O candidato socialista às eleições presidenciais do próximo domingo (23/01), Manuel Alegre, reiterou sua rejeição à intervenção externa no país e ressaltou que não quer Portugal “de joelhos diante de ninguém”.
A afirmação de Alegre foi feita em entrevista publicada nesta terça-feira pela publicação portuguesa Diário Econômico, concedida só a cinco dias do pleito, ao qual se apresenta como o principal rival do grande favorito das enquetes, o conservador e atual presidente Aníbal Cavaco Silva.
“É tempo de resistir, não de desistir. Os que querem o FMI (Fundo Monetário Internacional) são aqueles que defendem os sacrifícios desproporcionais que ele exige, mas não têm a coragem de propô-los diretamente ao eleitorado”, ressaltou Alegre em referência ao principal grupo da oposição, o Partido Social Democrata (PSD, centro-direita).
O aspirante socialista desprezou assim, mais uma vez, as vozes que recomendam a Portugal recorrer à ajuda externa como fizeram Grécia e Irlanda, após o forte aumento da pressão sobre a dívida soberana lusa ocorrida no início do mês, até colocá-la a um juro superior a 7%.
Alegre se apresenta as eleições pela segunda vez consecutiva e conta com o apoio do Partido Socialista e o Bloco de Esquerda, primeira e quarta força no Parlamento, respectivamente.
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O candidato se mostrou propício a uma “mudança” nas políticas europeias para garantir que os ajustes orçamentários se acompanham de outras medidas encaminhadas a fomentar o crescimento econômico, e criticou a postura da Alemanha.
“A desconstrução europeia à qual estamos assistindo, comandada pela Alemanha, é o contrário ao caminho a seguir”, ressaltou.
Alegre, conhecido por sua faceta literária, garantiu que seu objetivo na Presidência da República lusa não será o de “desfazer governos” – a lei outorga a capacidade de dissolver a Câmara -, mas moderar e dialogar com todas as forças políticas e sociais para incentivar o desenvolvimento do país.
O histórico líder socialista – começou sua carreira política nos anos 1960, na época da ditadura em Portugal – se mostrou confiante em poder forçar segundo turno nestas eleições, apesar aos resultados das pesquisas.
“Acho no discernimento do povo português no momento de escolher entre quem garante a democracia e os direitos sociais e quem mostra complacência diante das pressões dos grandes juros”, insistiu.
Crise
Nos dias 8 e 9 de janeiro, uma série de boatos e publicações de jornais da Europa, afirmaram que há uma grande pressão para que Portugal recorra a empréstimos do FMI e da UE. O governo português insiste em que não precisará de ajuda externa e que as medidas de cortes de gastos serão suficientes para que honre suas dívidas.
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Portugal não tem dívidas tão grandes quanto as da Grécia nem bancos tão problemáticos como a Irlanda, mas está com a economia estagnada. Há projeções de que o país tenha crescido 1,3% em 2010, após queda de 2,6% em 2009. Para 2011, a expectativa é crescer apenas 0,2%. Analistas acreditam que Portugal irá necessitar de algo entre € 50 bilhões (R$ 109 bilhões) e € 100 bilhões (R$ 218 bilhões) de ajuda.
Em novembro, a Irlanda recorreu a um resgate internacional de 85 bilhões de euros (US$ 113 bilhões) da UE e do FMI, incluindo os 35 bilhões de euros destinados especialmente ao setor bancário. Em maio, a UE e o FMI fecharam um acordo de resgate financeiro de 110 bilhões de euros (R$ 256,3 bilhões), válido por três anos, para salvar a economia da Grécia, que enfrentava o risco de um calote da dívida devido à sua grave situação fiscal.
Há ainda expectativas negativas em relação à Espanha, que junto com Portugal, completam o cenário negativo europeu com uma grande possibilidade de contágio econômico e piora da situação na zona do euro.
A crise dos quatro países (Portugal, Espanha, Irlanda e Grécia, conhecidos como Pigs pela inicial de seus nomes em inglês e em oposição às economia emergentes do Bric), têm como origem o descontrole do setor financeiro e a falta de fiscalização dos bancos. Basicamente, o rombo estatal é derivado da ajuda a grandes bancos e de bolhas imobiliárias.
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