A presidente eleita de Honduras, Xiomara Castro, denunciou neste domingo (23/01) que a oposição de direita, aliada a deputados dissidentes de seu próprio partido, o Libre (Libertad y Refundación), tentam “sequestrar o Legislativo” do país após a realização de uma sessão paralela, fora do prédio do Congresso, que alega ter definido o novo presidente da Casa.
A votação que ocorreu no Parlamento hondurenho neste domingo elegeu o deputado Luis Redondo, do Partido Salvador de Honduras (PSH), como presidente do Parlamento por 96 votos.
Paralelamente, em um centro de convenções sociais fora do prédio do Congresso, o deputado Jorge Cálix, que pertence ao Libre, mas é considerado um dissidente, foi escolhido como o novo presidente do Legislativo, após receber 76 votos, com apoio do partido Nacional, de direita e atual governista.
Luis Redondo foi reconhecido por Castro como o líder constitucional do Legislativo, enquanto que a sessão que empossou Cálix foi considerada pela presidente um Parlamento paralelo.
O Congresso é composto por 50 deputados do Libre, 44 do Partido Nacional (do atual presidente de direita Juan Orlando Hernández), 22 do Partido Liberal (de direita), 10 do PSH e dois de outros partidos. São necessários 65 votos para alcançar a liderança do Parlamento, metade mais uma das 128 cadeiras.
Desde a noite do sábado (22/01), centenas de apoiadores de Castro se reúnem em frente ao Congresso hondurenho para defender o reconhecimento de Redondo como chefe do Legislativo e para demonstrar apoio à presidente eleita.
As disputas políticas que levaram à escolha de “dois Parlamentos” no país a apenas quatro dias da posse de Castro começaram no dia 20 de janeiro, quando a presidente eleita convocou uma reunião para definir quem seria o candidato da aliança de esquerda entre Libre e PSH para chefiar o Congresso.
Entretanto, 18 deputados do Libre não compareceram à reunião e o ato foi encarado como uma “traição” ao programa político e à aliança com a qual Xiomara foi eleita.
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Desde a noite do sábado (22/01), centenas de apoiadores de Castro se reúnem em frente ao Congresso hondurenho
Os deputados dissidentes do Libre não concordaram que o candidato a presidir o Congresso fosse de outro partido, como Luís Redondo, que é do PSH.
A candidatura de Redondo se deve a um acordo político prévio entre os partidos que apoiavam Castro. Antes das eleições, as legendas concordaram que, independentemente do número de cadeiras que conquistassem, a decisão sobre quem seria o chefe do Congresso Nacional caberia a Salvador Nasralla, membro do PHS e vice-presidente eleito na chapa de Xiomara.
Nasralla optou por Redondo, pertencente ao seu partido, mas a facção dissidente do Libre optou por Jorge Cálix, parlamentar do departamento de Francisco Morazán e que detém o título de “deputado mais votado da história”.
Na última sexta-feira (21/01), a deputada dissidente Beatriz Valle apresentou a proposta para a diretoria provisória do Congresso, com Cálix como presidente, que teria o apoio de 21 parlamentares do seu partido, 44 do conservador Partido Nacional, 18 do Partido Liberal, um do Partido Anticorrupção e outro da Democracia Cristã.
Cálix assumiu em meio aos gritos de “traidor” da bancada do Libre, que apostava em Redondo. Pelo Twitter, a presidente eleita escreveu: “A traição foi consumada”.
No mesmo dia, a bancada majoritária do Libre divulgou um comunicado denunciando que a ausência dos 18 deputados na reunião com Castro constituía “o presságio de uma traição contrarrevolucionária ao partido e ao povo hondurenho”.
No texto, reafirmam o apoio da presidente eleita a Redondo, seguindo o pacto assinado pelas forças políticas que se opõem ao governo do presidente cessante, Juan Orlando Hernández.
Castro, que é esposa do ex-presidente Manuel Zelaya, deposto em 2009, venceu as eleições em novembro. Sua vitória marca o retorno das forças de esquerda ao governo hondurenho.
*Com RT