‘A polícia vai reprimir’: governo Milei ameaça aposentados em telas do metrô de Buenos Aires
Manifestantes protestam contra direitos cortados pelo presidente ultraliberal, e também contra um acordo com o FMI imposto por decreto
A Argentina se prepara para mais uma jornada de manifestações em todo o país, especialmente na capital Buenos Aires, onde se espera que dezenas milhares de pessoas compareçam aos protestos em frente ao Congresso Nacional, convocados para esta quarta-feira (19/03).
O evento acontece exatamente uma semana depois da Marcha dos Aposentados, mobilização que foi marcada por uma forte repressão imposta pelas forças de segurança, e que terminou com mais de 150 detenções e dezenas de pessoas feridas, entre as quais nove apresentaram casos graves e com ferimentos na cabeça.
A nova marcha, convocada pela União dos Trabalhadores da Economia Popular (UTEP), tem como objetivo reforçar a reivindicação pelos direitos dos aposentados e contra os cortes de verbas para a previdência social durante o governo do presidente Javier Milei.
Entre as principais demandas estão: um aumento das aposentadorias (cujo valor mínimo atual é de 349 mil pesos argentinos, equivalentes a 1,9 mil reais); restaurar o programa de medicamentos gratuitos, cujo orçamento foi cortado severamente, apesar de o custo dos medicamentos ter triplicado no país; e restabelecer o benefício da moratória previdenciária, que foi suspenso pelo atual governo e sem o qual seria impossível a aposentadoria de nove em cada dez mulheres e oito em cada dez homens próximos à idade de se retirarem.
‘A polícia vai reprimir’
Antes mesmo do início da jornada de protestos, diversos meios de comunicação chamaram a atenção para um aviso que apareceu nos letreiros de quase todas as estações de trem e metrô da capital argentina. A mensagem diz: “protesto não é violência, a polícia vai reprimir qualquer ataque contra a República”.
Segundo o jornal digital El Destape, essa mesma mensagem já foi propagada às vésperas de outras manifestações contra o governo de Javier Milei e faz parte da “narrativa que visa caracterizar todas as manifestações contra o governo como uma tentativa de golpe de Estado”.
Efetivamente, na última quinta-feira (13/03), o governo argentino protocolou uma ação na Justiça acusando as entidades que convocaram a marcha realizada no dia anterior por uma suposta “tentativa de golpe de Estado”.

Letreiro em uma estação de Metrô em Buenos Aires anuncia que polícia de Milei irá reprimir manifestantes contra o governo
Cautelar anti repressão
No caso da marcha desta quarta-feira (19/03), o deputado Juan Marino, representante da coalizão peronista União pela Pátria (centro-esquerda, de oposição a Milei), pediu uma cautelar no 8º Juizado Criminal de Buenos Aires para proibir as Forças de Segurança de utilizarem bombas de gás lacrimogêneo.
A solicitação usa como exemplo um dos casos mais graves registrados na jornada da semana anterior, que foi o de Pablo Grillo, um fotojornalista que recebeu estilhaços de uma bomba de gás lacrimogêneo que explodiu perto da sua cabeça, após ser lançada pelas forças de segurança – o outro episódio de maior risco vital na semana passada foi o de Beatriz Blanco, uma senhora de 87 anos que foi jogada no chão por um policial.
Segundo o deputado Juan Marino, “esta é uma medida a favor de todos os cidadãos que participarão da marcha”.
“Todos vimos o que aconteceu no dia 12 de março, o risco à integridade física e à liberdade de expressão das pessoas que querem se manifestar, e esses direitos precisam ser protegidos”, acrescentou o parlamentar perionista.
DNU por acordo com o FMI
A marcha desta quarta também acontece em paralelo a uma votação, por parte da Câmara dos Deputados, a respeito do Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) imposto pela Casa Rosada, que colocou em vigência um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A coalizão peronista União Pela Pátria e até partidos de direita que costumam ser aliados do governo ultraliberal de Javier Milei no parlamento, alegam que o DNU representa uma violação dos artigos 75 e 76 da Constituição argentina, os quais pregam que qualquer dívida com organismos internacionais só pode se tornar vigente após ser aprovada pelo Congresso, em tramitação realizada nas duas casas (Câmara dos Deputados e Senado).
Com informações de El Destape, TeleSur e Página/12.
