Quinta-feira, 17 de julho de 2025
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A IX Cúpula das Américas se inicia nesta segunda-feira (06/06), em Los Angeles, esvaziada. A reunião é marcada pelo boicote de lideranças latino-americanas e pelo veto norte-americano que impediu a participação de Cuba, Nicarágua e Venezuela.

O evento que pretende reunir líderes dos mais de 30 países das Américas tem edição marcada pelo boicote de algumas lideranças latino-americanas e pelo veto da Casa Branca, que impediu a participação de Cuba, Nicarágua e Venezuela.

Incertezas e desentendimentos políticos ameaçam a capacidade do encontro de formar consenso sobre iniciativas de impacto para a América Latina. Ao menos uma dúzia de participantes devem debater imigração, competição com a China na região, comércio e “nearshoring”, ou seja, um esforço para realocar negócios em países mais próximos.

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“Fiasco diplomático”

As semanas que antecederam a IX Cúpula das Américas foram de incertezas. A agenda da cúpula e a lista de convidados esteve indefinida por meses, gerando dúvidas sobre o objetivo da reunião e esvaziando a capacidade de mobilização americana. Além de questionamentos sobre o que seria debatido, houve disputa sobre quem deveria ou não ser convidado.  

A administração norte-americana indicou que Cuba, Nicarágua e Venezuela ficariam de fora por não serem nações democráticas, o que levou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, a boicotar a cúpula. Bolívia, Honduras, Guatemala e o bloco caribenho de 15 nações também não confirmaram presença. 

O presidente Jair Bolsonaro ameaçou não ir, mas confirmou a viagem dez dias antes do evento. Em troca do deslocamento, Brasil e Argentina negociaram reuniões bilaterais com o presidente norte-americano, Joe Biden. Esse será o primeiro encontro de Bolsonaro com Biden. 

Outro atrito foi gerado pelo número de postos de embaixadores norte-americanos vagos na região, dificultando o engajamento com governos latino-americanos. Washington transmitiu uma mensagem de descaso com os vizinhos, no momento em que a Casa Branca volta os olhos para a Ásia. A amplitude dos temas a serem debatidos e a diversidade de visões e interesses entre os mais de 30 países das Américas são desafios que comprometem a viabilidade da cúpula como um fórum capaz de promover iniciativas concretas.  

O histórico da reunião multilateral é marcado por desentendimentos. A última edição, em 2018, não contou com a participação do então presidente norte-americano, Donald Trump. 

Reunião é marcada pelo boicote de lideranças latino-americanas e pelo veto norte-americano que impediu a participação de Cuba, Nicarágua e Venezuela

Reprodução

Administração norte-americana indicou que Cuba, Nicarágua e Venezuela ficariam de fora por não serem nações democráticas

Influência da China em discussão 

Os participantes vão debater a crise migratória, respostas à pandemia de Covid-19 e recuperação econômica. Mesmo fora da agenda oficial, a crescente influência da China na região promete ser um tópico relevante entre as delegações.

Há expectativa de que o governo norte-americano lance iniciativas voltadas para viabilizar o “nearshoring”, um esforço de realocar negócios, operações e fornecedores em países mais próximos, e que cumpra as promessas que fez para a América Latina anunciando investimentos em infraestrutura e energias sustentáveis.

Mesmo assim, as conversas que têm ocorrido à margem do encontro deixam transparecer o ceticismo e a falta de unidade regional. 

EUA perdem influência na região  

Os EUA do democrata Joe Biden demonstram dificuldade em estabelecer novos compromissos com a região, e Washington perde influência. Os países latino-americanos enfrentam um contexto de crise econômica e foram duramente atingidos pela pandemia.

Governos locais se queixam da falta de suporte para enfrentar a Covid-19, da resistência norte-americana em flexibilizar tarifas sobre produtos da região, da falta de credibilidade e autoridade quando o assunto é democracia. Alguns condenam as tentativas de ingerência de governos estrangeiros e a política de imigração que não escuta os vizinhos, não consegue agir na raiz dos fluxos migratórios e estigmatiza cidadãos latino-americanos. 

Essa edição marca o retorno da cúpula aos Estados Unidos, depois de quase 20 anos da primeira reunião, em 1994, em Miami. Boicotes e desentendimentos reativam o debate sobre se o mecanismo deveria ser extinto.

No lugar da cúpula com dezenas de integrantes, uma alternativa seria focar na construção de grupos menores de países na região, que tenham o mesmo perfil, para viabilizar debates direcionados às necessidades dos integrantes. Essa nova configuração poderia facilitar a definição de iniciativas urgentes de cooperação e investimentos que atendam às demandas dos governos latino-americanos.