Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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O governo colombiano iniciará neste domingo (08/10) uma mesa de diálogo com líderes do Estado-Maior Central (EMC) grupo dissidente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).

A delegação do governo da Colômbia será encabeçada por Camilo González Posso, diretor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Paz (Indepaz), e pelo ex-senador Fabio Valencia Cossio. Por sua parte, o EMC terá como principal negociador o seu atual porta-voz, Néstor Gregorio Vera Fernández, codinome “Iván Mordisco”.

O EMC surgiu como dissidência antes da assinatura do acordo de paz de 2016, que não aceitou negociar com o então presidente Juan Manuel Santos (2010-2018) alegando, entre outras coisas, que não se podia confiar em uma negociação com um governo de direita.

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O grupo inicialmente era liderado pelo comandante Gentil Duarte, e que reuniu colunas independentes das regiões de Orinoquía, Cauca, Nariño, Arauca e Catatumbo. Após a morte de Duarte, em maio de 2022, Iván Mordisco, assumiu a liderança. A chegada da esquerda ao poder no país, após a eleição de Petro como presidente, levou o novo comandante a aceitar a negociação de um acordo de paz, a partir de maio de 2023.

A primeira reunião entre as duas delegações acontecerá na cidade de Tibú, na região de Catatumbo, no Norte do país, e contará com a mediação de representantes da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização dos Estados Americanos (OEA), da Conferência Episcopal da Colômbia, do Conselho Mundial de Igrejas e da União Europeia, além de países como Irlanda, Noruega, Suíça e Venezuela.

Em atividades prévias ao encontro, ficaram estabelecidos os primeiros acordos da mesa de diálogo, que consiste em um cessar-fogo com duração de dez meses, entre este 8 de outubro de 2023 e o dia 8 de agosto de 2024.

A instalação da mesa de diálogo, porém, chegou a estar em risco, devido a ameaças de Iván Mordisco, que reclamou nesta sexta-feira (06/10) pelo fato de que o decreto de cessar-fogo ainda não havia sido assinado pelo presidente Gustavo Petro e oficializado pelo governo colombiano.

“Sem o decreto não haverá cessar-fogo, e, portanto, não será instalada a mesa (de diálogo). O governo precisa cumprir a sua parte do acordo”, afirmou o líder do EMC.

Otimismo com cautela

Um dos delegados que participa do evento é o ativista e comunicador social Víctor Corredor Cuéllar, coordenador da Associação de Vítimas do conflito Colombiano Residentes na Venezuela.

Diálogo deverá durar ao menos 10 meses, período em que estará vigente um decreto de cessar-fogo assinado pelo presidente Gustavo Petro

Governo da Colômbia

Camilo González Posso, diretor do Indepaz, será o chefe da delegação do governo colombiano na negociação com o EMC

Em entrevista a Opera Mundi, ele afirmou que “o clima na cidade de Tibu é de otimismo, mas com certa cautela. A população local entende que se trata de uma guerra que já dura anos, e será preciso tempo para se chegar a acordos, mas existe a disposição de dialogar entre todas as partes presentes no evento”.

O ativista também comentou as recentes declarações de Iván Mordisco, afirmando que, apesar das ameaças, “o EMC mantém sua disposição, assim como o presidente Petro”.

“Para estabelecer a paz são necessárias prudência e moderação, evitando especulações dos inimigos do processo. O governo tem sido reservado acerca da questão do decreto, mas presume-se que ele será abordado durante a instalação da mesa, neste domingo”, afirmou Corredor.

Como funcionará o processo de paz

Segundo o governo colombiano, o processo de paz com o grupo dissidente EMC será acompanhado por um Mecanismo de Supervisão, Monitoramento e Verificação.

Esse órgão será responsável, entre outras coisas, por divulgar o calendário de atividades e promover um plano de fomento à participação da sociedade civil no processo, especialmente entre as comunidades rurais do interior colombiano, onde a guerra civil esteve mais presente.

O acordo alcançado estabelece que esses protocolos e mecanismos que irão reger durante a negociação do acordo de paz “deverão ter como referência o respeito ao Direito Internacional Humanitário e em particular ao Protocolo II de 1977, adicional às Convenções de Genebra de 1949, que consiste em defender a ‘preservação da vida, dos direitos e das liberdades da população civil como um todo, e evitar o impacto humanitário particularmente nas comunidades e povos étnicos, territoriais, camponeses e outros grupos de proteção especial”.

O EMC também anunciou que pretende libertar três soldados do Exército colombiano: Edwer Paz Pantoja, Nelson Vásquez Reina e Juan David Estrada Suárez, que estão sendo mantidos como prisioneiros desde meados de agosto.

O combatente de codinome “Andrey”, outro porta-voz do EMC, afirmou que a libertação dos militares deve ser vista como um “gesto de boa vontade” por parte do grupo guerrilheiro com respeito às negociações de paz.