Cerca de 300.000 pessoas foram às ruas de Paris e outras cidades francesas nesta terça-feira (18/10), de acordo com a Confederação Geral do Trabalho (CGT) da França, um dos organizadores das manifestações.
Os protestos exigem reajuste salarial conforme a inflação – que chegou a 5,6% em setembro no acumulado de 12 meses – e também se solidarizaram com os funcionários de quatro refinarias da TotalEnergies, que estão em greve desde 27 de setembro.
Além dos funcionários do setor energético, incluindo as refinarias e depósitos de combustível da TotalEnergies, professores de ensino médio técnico e trabalhadores de usinas nucleares, de carvão e do sistema de transporte público aderiram à mobilização, fazendo com que a circulação de trens regionais fosse interrompida.
“Há mais de um em cada dois maquinistas em greve hoje, e quase o mesmo número de condutores. Cerca de 30% dos trabalhadores da produção e manutenção em nível nacional estão em greve hoje”, disse Erik Meyer, secretário federal do SUD Rail, um dos sindicatos dos trabalhadores ligados à atividade ferroviária na França, ao jornal Le Fígaro.
Ao todo, cerca de 150 pontos de concentração em todo o país foram planejados, ainda de acordo com a CGT. As cidades com as maiores concentrações de protestantes foram em Paris, com 70.000 manifestantes, Lyon, com 2.200, e Estrasburgo, Martigues, Le Havre, Montpellier e Rennes, com mobilizações de 1.000 a 3.000 pessoas, segundo estimativas de sindicatos e autoridades.
No entanto, o Ministério do Interior francês reportou um número menor de manifestantes nas ruas: 107.000 pessoas.
As marchas teriam início oficial às 14h do horário local na capital francesa, partindo da Praça da Itália, na zona sul da cidade, em direção à Praça Vauban. Às 11h, de acordo com o jornal Le Monde, o líder do movimento político França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, se juntou aos manifestantes em uma das seis grandes estações ferroviárias de Paris, a Gare de Lyon.
Às 13h41, foi votada, em uma assembleia geral reunindo cerca de 100 pessoas em outra estação de trem da capital, a extensão da greve até quarta-feira (19/10). Por unanimidade de mãos levantadas, o prolongamento foi aderido.
“O que está acontecendo é a destruição do serviço público para o substituir por empresas privadas”, exclamou Mélenchon, definindo a rede ferroviária como “vital para o país” logo após a votação.
A marcha em Paris chegou a seu destino final, o Palácio Nacional Les Invalides, às 17h30, de acordo com o Le Fígaro.
Jean-Luc Mélenchon/Twitter
Jean-Luc Mélenchon, líder do movimento político França Insubmissa, em discurso durante manifestação em Paris
Três sindicatos que representaram o setor energético – a CGT, a Força Operária, e a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT) – assinaram um acordo sobre aumentos salariais no ramo da indústria da eletricidade e do gás, tomando o primeiro passo antes da abertura das negociações salariais pelas empresas, ainda de acordo com o jornal.
Gérald Darmanin, ministro do Interior francês, afirmou em entrevista para a rede de rádio francesa RTL que “o Estado fez o seu trabalho, aumentou significativamente o número de servidores públicos. Agora é necessário que parte dos empregadores também possa aumentar os salários quando possível”, acrescentando: “um trabalhador, um empregado que trabalha, deve receber um salário justo”.
Já o ministro do Trabalho francês, Olivier Dussopt, considerou que havia “muitas reivindicações legítimas”.
De acordo com o Ministério da Educação francês, 5,67% dos professores da rede pública aderiram à greve, sendo 22,94% destes do segundo grau, devido a uma maior mobilização dentro de escolas com ensino médio técnico.
“Desde o início do ano letivo, foi levantada a questão de um aumento para os funcionários para compensar a inflação. E somos rejeitados de reunião em reunião. Dizem-nos que a associação enfrenta dificuldades justamente devido à inflação, ao aumento do custo do papel, do gás e da eletricidade. Mas para pagar as contas de luz, encontram o dinheiro, então por que não dar aumento aos funcionários?”, disse Stéphane Lavignotte, membro do conselho sindical Asso Solidaires, que reúne trabalhadores voluntários, ao Le Monde.
Os trabalhadores da refinaria Total em Feyzin, comuna na metrópole de Lyon, em greve há 22 dias, foram aplaudidos desde o início da manifestação organizada em frente a prefeitura. “Na Total, há dinheiro, mas não nas mãos dos trabalhadores”, lamenta Pedro Alfonso, delegado da CGT para a petrolífera.
O Ministério de Transição Energética afirmou que não exigiria a presença de funcionários nas instalações da TotalEnergies na Normandia, Donges (Loire-Atlantique) e La Mède (Bouches-du-Rhône), que estão em greve nesta terça-feira.
A refinaria de Feyzin, assim como a de Flandres, em Mardyck, está fechada por motivos técnicos, mas seus trabalhadores também aderiram à greve. As outras três refinarias do país, operadas pela norte-americana Esso-ExxonMobil e pelo grupo Petroineos, estão em operação.