Atualizada às 16h44
A Nobel da Paz de 1991 e então líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, foi condenada nesta segunda-feira (06/12) a dois anos de prisão por um tribunal militar por “incitação à oposição contra a junta militar” que deu um golpe no país em fevereiro e por violação da lei sobre desastres ambientais na gestão da pandemia de covid-19.
A condenação inicialmente, anunciada ainda nesta segunda, era de quatro anos, mas algumas horas mais tarde, o chefe da junta militar decidiu “dar o perdão de dois anos” para a líder, e também para o presidente Win Mynt, que passa pelo mesmo julgamento e pelas mesmas acusações.
Segundo o porta-voz dos militares, Zaw Min Tun, os juízes haviam a´plicado uma pena de dois anos para cada “crime”, o que totalizaria quatro anos. Porém, ambos não serão transferidos para um presídio neste momento.
“Enfrentarão as acusações nos locais em que se encontram na capital Naypydaw”, acrescentou sem dar muitos detalhes.
Os dois líderes políticos foram presos no dia 1º de fevereiro deste ano durante o golpe militar e estão em local não revelado em regime domiciliar. A data marcava a posse do novo Parlamento, eleito em 8 de dezembro de 2020, em pleito que deu uma esmagadora vitória para o partido de Suu Kyi, o Liga Nacional pela Democracia (NLD).
Os militares, mesmo tendo controle por lei de 25% dos assentos, não concordaram com o resultado e deram o golpe alegando “fraudes” na disputa. Porém, até hoje, nem a Nobel da Paz nem o presidente foram acusados de qualquer crime relacionado às eleições. Ao todo, Suu Kyi – que não pode ser a mandatária do país porque se casou e teve filhos com um estrangeiro – responde por sete acusações.
Wikicommons
Aung San Suu Kyi, Nobel da Paz, foi presa por uma junta militar em fevereiro deste ano, após golpe de Estado em Mianmar
Desde o golpe, milhares de pessoas se manifestam nas ruas de diversas cidades de Myanmar, em protestos que são encerrados com violência por policiais e soldados ligados às Forças Armadas.
Segundo ONGs locais, mais de 1,3 mil pessoas (incluindo crianças) foram assassinadas durante os atos e mais de 10 mil foram presas por se manifestar.
Reações
Após o anúncio das penas, as manifestações internacionais começaram a ocorrer.
A alta comissária para os Direitos Humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, criticou a decisão tomada durante um “julgamento fraudulento com um procedimento secreto em um tribunal controlado pelos militares”. “Isso não é mais do que uma decisão motivada politicamente”, acrescentou.
Para Bachelet, a decisão “fecha as portas para um diálogo” com Myanmar.
Quem também se manifestou foi a secretária das Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, que afirmou que a decisão “foi mais uma assustadora tentativa do regime de sufocar a oposição e suprimir a liberdade e a democracia”.
“O Reino Unido pede ao regime que liberte os prisioneiros políticos, empenhe-se no diálogo e permita um retorno à democracia. A detenção arbitrária de políticos eleitos vai causar apenas novas desordens”, pontuou ainda a britânica.
Ao lado da União Europeia e dos Estados Unidos, o Reino Unido impôs uma série de duras sanções políticas e econômicas contra os militares e contra as empresas que apoiam o regime no país.
(*) Com Ansa.