A peça Esperando Godot, do dramaturgo Samuel Beckett, foi representada pela primeira vez em 5 de janeiro de 1953. Dois vagabundos que esperam, sem mesmo saber por que, um certo Godot que nunca chega. O mesmo cenário decora os dois atos. As reações do público e da crítica são desencontradas, mas sempre apaixonadas: uns incensam a peça enquanto outros a repelem. O teatro do absurdo, instaurado por Beckett na peça, demole todos os princípios do teatro desde a Antiguidade, a começar pela ação. Tudo é deixado de lado, até o sentido da linguagem, diante da espera inelutável que segue até o infinito.
Samuel Beckett nasceu perto de Dublin, na Irlanda, em abril de 1906. Cresceu numa família protestante de classe média. Aos 14 anos, foi matriculado na mesma escola que o também dramaturgo irlandês Oscar Wilde frequentara. Em 1928, mudou-se para Paris. Logo que chegou, um amigo comum apresentou-o a James Joyce, compatriota seu. Beckett tornou-se um acirrado defensor do velho escritor. Aos 23 anos, escreveu um ensaio em defesa de Ulisses, obra de Joyce, contra a exigência do público de uma compreensão fácil de seu texto. Um ano depois, ganhou o seu primeiro prêmio literário com o poema Whoroscope, que trata da reflexão de Descartes sobre o passar do tempo e a transitoriedade da vida.
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Após escrever um estudo sobre Marcel Proust, Beckett chegou à conclusão de que o hábito e a rotina eram o “câncer do tempo” e abandonou o emprego no Trinity College, empreendendo uma longa viagem pela Europa, encontrando pessoas que seriam transformadas em seus personagens. De volta a Paris, costumava reunir-se com Joyce. Dizia-se que ambos permaneciam horas em silêncio, curtindo suas tristezas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Beckett permaneceu em Paris. Juntou-se depois ao movimento de resistência até 1942, quando membros de seu grupo foram presos e ele se viu forçado a fugir. Terminada a guerra, retornou à capital, começando o seu período mais prolífico como escritor. Nos cinco anos que se seguiram, escreveu Eleutéria, Esperando Godot, Fim de Partida (Endgame, escrito originalmente em francês e traduzido para o inglês pelo próprio autor) e Dias Felizes, além dos romances Malloy, Malone morre, O Desprezível, dois livros de contos e um livro de críticas.
Seu primeiro verdadeiro sucesso aconteceu em 5 de janeiro de 1953, quando Esperando Godot estreou no Teatro de Babylone. Apesar de críticas arrasadoras, a estranha peça em que “nada acontece” tornou-se um êxito, tendo mais de 400 representações e ganhando elogios de dramaturgos tão diversos como Tennessee Williams, Jean Anouilh e Thornton Wilder.
Talvez a mais famosa montagem de Esperando Godot tenha acontecido em 1957, quando a companhia Oficina de Atores de San Francisco, nos EUA, apresentou a peça na penintenciária de San Quentin para uma plateia de mais de 1.400 detentos. Os presos entenderam tão bem quanto os personagens Vladimir e Estragon que a vida significa esperar, matar o tempo, aferrando-se à esperança de que a liberdade está logo ali, virando a esquina. Se não hoje, talvez amanhã.
Beckett foi o primeiro dos absurdistas a conquistar fama internacional. Suas peças foram traduzidas para mais de 20 idiomas. Em 1969, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura. Continuou a escrever até sua morte, em 1989.
Outros fatos na mesma data:
1589 – Morre a rainha Catarina de Médici, instigadora do Massacre do Dia de São Bartolomeu na França.
1919 – Fracassa a Rebelião Espartaquista na Alemanha
1945 – Os soviéticos reconhecem o governo provisório da Polônia libertada.
1968 – Começa a Primavera de Praga na Tchecoslováquia socialista.
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