O clima de euforia contagiou os mercados europeus depois que os países da zona do euro afetados pela crise da dívida – especialmente Espanha e Portugal – atingiram suas metas máximas nas primeiras vendas de bônus do ano. A Alemanha também anunciou que em 2010 seu PIB (Produto Interno Bruto) registrou 3,6%, o maior crescimento desde a reunificação do país, há duas décadas. No entanto, o alívio é ilusório e o contágio de uma crise que ameaça a existência do euro está mais latente, alertam especialistas.
“As emissões de bônus foram um sucesso, mas Portugal, por exemplo, teve de aceitar juros da dívida de 7%, quando a economia está crescendo pouco. Se continuar assim, o país vai falir”, disse Philip Whyte, economista do Centro para a Reforma Europeia, em Londres.
“As grandes dores de cabeça são Espanha e Bélgica. Até dois meses atrás, ninguém pensou que a Bélgica poderia quebrar, pois era considerada parte do coração do norte da Europa, e não os países periféricos do sul. Já a situação da Irlanda foi avaliada como irresponsabilidade, mas isso mudou”, complementou.
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O problema, apontam Whyte e outros especialistas, é que a solução imposta por Bruxelas e pela locomotiva alemã aos países em crise é semelhante aos antigos medicamentos falidos aplicados pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) na América Latina: enrijecer a fiscalização, reduzir os salários em economias com crescimento anêmico e altas taxas de desemprego.
Isso, segundo eles, dificultaria o crescimento dos países, única solução para permitir que saiam do poço. Para agravar a situação, os países não têm sequer a opção de desvalorizar suas moedas para aumentar as exportações, porque não podem abandonar o euro. “Se não houver nenhuma mudança de estratégia a crise não vai ser superada. O pior ainda não passou, a crise europeia seguirá latente em 2011”, disse Whyte.
Alemanha
Ainda assim, algo está mudando na Europa. Whyte apontou, por exemplo, que a atitude da Alemanha mudou recentemente, deixando de querer castigar os países da eurozona que estão em crise (que eram considerados irresponsáveis em suas políticas econômicas, ainda que não seja o caso da Espanha e Irlanda, mas sim a mudança da Grécia) e passando a trabalhar para salvar a moeda única e criar uma base sólida para o futuro.
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Em dezembro, por exemplo, foi elaborada uma proposta de trabalho interna do Ministério da Economia alemão contemplando a criação de uma espécie de fundo europeu de crescimento e investimento. Além disso, quase todos concordam que é preciso uma maior coordenação econômica na Europa, não apenas uma união monetária.
Agora, se reconhece também que a proposta apresentada quarta-feira (12/01) pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, para estender o resgate de fundos da UE de 973.000 milhões de euros para fortalecer o euro apesar de servir para acalmar os mercados a curto prazo, é apenas uma correção do problema.
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