A Cúpula pela Democracia convocada pelo governo dos Estados Unidos é um “neocolonialismo disfarçado”, defendeu o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo na última quarta-feira (08/12).
O governo chinês considera que a cúpula organizada por Joe Biden, que convidou 110 países e a União Europeia, é uma “arma” que irá “causar desordem e prejudicar a diversidade civilizacional do mundo”.
“Ao se autoproclamar como líder da democracia, os EUA aplicam seus próprios parâmetros para julgar quem é qualificado para essa cúpula e definir quais são os países democráticos. Isso é antidemocrático”, disse.
Tanto a China quanto a Rússia foram deixadas de fora da cúpula. Questionado pelo jornal, o embaixador declarou que a democracia é um “valor comum”, não uma “ferramenta para certos países alcançarem seus próprios interesses”, afirmando que os Estados Unidos estão “obcecados” pela ideia de “superioridade civilizacional”.
“[Os EUA] Usam meios desprezíveis, como infiltração e opressão, intervenção militar, subversão política e sanções econômicas para promover uma ‘transformação democrática’ noutros países, causando numerosas crises, inclusive na América Latina. Essas práticas antidemocráticas camufladas de democracia estão na origem de muitas turbulências no mundo de hoje”, disse.
Myke Sena/MS
Para ele, o propósito do governo norte-americano é “implementar sua geoestratégia, cercear e explorar outros países”, a fim de “preservar sua hegemonia econômica, financeira, tecnológica e militar”.
Ao deixar de fora a China, o governo Biden convidou para a Cúpula pela Democracia representantes da ilha de Taiwan.
Yang disse que o governo chinês “opõe-se firmemente” quanto ao convite, declarando que “existe no mundo apenas uma China, e Taiwan é parte inseparável do território chinês”. “Ao convidar Taiwan para participar dessa conferência, os EUA deixaram claro que a ‘democracia’ é apenas um disfarce usado para servir a seus objetivos geoestratégicos e para atender à sua agenda egoísta de manter a hegemonia”.
Ele ainda relembrou a última ligação entre Biden e seu homólogo Xi Jinping, no qual os líderes falaram sobre a questão de Taiwan. Segundo o embaixador, o mandatário norte-americano “reiterou” que os EUA sempre “seguem a política de uma só China”.
“O princípio de “uma só China” não é uma carta de baralho nas relações internacionais, mas sim a base política da relação China-EUA e uma linha vermelha inabalável que não deve ser cruzada. A China repudia a manobra norte-americana de distorcer os conceitos. […] Esperamos que o lado norte-americano implemente efetivamente o consenso alcançado”, disse.