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Política e Economia

Primeira missão do FMI na Argentina revisa contas do país, que manteve 6% de inflação em abril

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Revisões trimestrais habilitam desembolsos do Fundo a Argentina para cancelar os vencimentos firmados por Macri

Fernanda Paixão

Brasil de Fato Brasil de Fato

Buenos Aires (Argentina)
2022-05-19T21:55:00.000Z

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A primeira revisão do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre o cumprimento do acordo firmado com o governo argentino ocorre em um mês-chave para a política econômica do país.

O índice de inflação mensal em abril se manteve na base de 6% sobre o aumento do custo de vida (uma leve melhora, contra 6,7% em março) e o início das audiências públicas para discutir os cortes de subsídios nos serviços de energia, gás e água expõe um descontentamento crescente por parte da população.

Serão dez as revisões que constam no acordado em março entre o governo argentino e o diretório executivo do FMI para controlar os números de inflação e déficit fiscal (gastos mais altos que ingressos).

Se aprovada, cada auditoria do órgão internacional liberará um valor pré-determinado para as reservas do Banco Central argentino, correspondente ao vencimento das parcelas da dívida firmado em 2018, pelo ex-presidente Mauricio Macri. Em outras palavras, o FMI liberará a quantia à Argentina para enfrentar os vencimentos do próprio órgão, o que durará dois anos e meio.

De acordo com a lógica desse novo acordo, a Argentina terá “fôlego” para fortalecer suas reservas em dólares ao mesmo tempo que o FMI garante que o país siga sob suas exigências de ajuste. Serão 4 anos “de graça” ao país que, a partir de 2026, começará a efetivamente pagar a dívida, então sob novos prazos de vencimentos que substituem o acordado por Macri, considerados “impagáveis”.

A missão do órgão internacional, que culminaria em uma visita presencial, é realizada virtualmente. A modalidade representa alívio para o governo, já que dentro de sua própria coalizão, Frente de Todos (FdT) há desacordo sobre os termos da renegociação, aprovada em março no Congresso com amplo apoio da oposição macrista e com o voto negativo de 13 senadores e 28 deputados da própria coalizão governista.

“Os programas do Fundo não são apropriados para promover o crescimento nem controlar a inflação”, explicaram, em carta, legisladores do La Câmpora (grupo kirchnerista), após o amplo rechaço dos Deputados. “Ao contrário, nos períodos de vigência de acordos com o FMI, a inflação média foi mais elevada pela simples razão de que as medidas que o Fundo impulsiona a aceleram”, afirmaram, em referência a outros momentos históricos de endividamento do país com o mesmo órgão.

Além disso, os protestos massivos contra a pobreza e o condicionamento do país ao FMI continuam ocorrendo. “Decidiram fazer a revisão de maneira virtual para não enfrentar a forte mobilização nas ruas”, pontua a ativista Beverly Keene, do coletivo Diálogos 2000 e parte do Grupo Autoconvocado pela Suspensão do Pagamento e pela Investigação da Dívida.

“Vão continuar vindo a cada três meses, um verdadeiro co-governo com o governo nacional, que não pode gastar um peso, um dólar da parte das exigências impostas pelo Fundo”, afirmou, durante uma panfletagem na última terça-feira (17) para anunciar a Semana de Ação contra o FMI, uma série de mobilizações virtuais e nas ruas para denunciar a ilegalidade da dívida – concedida pelo FMI a um país que não teria condições de pagar, contrariando o estatuto do próprio organismo.

Entre as exigências do acordo, anunciado pelo governo em janeiro, estão a redução do déficit fiscal, da inflação e o incentivo do crescimento da economia. Setores aliados ao presidente Alberto Fernández asseguram, como o próprio mandatário, que as medidas não significam ajuste para a população.

Junto a isso, projetos de lei anunciados nas últimas semanas visam um horizonte mais equitativo para enfrentar a dívida com o FMI e a alta inflação, problema histórico no país e agravada pela pandemia, a guerra na Ucrânia e o descontrole sobre as empresas formadoras de preço.

Flickr
Serão dez as revisões que constam no acordado em março entre o governo argentino e o diretório executivo do FMI

Exemplo disso são o projeto de lei anunciado pelo Executivo para arrecadar a renda inesperada de empresas que lucraram com a guerra na Ucrânia (e que provocou a ira da coalizão macrista e de ruralistas, que protestaram com tratores em frente à Casa Rosada) e o projeto de lei lançado pela ala kirchnerista para criar um Fundo de arrecadação em dólares de bens não declarados fora do país – o destino de boa parte dos dólares concedidos pelo FMI durante o governo macrista.

Este último foi aprovado no último dia 13 no Senado com um Congresso rodeado de um protesto massivo contra a fome e a pobreza, um dia após a divulgação do dado de inflação de abril, em 6%, pelo Instituto de Estatística e Censos (Indec).

Outro assunto já inaugurado em audiências públicas é o corte de subsídios do Estado sobre tarifas de gás e luz, previsto de maneira equivalente à renda familiar e à localização de moradia. São dois aspectos de medição que o governo tomará em conta para reduzir o subsídio. Já nas audiências da semana passada, somadas ao aumento-base ocorrido em março, a secretaria de energia indicou um aumento de 20% sobre a conta de luz.

No contexto de uma crise energética desatada pela guerra, o presidente Alberto Fernández destacou na semana passada, em seu encontro com o chanceler Olaf Scholz, na Alemanha, que, atualmente, o país "está subsidiando energia aos 10% mais ricos da população, o que não é justo em termos igualitários".

O que se desata, além do descontentamento do setor de maior poder aquisitivo, é a reação em cadeia relacionada às imposições de condições do FMI. Segundo o economista Julio Gambina, as políticas de ajuste terminam impactando a população, seja de maneira direta ou indireta. “O aumento encarece os custos de produção em termos gerais e, portanto, intervém nos preços”, diz.

“O aumento não é apenas sobre a tarifa de energia e gás, mas também do combustível. E, claro, não tem a ver apenas com o custo de abastecimento de uma moto, um carro, mas com o transporte de mercadorias, de carga, com transporte público, e, portanto, implica diretamente no aumento dos custos de produção”, pontua o economista.

O agravamento da situação dos setores populares se vê refletido na previsão de inflação para o ano: já supera 70%. Esse panorama dá pouca margem para o governo atender a população, incrementar as reservas em dólares para pagar o Fundo e, ao mesmo tempo, estar em dia para as revisões trimestrais do órgão.

Neste mesmo mês, o governo publicou a resolução de adiantamento do aumento em parcelas do salário mínimo, acordado em março com os sindicatos. O acordo original previa um aumento de 10% a cada dois meses para chegar ao salário mínimo de AR$ 47.850 (R$ 1.990) até dezembro. Com a resolução, o aumento final será percebido já em agosto. Por outro lado, a cesta básica familiar no país já alcança AR$ 89.690 (R$ 3.700).

Para Gambina, a discussão sobre cortes de subsídios à tarifa de energia é ilustrativa. “Mais que debater sobre as tarifas energéticas, é necessário debater sobre o modelo de produção. Um projeto econômico soberano que priorize as necessidades da população”, pontua.

“Em vez disso, o que vem sendo impulsionado beneficia o setor concentrado da economia, consolidando um modelo produtivo que podemos classificar de extrativista porque se assentam na exploração e o saqueio dos bens comuns”, afirma, exemplificando com projetos de megamineração, como em Vaca Muerta, e de extração de lítio, para os quais o país busca investimentos estrangeiros para avançar em sua exploração – uma das apostas aprofundadas pela dívida com o FMI para aumentar as reservas em dólares.

O próximo vencimento da dívida será nos dias 21 e 22 de junho, que o país deverá pagar com o desembolso que o FMI fará após aprovada a revisão neste mês de maio. “Nesse dia, e em todos os que forem necessários, estaremos nas ruas”, destaca Beverly Keene.

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Análise

Patentes na OMC é uma derrota para os países do Sul Global

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Pandemia de covid-19 reativou a debate sobre a quebra de patentes para medicamentos e vacinas. Apesar de sua união em torno do tema, países subdesenvolvidos sofreram uma derrota

Alessandra Monterastelli

Outras Palavras Outras Palavras

2022-07-06T22:35:00.000Z

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No dia 17 de junho, saiu fumaça branca das chaminés da Organização Mundial do Comércio (OMC). A entidade, responsável pela regulação de patentes internacionais, anunciou que chegara a uma conclusão sobre as vacinas contra o coronavírus. Tratava-se do pedido de isenção do acordo TRIPS – sigla em inglês para Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio. Firmado na virada do século, tal compromisso obriga os países-membros da OMC a adotar padrões mais rigorosos de proteção patentária. Consequentemente, encarece o acesso às inovações tecnológicas, inclusive no setor farmacêutico. Mas a decisão final foi amplamente criticada por ativistas da saúde e movimentos populares em todo o mundo, já que a OMC rejeitou a isenção total do TRIPS. 

Em 2020, diante da disseminação do novo coronavírus, África do Sul e Índia protocolaram a proposta de isenção do Acordo, que obteve amplo apoio dos países em desenvolvimento e de baixa renda – com exceção do Brasil. A nova decisão foi saudada pelo Secretariado da OMC e por representantes de países ricos como um resultado sem precedentes, mas ativistas condenam que, na prática, a decisão não atende as necessidades mínimas da maior fatia do mundo. “Houve um esvaziamento da proposta pelos países mais ricos. O texto perdeu totalmente sua força, não trouxe nada novo”, explica Felipe Carvalho, Coordenador Regional da Campanha de Acesso do Médicos Sem Fronteiras ao Outra Saúde.

A conclusão do órgão concedeu uma exceção temporária à restrição das quantidades de vacinas que podem ser exportadas sob licença compulsória; diagnósticos e tratamentos não estão incluídos e devem obedecer ao limite de exportação durante o tempo de licença compulsória – decretada durante emergências sanitárias, como é o caso da pandemia. Além disso, a concessão vale apenas para responder à covid-19 e não tem validade diante de outras crises de saúde. O acordo final não inclui o compartilhamento de segredos comerciais e know-how de fabricação, o que prejudicará a produção de vacinas com tecnologia avançada por países de baixa renda – como é o caso dos imunizantes de RNA.

Carvalho conta que o problema é abordado com frequência em reuniões escpecais da OMS e da ONU.  “Existe um consenso entre especialistas e órgãos multilaterais de que as patentes causam constantes crises de acesso e inovação na saúde”. Em maio, o The Guardian divulgou que a Pfizer lucrou 25,7 bilhões de dólares só no início de 2022 – mais da metade do valor está relacionado à venda de vacinas contra a covid-19. Tim Bierley, ativista do Global Justice Now, denunciou ao jornal britânico que apesar do apelo da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de outras organizações, a farmacêutica seguia se recusando a compartilhar a tecnologia de produção do imunizante. O diretor da OMS, Tedros Adhanon, afirmou em 2021 que a pandemia estava sendo prolongada por uma “escandalosa desigualdade” diante do acúmulo de doses de imunizantes por países ricos enquanto países pobres não conseguiam avançar em sua meta de vacinação em massa. 

“Desde a criação do acordo TRIPs nós temos um cenário de constantes crises de acesso a medicamentos essenciais”, conta Felipe. Ele relembra o caso emblemático da epidemia de HIV/AIDS, na década de 1990. “Em 1996 surgiu a primeira terapia para a doença. As pessoas pararam de morrer e passaram a conviver com o vírus. Mas essa terapia não chegou nos países onde o cenário era mais grave”, explica. O ano de 1996 foi também quando o acordo TRIPS entrou em vigor, após sua criação em 1994 e preparação em 1995. “A partir daí se criou uma coalizão na sociedade civil, da qual fazemos parte, chamada Movimento de Luta pelo Acesso a Medicamentos. A pergunta era: por que os preços eram tão altos e o tratamento se tornava inacessível para milhões de pessoas? Nos aprofundamos no sistema de patentes e entendemos que o monopólio era a causa”, relembra.

Apesar do TRIPS possuir cláusulas que permitem flexibilizações, elas são de difícil utilização devido a dois fatores principais: sua não-incorporação completa em leis de países-membros e a pressão que as farmacêuticas exercem sobre as decisões da OMC. Na década de 1990, diante da grave situação vivida na África do Sul – país com maior número de mortes pela AIDS na época – o governo então liderado por Nelson Mandela aprovou uma das medidas previstas no TRIPS para importar genéricos. Na ocasião, Mandela sofreu o processo de 39 farmacêuticas que se opuseram à decisão tomada para conter a crise de saúde pública. Apesar da derrota das corporações na justiça, “esse é um exemplo de como essas empresas e seus países-sede tentam barrar as normas legítimas existentes no TRIPS”, exemplifica Carvalho.

A OMC é uma instituição formada por 164 membros e opera com base na tomada de decisões por consenso. “A OMC falhou em fornecer uma isenção. O acordo coloca os lucros à frente das vidas e mostra que o atual regime de propriedade intelectual falha em proteger a saúde e promover a transferência de tecnologia. Essa não-renúncia estabelece um mau precedente para futuras pandemias e continuará a colocar vidas em risco” declarou Lauren Paremoer, médica e integrante do Peoples’ Health Movement na África do Sul. 

A Health Action International, referência no trabalho para expandir o acesso a medicamentos essenciais, argumentou em nota que a decisão da OMC impõe obstáculos ao licenciamento compulsório, uma das poucas flexibilidades existentes no TRIPS, em troca de uma abertura tímida para a facilitação da exportação de vacinas. Outras entidades representantes da sociedade civil já denunciaram a atuação dos países ricos e vêm aumentando a pressão sobre os governos. O objetivo, segundo seus porta-vozes, é que sejam tomadas medidas concretas para desafiar as regras de monopólio farmacêutico da OMC e garantir mais acesso a medicamentos e tecnologias. 

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