A economia mexicana continuam se deteriorando, apesar das declarações do presidente Felipe Calderón, na semana passada, afirmando que o pior já havia passado. Tanto o FMI (Fundo Monetário Internacional) quanto a Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) previram nesta semana uma queda de mais de 7% do PIB (Produto Interno Bruto) mexicano para o restante de 2009.
As projeções dos organismos internacionais colocam o México como o país mais abalado na América Latina em matéria econômica: em abril passado, o FMI previra uma contração de 3,7% da economia mexicana. O ajuste divulgado pelo organismo no dia 8 de julho é de 3,6 pontos porcentuais, resultando em 7,3%.
Nenhum país latino-americano teve um ajuste para baixo desta dimensão em relação à projeção de abril passado. Enquanto isso, a Cepal anunciou na terça-feira (14) que o México é o país que mais sofrerá contração econômica em toda a região. Pior ainda: a contração econômica mexicana é muito maior que a das economias que continuam na lista dos países com maior encolhimento, como Costa Rica e Paraguai, com 3%.
Contraste de previsões
Assim, a visão positiva e entusiasmada do governo mexicano contrasta com a frieza dos números. Para Mario di Costanzo, doutor em economia pelo Instituto Tecnológico Autônomo do México (Itam), a estimativa de queda feita pelos organismos internacionais é na verdade conservadora.
“Acreditamos que a queda da economia neste ano pode chegar a 9,5%. Para nós, o país não atingiu o fundo do poço e o pior da crise só virá em agosto e setembro”, advertiu ele, em entrevista ao Opera Mundi.
Os indicadores nos quais o especialista se baseia são a diminuição da produção industrial, a queda dramática das vendas de automóveis, a baixa arrecadação fiscal e a desvalorização do peso frente ao dólar – nestes dias, a cotação está cada vez mais próxima dos 14 pesos.
“As previsões do governo são otimistas demais, quase irreais. Se pudéssemos desenhar a situação que vivemos, veríamos que não se trata de um 'V' no qual há um ponto que toca o fundo e logo depois uma recuperação imediata. No caso da crise mexicana, trata-se de um 'U', no qual tocamos o fundo, mas não sabemos quanto tempo vai demorar para iniciarmos uma recuperação”, explicou Di Costanzo.
Em contraste com esta visão, o pesquisador Raúl Feliz Ortíz, do Centro de Pesquisa e Docência Econômica (Cide), diz que as projeções negativas do FMI e da Cepal não contradizem necessariamente as afirmações do presidente e de seu secretário da Fazenda, Agustín Carstens.
“Calderón pode estar certo e estas previsões, também. É preciso entender os dados. O fato de que efetivamente já tocamos o fundo não quer dizer que o crescimento deste ano será positivo ou terá uma recuperação espetacular. Quer dizer que o ritmo no qual a economia vinha caindo começa a se reverter, e isso é uma boa notícia porque certamente haverá em breve algum indicador positivo. É preciso considerar que não vivemos uma situação qualquer, trata-se de uma tremenda crise que nos custa muito”, disse ao Opera Mundi.
De acordo com Feliz Ortíz, o Cide fez uma estimativa de contração econômica de 6,5%. A cifra começará a se inverter, segundo o especialista, dentro dos próximos dois anos. “Se definirmos a recuperação como o retorno ao PIB que tínhamos no primeiro semestre de 2008, possivelmente alcançaremos esta cifra em dois anos. No entanto, se o desejo é retomar a tendência de crescimento estável, então serão necessários de 6 a 7 anos”, explicou.
Indústria automobilística e turismo
Enquanto as projeções parecem cada dia mais negativas, setores importantes, como o automotivo e o turismo, acrescentam saldos desoladores à economia mexicana.
Só no primeiro trimestre de 2009, a produção de automóveis caiu 42,9% em relação ao mesmo período do ano passado. A projeção anual é de uma redução total de 30%.
Segundo os dados divulgados nesta semana no VII Congresso Internacional da Indústria Automobilística no México, junho foi o pior mês, com a fabricação de apenas 101.991 veículos, o que representa uma queda de 48,1% em relação a junho do ano passado.
E as vendas também caíram drasticamente: 30,7% no primeiro semestre, ou seja, o setor deixou de vender 158.015 unidades.
O presidente da Associação Mexicana de Distribuidores de Veículos Automotores, José Gómez Baez, alertou durante o congresso, realizado na Cidade do México, que o nível de vendas de 2009 será similar ao de 1999, quando só operavam no país 19 das 54 marcas que hoje compõem o mercado mexicano.
E o setor do turismo não está em situação melhor. Em maio, por causa da emergência sanitária motivada pelo vírus da influenza A (H1N1), o México deixou de receber 524 milhões de dólares em captação de divisas, o que representou uma queda de 49,7%.
De acordo com o Banco do México, além da emergência sanitária, a crise econômica mundial afetou o setor turístico do país de tal forma que, na primeira metade de 2009, a captação de divisas caiu 14,8%.
Para o economista e pesquisador Raúl Feliz Ortíz, a crise nos setores automotivo e turístico terá uma leve melhora até o fim do ano. “Dois terços das exportações de automóveis são para os Estados Unidos. Assim, teremos de esperar a economia vizinha se recuperar. Quanto ao turismo, a recuperação deve chegar no final do ano, quando começar a alta temporada”, disse.
Para Di Costanzo, no entanto, a questão do México não se limita à recuperação econômica dos Estados Unidos. “Se a intenção é cimentar bases de crescimento, não se pode depender unicamente dos Estados Unidos. Enquanto não houver uma distribuição eficiente do exercício público, uma prestação de contas real por parte do governo, a situação não mudará”, afirmou.
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