Quarta-feira, 16 de julho de 2025
APOIE
Menu

A discussão sobre a legitimidade do Grupo dos 20 para tomar decisões
globais se renova quando faltam poucos dias para sua nova reunião de
cúpula, em Seul. Do encontro, que acontecerá nos dias 11 e 12 deste mês,
participarão países que produzem coletivamente cerca de 85% da riqueza
mundial. O G20 foi formado a partir do Grupo dos Oito (Alemanha, Canadá,
Estados Unidos, França, Reino Unido, Itália, Japão e Rússia) e inclui
Austrália, Coreia do Sul, México, Turquia e mais sete países em
desenvolvimento – Brasil, Argentina, Arábia Saudita, China, Índia,
Indonésia e África do Sul –, além da União Europeia.

Em resposta a uma crescente controvérsia sobre a legitimidade e
competência do bloco, The Century Foundation, com sede em Nova York,
organizou no final de outubro um debate do qual participaram quatro
especialistas em economia e política internacionais. Entre os vários
temas políticos figurou a dinâmica relação entre o G20 e a ONU
(Organização das Nações Unidas). Desde que o presidente dos Estados
Unidos, Barack Obama, proclamou o G20 como o “ponto focal para a
coordenação internacional”, relegando o mandato da ONU sobre direitos
humanos, igualdade de gênero, boa governança e manutenção da paz, muitos
atores expressaram preocupação pela influência do bloco.

“Existe o perigo de o G20 ser visto como um substituto da ONU”, disse
Shashi Tharoor, ex-subsecretário geral das Nações Unidas e ministro
indiano das Relações Exteriores. “Mas isso não será aceitável, já que
são fóruns muito diferentes e estamos muito fortemente comprometidos com
a ONU”, ressaltou. Stewart Patrick, do Council on Foreign Relations,
afirmou em um documento político que o “G20 é uma organização mais ágil”
do que a ONU, por não estar cheia de burocracia. Mas, no começo deste
ano o chanceler norueguês, Jonas Gahr Støre acusou o G20 de ser um bloco
arbitrário, sem um mandato claro, e o descreveu como “a maior
adversidade para a comunidade internacional desde a Segunda Guerra
Mundial”.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Støre estava indignado pela falta de representação dos Estados nórdicos,
que coletivamente constituem a oitava maior economia mundial. “Os
noruegueses são os principais contribuintes dos programas de
desenvolvimento internacional da ONU”, disse. “Nosso futuro fundo é o
segundo maior do mundo. Assim, nossas experiências podem ser valiosas
nos debates sobre uma reforma das finanças mundiais”, acrescentou.

O chanceler não foi o primeiro e, certamente, não será o último a
manifestar uma oposição tão contrária ao G20. Vários acadêmicos e
financistas internacionais de países excluídos se mostram dúbios, quando
não abertamente hostis, diante de sua escassa representação no bloco.
Para o professor de economia Jayati Ghosh, da Universidade Jawaharlal
Nehru, de Nova Délhi, “o G20 eclipsou completamente a ONU e a tornou
marginal em termos de geopolítica e relações econômicas internacionais”.
Apesar de haver alguns lugares destinados aos países pobres, “está bem
claro quem tem a última palavra”, disse Ghosh à IPS.

Embora o G-20 tenha reiterado que está conseguindo triunfos em superar a
brecha Norte-Sul, os números de países como Índia e China mostram
evidências contrárias. Nesse sentido, Ghosh atacou a Índia, insistindo
que precisa “olhar para além dos estreitos interesses de suas próprias
elites e reconhecer o quanto tem em comum com a maior parte do mundo em
desenvolvimento”.


Crise financeira

O único ponto de convergência entre críticos e promotores do G20 parece
estar na crise financeira de 2009, quando foram tomadas medidas
imediatas em favor da estabilidade mundial. Nesse ponto, novamente, os
números do resgate financeiro dizem algo diferente. Segundo informe
divulgado em 2009 pela Oxfam, a soma comprometida para esse resgate foi
de US$ 8,4 trilhões. Números do Banco Mundial durante o mesmo período
mostram que para tirar da pobreza 1,5 bilhão de pessoas que vivem com
menos de um dólar por dia são necessários US$ 173 bilhões. Assim, os
recursos gastos nesse resgate foram suficientes para acabar com a
pobreza mundial durante meio século.

Talvez, o reflexo mais preciso da posição que ocupa o G20 na comunidade
internacional sejam os protestos que ocorrem duas vezes ao ano na cidade
onde faz sua reunião. Por ocasião da última cúpula do bloco, em
Toronto, no mês de junho, dezenas de milhares de manifestantes saíram às
ruas enfurecidos por considerarem que haviam sido desperdiçados US$ 1,2
bilhão de fundos fiscais na organização do encontro.

A cúpula de Seul acontecerá em um momento de imensa agitação econômica
mundial, e os críticos afirmam que é vital que o G20 se adapte ao novo
clima financeiro.



*Reportagem originalmente publicado pelo IPS e reproduzida pela Agência Envolverde.

Siga o Opera Mundi no Twitter

A poucos dias de reunião em Seul, legitimidade do G20 é questionada

NULL

NULL

NULL