Após uma série de reuniões com líderes e atos públicos ao longo da última semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu sua turnê pela Europa neste sábado (20/11). Dadas as reações após os encontros, não só Lula cumpriu com o objetivo de ajudar a restaurar a imagem do Brasil no exterior, como demonstrou que ainda segue sendo uma figura de extrema relevância para o cenário político, mesmo sem ocupar nenhum cargo institucional.
Diversos especialistas vêm destacando o sucesso diplomático da turnê e a imprensa internacional vem corroborando essa teoria. As manchetes dos principais veículos europeus ressaltaram as recepções calorosas ao ex-presidente, comparando-as ao isolamento político de Bolsonaro no cenário internacional.
A emissora e revista online estadunidense Bloomberg, por exemplo, publicou uma matéria intitulada “Lula recebe calorosas boas-vindas europeias, ao contrário de Bolsonaro”. O artigo relembrava que, enquanto Jair Bolsonaro parecia fora de lugar durante a reunião do G20 em Roma, Lula conseguiu marcar uma série de encontros com líderes europeus “de alto perfil”.
Na Europa, o jornal francês Le Monde abria sua seção internacional com a manchete “O ex-presidente brasileiro Lula faz sucesso em turnê pela Europa”, após o encontro do petista com Emmanuel Macron. Não só a publicação francesa ressaltava as honras concedidas ao ex-presidente dignas de um chefe de Estado, como recordava as “relações geladas” entre Macron e Bolsonaro.
O jornal espanhol El País, por sua vez, publicou um artigo de opinião do jornalista Juan Arias sobre “quando os presidentes brasileiros fazem política desde o estrangeiro”. Em que sublinhou que, enquanto Lula já se comporta como um candidato à presidência, Bolsonaro “está solteiro politicamente”.
Ainda na mídia espanhola, o novo jornal digital do grupo espanhol Mediaset, Nius Diario, difundiu a manchete “Tapete vermelho para Lula”. A matéria assinada por Idafe Martín Pérez frisava que a Europa “nunca gostou do presidente populista brasileiro Bolsonaro, mas, pelo contrário, admira Lula”, o que ficou ainda mais claro durante a turnê da última semana.
Alemanha
Retomando a trajetória do ex-presidente, a viagem começou no dia 12/11 com uma visita a Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata alemão, que deve se tornar o próximo chanceler do país.
Após a conferência, o petista destacou em suas redes sociais que tratou da importância de fortalecer a cooperação Brasil-Alemanha durante uma “agradável conversa” com Scholz.
Já o líder social-democrata alemão disse ter ficado “muito satisfeito” com o encontro.
Parlamento Europeu
O ex-presidente prosseguiu sua viagem com um comparecimento perante o Parlamento Europeu, em Bruxelas, no dia 15/11, ao lado da eurodeputada espanhola Iratxe García.
Durante o ato, ao qual compareceram figuras como o ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e Claudia López, prefeita de Bogotá, Lula enfatizou os legados de seu governo e expôs os novos desafios que enfrentará o Brasil nos próximos anos, atacando também ao presidente Jair Bolsonaro: “Representa uma peça da extrema direita fascista”.
Lula disse que o Brasil vive uma “tragédia sem precedentes” desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder, listando uma série de condutas que chamou de “atitudes criminosas” do governo durante a pandemia do novo coronavírus.
Ricardo Stuckert
Lula, durante em palestra em Madri: turnê internacional foi destaque na imprensa
Ainda na Bélgica, o líder petista foi recebido pelo alto representante da União Europeia para política externa, Josep Borrell, com quem abordou a relação do Brasil com o Mercosul, Nicarágua e Venezuela.
Pelo Twitter, Borrell celebrou o “bom intercâmbio sobre as relações entre a União Europeia e a América Latina”.
França
Na França, Lula foi recebido na residência oficial do governo francês, o Palácio do Eliseu, em Paris, com protocolo reservado a chefes de Estado, pelo mandatário Emmanuel Macron no dia 17/11. Isso porque, apesar de a nível ideológico os dois mandatários parecerem ter pouco em comum, com Macron sendo um liberal, o presidente francês é o principal antagonista de Bolsonaro na Europa.
Relembrando que, no passado, Bolsonaro chegou a cancelar uma reunião com Macron para ir ao barbeiro e zombar de insultos misóginos feitos à primeira-dama Brigitte Macron.
O foco do encontro entre o mandatário francês e o petista foi a urgência climática e questões como fome e pobreza. Os dois líderes conversaram também sobre a integração da União Europeia com a América Latina, e Macron elogiou a “coragem política” de Lula.
Em Paris, o ex-presidente ainda se reuniu com a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, e deu uma palestra no Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po).
Espanha
Último país da turnê, Lula se encontrou com o presidente de governo espanhol, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol, no Palácio da Moncloa, onde falou sobre a importância da solidariedade no enfrentamento à extrema-direita. Atualmente, cresce na Espanha a participação política do partido ultraconservador Vox, já a terceira maior força na Câmara dos Deputados.
Já o primeiro-ministro espanhol afirmou que Brasil e Espanha compartilham “fortes laços estruturais e permanentes em diferentes áreas”, com uma avaliação positiva da conferência.
Em Madri, Lula encerrou sua turnê europeia participando de um encontro intitulado “Construir futuro: desafios e alianças populares”. Lula foi elogiado pelos participantes, entre eles, Pablo Iglesias, ex-vice-premiê e ex-líder do Podemos, que se referiu ao petista como “o maior presidente da história do Brasil e futuro presidente”.
O ato também contou com a presença de Joana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda português, que discorreu sobre como o Brasil serviu de “laboratório para a extrema-direita” com o impeachment da a ex-presidenta Dilma Rousseff: “Se Lula ganhar as eleições, vamos poder destruir esse laboratório e dar um golpe na extrema-direita no mundo”.