Na véspera das eleições gerais na Espanha, marcadas para este domingo (23/07), a expectativa é grande diante de um pleito que pode permitir o retorno da direita espanhola ao poder. O Partido Popular (PP) e seu candidato, Alberto Nunez Feijóo, lideram as pesquisas há várias semanas.
Os conservadores pretendem obter uma maioria absoluta neste domingo, embora as pesquisas lhes garantam apenas uma maioria relativa.
O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), que dirige o país com uma coalizão de esquerda, ainda busca convencer os indecisos, ou seja, cerca de 20% dos eleitores. Pedro Sánchez, o atual primeiro-ministro socialista que concorre à reeleição, sabe que a missão é complicada.
Atrás nas pesquisas, ele decidiu mudar de tática já no fim da campanha eleitoral, adotando um discurso bastante ofensivo, dirigido exclusivamente contra o seu principal adversário, o conservador Nunez Feijóo. Sánchez o acusa de ser próximo de Marcial Dorado, um narcotraficante e contrabandista da Galícia, condenado diversas vezes.
O candidato do PP admitiu ter encontrado Dorado em várias ocasiões, quando dirigia a região, mas explica que à época não sabia que ele era traficante de drogas.
Após a fala de Sánchez, que ganhou destaque na imprensa espanhola, Nunez Feijóo contra-atacou, acusando o candidato socialista de ter feito um pacto com os partidos regionalistas para a organização de referendos de autodeterminação na Catalunha e no País Basco, que seriam organizados caso Sánchez se mantivesse no poder.
Duas visões da Espanha
Neste domingo, serão disputadas todas as 350 cadeiras da Câmara dos Deputados, assim como 208 dos 265 assentos do Senado espanhol. Os eleitores poderão escolher entre duas visões diferentes para o país. Enquanto Sánchez defende os resultados de seu governo, a oposição tenta convencer os eleitores de que é hora de mudar.
Pesquisa de junho do Centro de Pesquisa Sociológica (CIS) da Espanha apontou que 43,1% dos cidadãos acreditam que a situação econômica geral é “ruim” no país, e 13,8% classificam como “muito ruim”.
Porém, os números da economia mostram um quadro diferente. Os principais indicadores da Espanha são positivos. O Produto Interno Bruto (PIB) sobe, enquanto inflação e desemprego estão em baixa. A economia é um tema central nessas eleições.
Em 2022, a Espanha registou um crescimento do PIB de 5,5%, tendo sido o sétimo maior da União Europeia (UE), de acordo com dados do Eurostat (Escritório Europeu de Estatística). O país ficou à frente de outras grandes economias do bloco, como Holanda (4,3%), Itália (3,7%) e França (2,5%).
A previsão de crescimento do PIB para este ano, segundo o Banco da Espanha, é de um crescimento de 2,3%. Já a inflação deve se manter em uma taxa moderada, fechando 2023 com uma média de 3,2% mensais, segundo a mesma fonte. Em junho, a inflação fechou em 1,9%, inferior à taxa da França (5,3%) e da Alemanha (6,8%).
Apesar disso, os espanhóis reclamam do preço da gasolina, dos produtos da cesta básica e da conta de luz, que tiveram aumentos e pesam no bolso.
Eva Ercolanese
Eleição deste domingo será um embate entre Pedro Sánchez e Alberto Nunez Feijóo
Último comício do PP em Madrid
O último comício eleitoral do PP em Madrid, na quinta-feira (20/07) à noite, reuniu o prefeito de Madri e a presidente da região, a líder da direita espanhola Isabel Diaz Ayuso. Nunez Feijóo voltou a atacar Sánchez: um “mentiroso que não respeitou seus compromissos e que deixa a Espanha em uma situação econômica crítica e mais dividida do que nunca”, segundo ele.
“Eu proponho um futuro. O futuro é o oposto de 'Sanchismo'. Eu ofereço a vocês um país em que pode confiar, um governo em que vocês podem confiar e um presidente em quem vocês podem confiar. E se eu mentir para vocês, não estou apenas pedindo que me expulsem do governo. Se minto para vocês, estou pedindo que me expulsem do partido”, disse Feijóo à multidão.
Nunez Feijóo joga a carta da transparência. Depois de quatro mandatos à frente da região da Galícia, ele quer oferecer à Espanha um governo que trabalhe para desfazer o que a coalizão atual, liderada pelos socialistas, colocou em prática. “Quero conquistar o governo espanhol, não por vingança. Mas para mudar ou que está errado e, claro, revogar”, disse.
“Mesmo que achemos que eles não merecem continuar, ou votamos no domingo, ou eles ficam”, alertou.
Após este discurso, cerca de cinco mil pessoas que compareceram ao comício pareciam convencidas de que a vitória estava ao seu alcance, uma vitória anunciada há semanas por quase todas as pesquisas eleitorais.
O primeiro-ministro Sánchez terminou sua companha em Getafe, na periferia sul de Madrid, nesta sexta-feira (21/07), com um encontro cheio de esperança. O líder dos socialistas acredita que pode permanecer no cargo. “Temos confiança porque um país inteiro não pode estar errado. Ou avançamos, ou será um retorno sombrio para trás”.
A possível coalizão à direita
Se os conservadores do Partido do Povo confirmarem o favoritismo das pesquisas, é improvável que obtenham uma maioria absoluta, podendo ter que unir forças com o partido de extrema direita Vox para formar uma coalizão.
Se a direita vencer e levar à reboque a extrema direita ao governo nacional, será a primeira vez que isso ocorrerá desde o fim da ditadura de Francisco Franco, em 1975. Essa possibilidade assusta muitos espanhóis, principalmente dentro da comunidade LGBT.
“A existência de um partido político que ataca todas as pessoas vulneráveis neste país tem um efeito direto na multiplicação do discurso de ódio, no aumento dos ataques, inclusive na rua, no público em geral. É o que nós vemos”, alerta Luis Fernando Rosales, coordenador da Arcopoli, associação que defende os direitos das pessoas LGBT+.
Rosales se refere ao Vox, partido de extrema direita que pode chegar ao governo em caso de uma coalizão com o Partido Popular. A plataforma da sigla rejeita a existência da violência de gênero na Espanha e é abertamente anti-LGBT e antiaborto.
Qual lado a Espanha caminhará daqui para a frente é um caminho que será decidido pelos eleitores, daqui a poucas horas.