A organização feminista Las Mélidas denunciou nesta segunda-feira (22/11) um “ataque” das autoridades de El Salvador após o Ministério Público, em conjunto com a Polícia Nacional Civil salvadorenha, entrarem em instalações de sete movimentos sociais.
Segundo a Las Mélidas, que exerce um trabalho com mulheres há cerca de 29 anos, a entrada da fiscalização na sede foi um “ato covarde para ofuscar nossas ações”.
“Tornamos público que fomos invadidas, que não temos nada a esconder. Nosso único crime é defender os direitos humanos das mulheres”, disse o grupo pelo Twitter.
Nuestras instalaciones han sido allanadas por Fiscalia General de la República por la unidad especializada de delitos de corrupción. pic.twitter.com/vP19JKgxRZ
— Las Mélidas (@Las_Melidas) November 22, 2021
O despacho para a ação de fiscalização foi expedida pela Primeira Vara de Paz de San Salvador, a pedido de uma comissão especial da Assembleia Legislativa, composta por maioria governista, que investiga supostas corrupções na destinação de recursos em legislaturas anteriores.
Segundo o Ministério Público, Las Mélidas e mais seis organizações sociais são investigadas por peculato, negociação ilegal e atos arbitrários. Para as autoridades salvadorenhas, elas “pediram recursos públicos sem dar detalhes de seus investimentos”. “Vários pedidos foram feitos por meio de canais não oficiais”, diz o MP.
Diante da série de incursões, grupos feministas estiveram presentes nas instalações de Las Mélidas, onde afixaram cartazes de apoio à organização, com mensagens como: “Alerta feminista, você não está só, chega de repressão, a gente cuida uma da outra”.
De acordo com a imprensa salvadorenha, a juíza que autorizou a busca, Haydeé Lisett Flores, foi nomeada sem processo seletivo previsto em lei, tendo sido eleita pelos magistrados do Supremo Tribunal de Justiça, sem passar pelo Conselho da Magistratura Judicial, e é ex-esposa do procurador da Fazenda Rodolfo Delgado.
@Las_Melidas/Twitter
‘Fomos invadidas’, diz associação feminista que teve sua sede fiscalizada, junto de outras seis organizações sociais
As outras seis organizações que tiveram suas sedes fiscalizadas nesta segunda foram Associação de Projetos Comunitários de El Salvador (PROCOMES), Fundação Salvadorenha para a Democracia e o Desenvolvimento Social (FUNDASPAD), Fundação Salvadorenha de Apoio às Vítimas e Atingidos por Gangues “Una Mano Amiga” (dois prédios), Associação Salvadorenha de Ajuda Humanitária PRO-VIDA, Associação Feminina Tecleñas, Fundação Ambiental de Santa Ana “FUNDASAN”.
De acordo com o jornal La Prensa Grafica, a ação do governo de Nayib Bukele faz parte da aprovação da Lei dos Agentes Estrangeiros, que pode restringir a defesa dos direitos humanos, bem como o papel do jornalismo independente.
Relações 'estremecidas' com os EUA
Ainda nesta segunda, a chefe de negócios da embaixada dos Estados Unidos em El Salvador, Jean Manes, anunciou sua saída do país para retornar a seu cargo no Comando Sul. Quem assume em seu lugar é Brendan O’Brien.
No entanto, de acordo com Manes, a relação entre as nações tem ficado estremecida. “O governo de El Salvador não está dando nenhum sinal de ter interesse em nosso relacionamento”, disse ela, acrescentando que, “da nossa parte”, os Estados Unidos continuam “tentando fazer de tudo” para “melhorar” a relação.
O relato de Manes denunciou que o presidente salvadorenho não dá sinais de ter interesse na relação bilateral, afirmando que ela foi enviada ao país como uma “ponte”, mas que o atual governo decidiu não “aceitar”.
Desde a invasão com o exército do presidente Bukele na Assembleia Legislativa, em fevereiro de 2020, a demissão do Procurador-Geral da República e dos magistrados da Câmara Constitucional, em maio, e a publicação de funcionários salvadorenhos nomeados no início de julho, as relações diplomáticas entre os dois países se deterioraram.
Apesar disso, a diplomata afirmou que os governos “devem ter o melhor relacionamento da região por todos os nossos laços econômicos, familiares e mais de três milhões de salvadorenhos nos Estados Unidos, mas não é onde estamos”.
(*) Com Telesur.