O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva declarou que a reunião ministerial desta quarta-feira (24/07), no Rio de Janeiro, é “um dos momentos mais relevantes” dentro dos 18 meses de seu terceiro mandato.
“Neste espaço tão simbólico damos um passo decisivo para colocar esse tema no centro da agenda internacional”, afirmou o mandatário em discurso, lamentando os números “estarrecedores” referentes à fome global, revelados em relatório inédito que foi apresentado em painel realizado pouco antes do seu discurso. Em sua fala, o presidente assegurou que as cifras serão revertdidas ainda durante o seu governo.
As declarações foram proferidas no âmbito da Reunião da Força-Tarefa do G20 para a Aliança Global contra a Fome e Pobreza, que contou com a presença da primeira-dama Janja da Silva e da equipe ministerial do governo. O evento tem como objetivo fortalecer parcerias globais e compartilhar políticas públicas de sucesso para “erradicar” a insegurança alimentar e a desigualdade social.
De acordo com Lula, “reduzir a vulnerabilidade socioeconômica pavimenta o caminho para uma transição justa”.
“Os superricos pagam proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora. Para corrigir essa anomalia, o Brasil tem insistido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global, fortalecendo as iniciativas existentes e incluindo os bilionários (como alvo das políticas tributárias)”, apontou o presidente.
“Muito dinheiro na mão de poucos simboliza miséria, prostituição, analfabetismo, empobrecimento e fome. Agora o contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário. Significa sociedade própria, com emprego, e vivendo decência. A fome não é natural, exige decisão política”, concluiu, emocionado.
A Reunião da Força-Tarefa do G20 para a Aliança Global contra a Fome e Pobreza desta quarta-feira contou com a vasta presença de ministros brasileiros, como Mauro Vieira, das Relações Exteriores; Fernando Haddad, da Fazenda; Márcio Tavares, substituto da Cultura; Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome; Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos; Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Anielle Franco, da Igualdade Racial; Nísia Trindade, da Saúde; Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral; e Laércio Portela, interino da Secretaria de Comunicação Social.
Também esteve presente o diplomata Celso Amorim, assessor especial da Presidência da República para termas internacionais e ex-chanceler (ele exerceu o cargo durante os dois primeiros mandatos de Lula como presidente, entre 2003 e 2010).
Conflitos mundiais impulsionam fome global
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, abriu a reunião afirmando que o país está “profundamente preocupado” com a atual situação internacional, indicando Haiti, Faixa de Gaza e Sudão como as principais nações que enfrentam uma fome “em níveis catastróficos”.
O chanceler mencionou os números do relatório da fome que foram apresentados no painel anterior no qual participaram representantes das Nações Unidas (ONU), incluindo diretores de instituições como a Agência para Alimentação e Agricultura (FAO), o Fundo de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), o Fundo para a Infância (UNICEF), o Programa Mundia de Alimentos (PMA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), além do ministro brasileiro de Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias.
Vieira destacou a informação de que mais de 700 milhões de pessoas no mundo enfrentam fome todos os dias para expressar solidariedade à população vulnerabilizada, citando as desigualdades sociais, pobreza, mudanças climáticas e conflitos como fatores que impulsionam o problema social.
“O Brasil está profundamente preocupado com a situação internacional atual. Aproveito a ocasião para expressar a nossa consternação diante da situação no Haiti, na Faixa de Gaza e no Sudão”, afirmou o chanceler.
‘Há três anos sem sinal de reversão no Brasil’
No painel Aliança Global contra a Fome e a Pobreza ocorrido mais cedo, Wellington Dias relatou que a insegurança alimentar e a extrema pobreza foram agravadas no Brasil entre 2019 a 2022, sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro, que foi o presidente do país durante o período abordado. O ministro afirmou que a gestão “desvirtuou propósitos, colocando serviços a fins eleitoreiros” e que “a democracia brasileira entrou em risco”, afetando a camada mais pobre da sociedade.
“O relatório traz uma mensagem de desalento. Mesmo com o fim da pandemia, o mundo no geral não está conseguindo retomar os trilhos do combate à fome e à pobreza. Além de estarmos já há três anos sem nenhum sinal de reversão do grande crescimento da fome verificado durante a pandemia, as projeções lamentavelmente indicam que, a serem mantidas as tendências atuais, 582 milhões de pessoas ainda estarão cronicamente desnutridas em 2030, data limite para atingimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, relatou Dias.