O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou neste sábado (20/11) sua turnê pela Europa com um ato público em Madri, capital espanhola. Segundo o próprio petista, a viagem tinha o objetivo de reforçar a importância do Brasil a nível mundial.
“Essa viagem foi uma tentativa de provar para o próprio povo brasileiro que o mundo gosta do Brasil. Não é o Lula que é importante, é o Brasil que é necessário para o mundo. Não se discute crise climática sem o Brasil, não se discute combate à desigualdade mundial sem o Brasil”, afirmou.
Recebido a gritos de “Lula, guerreiro do povo brasileiro” e “Brasil, presente. Lula presidente”, ele reforçou estar convencido de que é possível recuperar o país e suas relações internacionais, bastante deterioradas pelo atual governo, e revelou que sua ideia de realizar uma viagem internacional veio da época em que foi solto: “Comecei a pensar que era preciso começar no mundo uma luta contra a desigualdade”.
Ele agradeceu todos os líderes que o receberam nas últimas semanas. Desde o presidente francês, Emmanuel Macron, até o líder do partido social-democrata alemão e provável novo chanceler do país, Olaf Scholz, e o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, com quem se reuniu na última sexta-feira (19/11) no Palácio da Moncloa. E fez um chamamento à esquerda europeia, institucional e militante, a colocar a desigualdade social, agravada com a pandemia, no centro do debate político.
“Vamos ter que voltar a colocar em pauta os direitos elementares do ser humano. Como é possível um mundo que produz mais do que consome ter gente passando fome? Como podemos ter pessoas sem proteção trabalhista, sem sindicato? Pessoas fugindo de seus países sem ter onde se refugiar? É por isso que a igualdade tem que ser uma bandeira da esquerda. Até porque faminto não faz a revolução, está fragilizado, então nós temos que estender a mão a eles”, defendeu.
Lula também apontou outras lutas em comum que a esquerda europeia e brasileira têm. Por exemplo, contra a crise climática. Ele ressaltou que a Amazônia deve ser o foco dos esforços mundiais de preservação ambiental, mas ponderou que o problema ambiental vai além da floresta: “Temos que olhar para as comunidades, as favelas, a falta de saneamento básico, esgoto e água potável, a contaminação dos solos e dos rios”.
Eleições de 2022
Por fim, Lula comentou sobre sua candidatura. Disse que ainda não decidiu se lançar como candidato, mas que deve defini-lo entre fevereiro e março do ano que vem. “A questão é que eu não posso fazer menos do que já fiz. Se eu for voltar para fazer menos, é melhor nem voltar”, refletiu.
Por outro lado, admitiu que nasceu para a luta, e “quem nasce para a luta não sabe tomar mais só conta de si”, também confessando que a solidariedade que recebeu enquanto estava sendo julgado e depois na cadeia inspiram-no a querer retornar à política institucional.
Camila Alvarenga/Opera Mundi
Em seu último evento na Europa, Lula participou de ato público em Madri
No entanto, ele discorreu sobre o desafio que representa 2022. Sustentou que, para derrotar a direita nas urnas, será preciso analisar seu discurso, pois, apesar dos 617 mil mortos e mais de 20 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar, Bolsonaro ainda conta com cerca de 23% das intenções de voto, segundo a última pesquisa do Ipec.
“Por que a extrema direita voltou a convencer e segue convencendo uma parcela da sociedade? Qual foi a mentira que eles contaram? Como Bolsonaro, que foi um deputado irrelevante durante 28 anos, chegou à Presidência? E isso se estende à Europa: o que faz a França ter agora dois candidatos de extrema direita? Temos que analisar isso, porque não foram só que eles souberam se comunicar bem, houve erros nossos”, avaliou.
Além disso, frisou que outro fator que faz a direita crescer é a “negação da política” e pediu que as pessoas “não desanimem”: “Se vocês acharem que um político não vale nada, não faz nada certo, ainda assim não desistam. Entrem para a política, se mobilizem, mudem a história do país”.
Pablo Iglesias: ‘Lawfare é o novo golpismo’
A fala de Lula foi introduzida por Pablo Iglesias, ex-vice-premiê espanhol e ex-presidente do Podemos, partido de esquerda do país. Ele elogiou o petista, dizendo esperar em breve poder voltar a se referir a ele como atual presidente do Brasil.
Iglesias destacou que Lula foi vítima de lawfare, uma guerra jurídica da qual se utiliza a direita para ganhar, “de forma ilegítima, o que não ganhou nas urnas” com o auxílio da grande mídia, e que levou à sua perseguição e prisão.
“É o novo golpismo, é uma ameaça à democracia. Cabe se perguntar se existe lawfare também na Espanha. Cabe se perguntar se o que aconteceu com Isabel Serra [ex-deputada e porta-voz do Podemos condenada a 19 meses de prisão pelo Tribunal Supremo por protestar contra um ato de despejo em 2014] foi uma montagem judicial e policial. Cabe se perguntar se o que aconteceu recentemente com Alberto Rodríguez [acusado e condenado por agredir um policial em um caso sem provas ou testemunhas, em que o Tribunal Supremo deu credibilidade completa ao agente que realizou a denúncia] foi uma montagem policial e judicial para remover o assento de um deputado eleito pela soberania popular”, refletiu.