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Política e Economia

ONU alerta para níveis recordes de insegurança alimentar

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Guerra na Ucrânia agravou situação já preocupante. Hoje, 276 milhões de pessoas correm o risco de passar fome

Redação

Deutsche Welle Deutsche Welle

Bonn (Alemanha)
2022-05-19T12:15:39.000Z

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou nesta quarta-feira (18/05) para um "novo recorde" nos níveis globais de fome e para o altíssimo número de pessoas em insegurança alimentar severa, que duplicou de 135 milhões, no período pré-pandemia, para 276 milhões atualmente.

A já difícil situação se agravou ainda mais após o início da guerra na Ucrânia, que impossibilitou o escoamento adequado da grande produção de grãos no país do Leste Europeu e interrompeu cadeias de distribuição.

Guterres disse que está em "intenso contato" com Rússia, Ucrânia, Turquia, Estados Unidos e União Europeia, em um esforço para restaurar as exportações de grãos ucranianos à medida que a crise alimentar global se agrava.

"Estou esperançoso, mas ainda há um caminho a percorrer", afirmou Guterres, que visitou Moscou e Kiev no final do mês passado. "As complexas implicações de segurança, econômicas e financeiras exigem boa vontade de todos os lados".

Na quarta-feira, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) já havia alertado para o número cada vez maior de crianças sob risco de morrer de desnutrição severa.

Em reunião sobre segurança alimentar organizada pelos EUA, em Nova York, Guterres apelou à Rússia para permitir "a exportação segura de grãos armazenados nos portos ucranianos" e para que alimentos e fertilizantes russos, bem como os de Belarus, "tenham acesso total e irrestrito aos mercados mundiais".

A invasão da Ucrânia pela Rússia fez com que os preços globais de grãos, óleos de cozinha, combustível e fertilizantes disparassem. Segundo Guterres, isso piorará a crise alimentar, energética e econômica nos países pobres.

"Ameaça levar dezenas de milhões de pessoas à insegurança alimentar, seguida de desnutrição e fome em massa e escassez de alimentos, em uma crise que pode durar anos", disse.

De acordo com Guterres, essa espiral de problemas terá um impacto devastador sobre as sociedades, como em crianças que podem sofrer os efeitos da malnutrição ao longo da vida, em "meninas que serão retiradas das escolas e forçadas a trabalhar ou a casar" e em "famílias que terão de embarcar em perigosas viagens continentais, apenas para sobreviver".

Apelo a Putin

A Ucrânia costumava exportar a maioria de seus produtos por meio de portos marítimos, mas, desde a invasão, foi forçada a escoar sua safra por trem ou por meio de pequenos portos no rio Danúbio.

"Se você tem algum coração, por favor, abra esses portos", apelou o diretor do Programa Mundial de Alimentos da ONU, David Beasley, ao presidente russo, Vladimir Putin.

O Programa liderado por Beasley envia mantimentos a 125 milhões de pessoas e compra 50% de seus grãos da Ucrânia.

"Não se trata apenas da Ucrânia. Trata-se dos mais pobres dos pobres que estão à beira da fome enquanto falamos", disse Beasley.

Juntas, Rússia e Ucrânia respondem por quase um terço da oferta global de trigo. A Ucrânia também é um grande exportador de milho, cevada, óleo de girassol e óleo de canola, enquanto a Rússia e Belarus - que apoia Moscou em sua guerra na Ucrânia - respondem por mais de 40% das exportações globais de potássio, um nutriente necessário na atividade agrícola.

Ali Khara/REUTERS
Países pobres estão sofrendo com interrupção das cadeias de distribuição

Anfitrião do evento, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, disse que a Rússia deve ser obrigada a criar corredores para que alimentos e outros suprimentos vitais possam deixar a Ucrânia com segurança por terra ou mar.

"Há uma estimativa de 22 milhões de toneladas de grãos em silos na Ucrânia neste momento. Alimentos que podem ser imediatamente destinados a ajudar os necessitados se puderem simplesmente sair do país", destacou Blinken.

A ONU disse que 36 países contam com a Rússia e a Ucrânia para mais da metade de suas importações de trigo, incluindo alguns dos mais pobres e vulneráveis do mundo, como Líbano, Síria, Iêmen, Somália e República Democrática do Congo.

Portos fora de operação por ao menos seis meses

De acordo com o diagnóstico de uma fonte do governo da França, os portos ucranianos não poderão reabrir para as exportações de cereais em no mínimo seis meses. 

Outro agravante é que as alternativas ferroviárias são limitadas. Em primeiro lugar, porque a Ucrânia partilha grande parte da via da antiga União Soviética, que é diferente da europeia, fazendo com que os envios de carga para o ocidente tenham de ser transferidos para outros comboios nas fronteiras (por exemplo, na Polônia).

Isso já é feito através da Romênia, mas de forma limitada, já que o porto de partida romeno só tem capacidade para movimentar entre 1 milhão e 1,5 milhão de toneladas por ano.

Uma alternativa mais simples tecnicamente seria enviar os comboios ferroviários através de Belarus para a Lituânia, mas esta opção levanta dúvidas, dado que o governo belarrusso está totalmente alinhado com o de Moscou e também está sujeito a sanções internacionais.

Além disso, supõe-se que a produção agrícola ucraniana sofrerá, e não apenas este ano, devido à destruição das ferrovias, pela perda de mão de obra mobilizada para a guerra e a dificuldade de fornecimento de sementes e fertilizantes para campanhas futuras.

Negociação com a Rússia

O embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, informou que Guterres conversou com o primeiro vice-primeiro-ministro da Rússia, Andrei Belousov, na terça-feira, sobre as exportações russas de fertilizantes e grãos.

"As discussões, até onde eu sei, foram boas e positivas", disse Nebenzia a repórteres nesta quarta-feira. "Estamos preparados para fazer nossa parte. O acesso ao mercado de grãos ucraniano é outra coisa", acrescentou.

Nebenzia disse que, embora não haja sanções diretas aos fertilizantes ou grãos russos, houve um enorme efeito no transporte, seguros e bancos depois que os Estados Unidos e outros começaram a punir a Rússia pelo que Moscou chama de "operação militar especial" na Ucrânia.

Blinken disse que é errado culpar as sanções porque os Estados Unidos criaram exceções e estão trabalhando para garantir que as medidas impostas por Washington "não impeçam que alimentos e fertilizantes saiam da Rússia ou de qualquer outro lugar".

O tema continuará a ser abordado na quinta-feira, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU.

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Análise

Patentes na OMC é uma derrota para os países do Sul Global

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Pandemia de covid-19 reativou a debate sobre a quebra de patentes para medicamentos e vacinas. Apesar de sua união em torno do tema, países subdesenvolvidos sofreram uma derrota

Alessandra Monterastelli

Outras Palavras Outras Palavras

2022-07-06T22:35:00.000Z

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No dia 17 de junho, saiu fumaça branca das chaminés da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade, responsável pela regulação de patentes internacionais, anunciou que chegara a uma conclusão sobre as vacinas contra o coronavírus. Tratava-se do pedido de isenção do acordo TRIPS – sigla em inglês para Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Firmado na virada do século, tal compromisso obriga os países-membros da OMC a adotar padrões mais rigorosos de proteção patentária. Consequentemente, encarece o acesso às inovações tecnológicas, inclusive no setor farmacêutico. Mas a decisão final foi amplamente criticada por ativistas da saúde e movimentos populares em todo o mundo, já que a OMC rejeitou a isenção total do TRIPS. 

Em 2020, diante da disseminação do novo coronavírus, África do Sul e Índia protocolaram a proposta de isenção do Acordo, que obteve amplo apoio dos países em desenvolvimento e de baixa renda – com exceção do Brasil. A nova decisão foi saudada pelo Secretariado da OMC e por representantes de países ricos como um resultado sem precedentes, mas ativistas condenam que, na prática, a decisão não atende as necessidades mínimas da maior fatia do mundo. “Houve um esvaziamento da proposta pelos países mais ricos. O texto perdeu totalmente sua força, não trouxe nada novo”, explica Felipe Carvalho, Coordenador Regional da Campanha de Acesso do Médicos Sem Fronteiras ao Outra Saúde.

A conclusão do órgão concedeu uma exceção temporária à restrição das quantidades de vacinas que podem ser exportadas sob licença compulsória; diagnósticos e tratamentos não estão incluídos e devem obedecer ao limite de exportação durante o tempo de licença compulsória – decretada durante emergências sanitárias, como é o caso da pandemia. Além disso, a concessão vale apenas para responder à covid-19 e não tem validade diante de outras crises de saúde. O acordo final não inclui o compartilhamento de segredos comerciais e know-how de fabricação, o que prejudicará a produção de vacinas com tecnologia avançada por países de baixa renda – como é o caso dos imunizantes de RNA.

Carvalho conta que o problema é abordado com frequência em reuniões escpecais da OMS e da ONU.  “Existe um consenso entre especialistas e órgãos multilaterais de que as patentes causam constantes crises de acesso e inovação na saúde”. Em maio, o The Guardian divulgou que a Pfizer lucrou 25,7 bilhões de dólares só no início de 2022 – mais da metade do valor está relacionado à venda de vacinas contra a covid-19. Tim Bierley, ativista do Global Justice Now, denunciou ao jornal britânico que apesar do apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações, a farmacêutica seguia se recusando a compartilhar a tecnologia de produção do imunizante. O diretor da OMS, Tedros Adhanon, afirmou em 2021 que a pandemia estava sendo prolongada por uma “escandalosa desigualdade” diante do acúmulo de doses de imunizantes por países ricos enquanto países pobres não conseguiam avançar em sua meta de vacinação em massa. 

“Desde a criação do acordo TRIPs nós temos um cenário de constantes crises de acesso a medicamentos essenciais”, conta Felipe. Ele relembra o caso emblemático da epidemia de HIV/AIDS, na década de 1990. “Em 1996 surgiu a primeira terapia para a doença. As pessoas pararam de morrer e passaram a conviver com o vírus. Mas essa terapia não chegou nos países onde o cenário era mais grave”, explica. O ano de 1996 foi também quando o acordo TRIPS entrou em vigor, após sua criação em 1994 e preparação em 1995. “A partir daí se criou uma coalizão na sociedade civil, da qual fazemos parte, chamada Movimento de Luta pelo Acesso a Medicamentos. A pergunta era: por que os preços eram tão altos e o tratamento se tornava inacessível para milhões de pessoas? Nos aprofundamos no sistema de patentes e entendemos que o monopólio era a causa”, relembra.

Apesar do TRIPS possuir cláusulas que permitem flexibilizações, elas são de difícil utilização devido a dois fatores principais: sua não-incorporação completa em leis de países-membros e a pressão que as farmacêuticas exercem sobre as decisões da OMC. Na década de 1990, diante da grave situação vivida na África do Sul – país com maior número de mortes pela AIDS na época – o governo então liderado por Nelson Mandela aprovou uma das medidas previstas no TRIPS para importar genéricos. Na ocasião, Mandela sofreu o processo de 39 farmacêuticas que se opuseram à decisão tomada para conter a crise de saúde pública. Apesar da derrota das corporações na justiça, “esse é um exemplo de como essas empresas e seus países-sede tentam barrar as normas legítimas existentes no TRIPS”, exemplifica Carvalho.

A OMC é uma instituição formada por 164 membros e opera com base na tomada de decisões por consenso. “A OMC falhou em fornecer uma isenção. O acordo coloca os lucros à frente das vidas e mostra que o atual regime de propriedade intelectual falha em proteger a saúde e promover a transferência de tecnologia. Essa não-renúncia estabelece um mau precedente para futuras pandemias e continuará a colocar vidas em risco” declarou Lauren Paremoer, médica e integrante do Peoples’ Health Movement na África do Sul. 

A Health Action International, referência no trabalho para expandir o acesso a medicamentos essenciais, argumentou em nota que a decisão da OMC impõe obstáculos ao licenciamento compulsório, uma das poucas flexibilidades existentes no TRIPS, em troca de uma abertura tímida para a facilitação da exportação de vacinas. Outras entidades representantes da sociedade civil já denunciaram a atuação dos países ricos e vêm aumentando a pressão sobre os governos. O objetivo, segundo seus porta-vozes, é que sejam tomadas medidas concretas para desafiar as regras de monopólio farmacêutico da OMC e garantir mais acesso a medicamentos e tecnologias. 

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