Na manhã de quinta-feira, 8 de janeiro, os mexicanos acordaram com uma notícia que marcará todo o ano de 2009 no que se trata de economia: o país simplesmente não crescerá, já que o PIB (Produto Interno Bruto) deverá ser de 0%, segundo o próprio ministro da Fazenda, Agustín Carstens.
Ele classifica o México como um dos países mais afetados pela crise mundial e, sobretudo, pela recessão econômica dos Estados Unidos, pois 85% das exportações mexicanas vão para o vizinho do norte.
Os sintomas foram visíveis durante todo o ano de 2008: crescimento econômico de apenas 1,8%, o menor de todo o continente americano, sem contar o Haiti, segundo dados da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe); desvalorização anual do peso mexicano frente ao dólar de 26,70%, segundo o Banco do México (se no início de 2008 o dólar custava 10,91 pesos, ao final valia 14); desemprego de 4,47% da população, ou seja, mais de 2 milhões de pessoas, segundo o Inegi (Instituto Nacional de Estatística, Geografia e Informática).
Além disso, o México enfrentou em 2008 o impacto inflacionário nos alimentos e produtos básicos e energéticos, além da queda nas exportações e no preço do petróleo.
Tem mais. A carteira de devedores mexicanos aumentou 200% só nos últimos 11 meses, passando de 13,5 bilhões de pesos (R$ 21 milhões) no final de 2007 para 41,2 bilhões de pesos (R$ 68 milhões) um ano depois.
Assim, enquanto os preços dos insumos básicos aumentaram, o poder aquisitivo diminuiu. O salário mínimo teve aumento de 4,6% na semana passada, passando para 54,80 pesos diários (R$ 8,8 reais, ou cerca de R$ 260 mensais, contra R$ 415 no Brasil). O acréscimo foi de 2,21 pesos, insuficiente até para uma condução. Já A inflação chegou a 6,53% no final do ano.
Outro sinal negativo vem das remessas. Durante pelo menos quatro anos, o dinheiro enviado por mexicanos que vivem no exterior – principalmente nos Estados Unidos, onde vivem 30 milhões – foi a segunda fonte de captação de recursos do país, atrás somente da venda de petróleo. Em setembro de 2008, o montante havia caído para 1,7 bilhão de dólares (R$ 3,8 bilhões de reais), contra 2,4 bilhões de dólares (R$ 5,4 bilhões reais) de um ano antes.
Reação tardia
No começo de setembro do ano passado, quando a economia dos Estados Unidos se encontrava em plena recessão, o governo do México fazia pouco caso. O ministro da Fazenda inclusive fez piada com o ditado popular de que se os Estados Unidos tem um resfriado, o México pega pneumonia: “Se os Estados Unidos estão com pneumonia, nós estamos com resfriado”.
Foram necessários quatro meses para que as autoridades mexicanas reconhecessem o que os analistas vinham advertindo: o resfriado tinha evoluído para uma pneumonia fulminante.
“O problema da crise no México é que durante muito tempo, o governo a negou. Foi muito lamentável a falta de boa assessoria em questão de crise bancária e financeira, e agora vemos os resultados. Por outro lado, o México tem uma política monetária restritiva em que o objetivo é reduzir os níveis de inflação e a dívida externa, descuidando do desenvolvimento e do investimento em grandes projetos de infra-estrutura e criação de emprego”, explica a economista e pesquisadora do Instituto de Pesquisas Econômicas da Unam (Universidade Autônoma do México), Alicia Girón.
De acordo com a especialista, a situação do México tem a ver com um problema estrutural do modelo econômico: apostaram na integração econômica com os Estados Unidos, que agora falhou. “O pior ainda está por vir, porque não vemos um plano agressivo contra a crise”, advertiu em entrevista ao Opera Mundi.
Leia também sobre as medidas adotadas pelo governo do México e a história de dois mexicanos que perderam o emprego por causa da crise
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