A uma semana das eleições legislativas nos Estados Unidos, marcadas para a próxima terça-feira (04/11), o tema da saúde pública parece ter, novamente, se tornado um dos centros da campanha política para o Congresso. Mas, desta vez, não é o programa Obamacare o responsável por mover corações e mentes entre o eleitorado norte-americano. O ebola, e a forma como as autoridades vêm enfrentando a epidemia que já causou uma vítima fatal em solo norte-americano, aparece como importante ferramenta política disputada pelos dois lados do espectro partidário.
Se a campanha nacional teve um início morno e com poucas novidades — tudo indicava que o Partido Republicano deveria manter a maioria na Câmara dos Representantes e, possivelmente, conseguir as cadeiras suficientes para tomar das mãos democratas também o Senado — o surto do vírus entrou de vez para a agenda dos dois partidos nesta reta final, num país em que, em meio à paranoia e ao medo, 80% da população teme que a epidemia da doença se alastre no território.
Agência Efe
“Ebola: estou em risco”: repórter segura panfleto informativo sobre o vírus distrubuído pelos EUA; assunto entrou na pauta das eleições
A ideia dos republicanos que disputam assentos no Legislativo é ligar seus adversários democratas à Casa Branca, já que o governo do presidente Barack Obama, acusado de incompetência ao lidar com o ebola, enfrenta uma das piores taxas de aprovação desde que assumiu o cargo, em 2009.
Vice-chefe do comitê que comanda a campanha republicana ao Senado e virtual pré-candidato do partido às eleições presidenciais de 2016, o senador texano Ted Cruz, expoente do Tea Party, foi firme ao afirmar que a FAA (agência federal que regulamenta o setor de aviação civil nos EUA) deveria banir todos os voos vindos dos países da África Ocidental. A opinião do parlamentar republicano é compartilhada por mais de 70% da população norte-americana, segundo pesquisa recente.
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O vírus do ebola aterrissou primeiro nos EUA em Dallas, no estado do Texas, curral eleitoral de Ted Cruz. O primeiro paciente a morrer, no dia 8 de outubro, foi o liberiano Thomas Eric Duncan, que não tinha sintomas da febre hemorrágica quando deixara a Libéria. Duas enfermeiras que trataram o paciente no hospital de Dallas também acabaram por contrair o vírus — monitoradas, ambas passam bem. O quarto, e último caso confirmado, desta vez em Nova York, é o profissional de saúde Craig Spencer, que esteve na Guiné trabalhando pela ONG Médicos Sem Fronteiras.
Fronteiras fortes x cortes de gastos
“Usar o ebola é parte de uma tentativa de transformar esse pleito em uma eleição nacional”, afirmou à Reuters o cientista político Steven Schier. Tradicionalmente com menos destaque do que a campanha presidencial, as chamadas “Midterms” dialogam mais com pautas locais, já que no sistema de voto distrital usado nos EUA cada região vai às urnas para apontar especificamente seus representantes no Capitólio.
Agência Efe
Obama dá um abraço na enfermeira Nina Pham, que havia contraído o vírus no hospital de Dallas mas hoje está livre da doença
“Senhoras e senhores, temos um surto de ebola. Temos pessoas suspeitas que cruzam nossas fronteiras. Precisamos fechá-las e protegê-las”, disse o candidato republicano ao Senado pelo estado da Carolina do Norte, Thom Tillis, em debate televisionado.
As fileiras democratas não hesitaram em responder e já acusam a sanha republicana por redução nos gastos públicos de ser a responsável por sucatear o órgão encarregado de agir contra o ebola. O candidato democrata ao Senado pelo estado do Colorado, Mark Udall, chegou a acusar o adversário, o republicano Cory Gardner, de ter votado a favor de um corte de US$ 300 milhões no orçamento do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA). Até ex-secretária de Estado Hillary Clinton, cotada para suceder Obama na corrida presidencial, entrou na discussão: “Eles [funcionários do CDC] estão trabalhando heroicamente, mas não têm mais os recursos que costumavam ter”.
“Republican Cuts Kill”: Abaixo, veja o vídeo produzido pela ONG pró-democrata Agenda Projetct Action Fund:
O duelo sobre quem é o culpado pela condução do combate à epidemia também vai além da troca de acusações entre candidatos. Há duas semanas, a entidade liberal pró-democratas Agenda Project Action Fund produziu um vídeo publicitário de um minuto em que culpa a oposição. Entrecortado por fortes imagens de sacos com cadáveres e médicos com trajes de proteção, a campanha intitulada “Republican Cuts Kill” (“Cortes dos republicanos matam”, em tradução livre) traz uma coletânea de importantes políticos da oposição repetindo exaustivamente a palavra “corte”.