação de compra de alimentos no exterior para as lojas Clap, que fazem parte da rede de abastecimento alimentar da Venezuela. Há acusações contra Saab também na Colômbia, que alegam que o empresário era supostamente um “testa de ferro” do governo venezuelano em transações internacionais. Além disso, o cidadão naturalizado venezuelano foi alvo de sanções por parte dos EUA em 2019 e teve alguns bens congelados.
Para a esposa de Saab, as sanções foram aplicadas porque seu marido era aliado da Venezuela e se recusava a condenar o país.
“Eu me lembro que, quando ele foi sancionado, em 2019, a notificação dizia que se ele mudasse seu comportamento as sanções seriam retiradas. Isso prova que falar bem ou defender a Venezuela é um mau comportamento para os EUA”, disse Fabri.
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Saab foi preso em Cabo Verde e extraditado para os EUA
Questionada por Opera Mundi sobre as condições de prisão de Saab e se teme que o empresário revele informações sigilosas sobre negociações do governo venezuelano, Fabri disse que, durante o período que esteve preso em Cabo Verde, seu marido foi orientado a se posicionar contra o presidente Nicolás Maduro, mas que nos EUA, esse “tipo de pressão ainda não aconteceu”.
“Quando estava em Cabo Verde, constantemente iam à sua cela agentes supostamente cabo-verdianos, mas que falavam um inglês perfeito, com certeza treinados pelos Estados Unidos, pedindo que assinasse sua extradição e que falasse mal do governo de Maduro”, afirmou.
Ao lado do ativista norte-americano Harris Rogers e da advogada Laila Tajeldine, ambos membros do movimento que pede a libertação de Saab, Fabri rechaçou todas as acusações feitas contra seu marido e disse que a missão dele era “humanitária”.
“O sequestro de Saab é grave para a estabilidade mundial e marca mais um episódio de violação humanitária pelos Estados Unidos”, disse.
A extradição do empresário teve reflexos políticos internos na Venezuela. Como uma tentativa de ampliar a campanha pela libertação de Saab, o governo o havia incluído como delegado na mesa de diálogo com a oposição que se iniciou no México, em setembro deste ano.
Entretanto, após a Justiça norte-americana levar Saab aos EUA, Caracas reagiu e suspendeu sua participação nas negociações com os opositores.
Em pronunciamento à época, o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e chefe da delegação venezuelana nas negociações com a oposição, Jorge Rodríguez, classificou a extradição como um “sequestro” e disse que a ausência na rodada de diálogos é uma forma de protesto, já que Saab integrava a equipe de negociações do governo.