Efe
Manifestante ferido na praça Tahrir, no Cairo. Egípcios preparam para esta sexta o 'Dia da Partida' de Mubarak
A sexta-feira, dia da semana dedicado às orações no mundo muçulmano, será usada mais uma vez de forma simbólica por manifestantes no Egito para pressionar pela saída do presidente egípcio, Hosni Mubarak. Com o slogan “O Dia da Partida”, eles preparam uma nova jornada de protestos marcada para dia 4 de fevereiro. Além disso, essa sexta-feira foi o prazo estabelecido pela oposição para a renúncia de Mubarak.
No dia 28 de janeiro, a chamada “Sexta-feira da Ira” reuniu centenas de milhares nas ruas das principais cidades do Egito, na maior concentração vista até aquele momento.
Nesta quinta-feira (03/02), cerca de dez mil manifestantes continuavam nos arredores da praça Tahrir, que está cercada por barricadas e tanques do Exército desde a eclosão de um violento confronto entre manifestantes pró e contra Mubarak, na quarta-feira (02/02). Algumas emissoras de televisão, como a Al Jazeera e a BBC, citam que alguns dos supostos simpatizantes do presidente estariam sendo pagos para protestar e que iniciaram os ataques.
O governo egípcio trabalha com um saldo de 836 feridos e ao menos seis cinco mortos, mas ainda não há um número definitivo de vítimas. Conforme mostraram imagens captadas a partir da praça Tahrir, os defensores do regime usaram camelos e cavalos para intimidar a multidão, que respondeu com pedras e pedaços de madeira. A violência na localidade, na zona central do Cairo, já dura mais de 24 horas. O exército ou a polícia não intervieram em nenhum momento.
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Governo
Em meio às violentas manifestações, o governo egípcio busca formas de resgatar alguma forma de estabilidade no país. Fontes egípcias anunciaram que o diálogo entre o vice-presidente Omar Suleiman, partidos políticos e “forças nacionais”, inclusive representantes dos manifestantes, começaram a acontecer. Suleiman também disse, em discurso na televisão, que os protestos são um complô contra o país preparado no exterior.
No entanto, a oposição, articulada em torno do Nobel da Paz Mohamed El Baradei, a Irmandade Muçulmana e o movimento Kefaya, condiciona o diálogo à partida imediata de Mubarak. Os jovens militantes pró-democracia, por sua vez, se recusam a dialogar com o poder.
Mais cedo, nesta quinta-feira, o primeiro-ministro Ahmad Chafic se desculpou pelos incidentes de violência e anunciou que vai investigar os confrontos ocorridos na praça Tahrir.
Jornalistas
Outro fato marcante das últimas 24 horas são as agressões contra jornalistas estrangeiros. Os brasileiros Corban Costa, da Rádio Nacional, e Gilvan Rocha, da TV Brasil, foram detidos, vendados e tiveram passaportes e equipamentos apreendidos. Desde quarta-feira à noite até esta manhã, Corban e Gilvan ficaram sem água, presos em uma sala sem janelas e com apenas duas cadeiras e uma mesa, em uma delegacia do Cairo.
O jornalista brasileiro Luiz Antônio Araújo, enviado especial ao Egito do jornal do Rio Grande do Sul Zero Hora e da rede RBS, disse que foi agredido e roubado por um grupo de 50 simpatizantes do presidente egípcio. Segundo Araújo, ele foi cercado por um pelos manifestantes munidos de pedras e facas, que roubaram sua câmera digital e carteira.
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A rede de televisão Al Arabyia relatou que partidários de Mubarak invadiram vários hoteis da capital para intimidar e agredir jornalistas. A Comissão de Proteção dos Jornalistas no Oriente Médio e África do Norte acusa o governo do Egito de tentativa de intimidação contra a mídia.
A agência de notícias Reuters confirmou que um funcionário foi agredido na praça Tahrir quando fazia uma reportagem em lojas e bancos obrigados a fechar as portas devido à violência. O equipamento dos profissionais foi apreendido e depois quebrado.
Um outro jornalista grego levou uma facada na perna de um partidário do presidente Mubarak e um fotógrafo que o acompanhava levou um soco na cabeça. Serge Dumont, do jornal belga Le Soir, foi espancado na quarta-feira por desconhecidos durante um protesto pró-Mubarak e estaria detido em uma caserna sem poder se comunicar com o exterior.
O repórter da rede CNN Anderson Cooper disse que, ao entrar na praça, ele, um produtor e um cinegrafista foram cercados por uma multidão, que começou a socá-los e a tentar a tomar suas câmeras. Ele contou via Twitter que foi novamente agredido nesta quinta-feira.
A rede de TV CBS informou que integrantes de sua equipe foram forçados a abandonar a Praça Tahrir não sem antes entregar suas câmeras sob a mira de armas por supostos militantes pró-governo.
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