Pelo menos duas pessoas morreram após os enfrentamentos realizados entre o Exército turco e o grupo EI (Estado Islâmico) nesta quinta-feira (23/07). Trata-se do primeiro confronto direto envolvendo as Forças Armadas da Turquia e os jihadistas.
A ação ocorre em meio a críticas da esquerda curda, minoria no país, de que o governo turco seria aliado do EI, percepção baseada na falta de ação com relação à situação dos curdos na cidade síria de Kobani, que vem sendo alvo dos jihadistas desde setembro de 2014.
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Agência Efe
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A tensão na Turquia escalou após o atentado suicida que matou 32 jovens e deixou dezenas de feridos há três dias na cidade Suruç. Eles pretendiam combater os jihadistas na cidade síria de Kobani e ajudar as vítimas do grupo.
O combate desta quinta começou por volta de 7h30 (de Brasília), quando uma caminhonete do EI passou perto de um posto fronteiriço militar turco na província de Kilis e metralhou os soldados de guarda, matando um e ferindo outros dois.
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Os tanques turcos responderam e mataram um militante do EI. Após o ato, o Exército também bombardeou posições do grupo perto da cidade síria de Azaz, e vários caças F-16 decolaram da base aérea de Diyarbakýr para patrulhar a região.
Esquerda curda
A falta de ação da Turquia até hoje com relação aos atos perpetrados pelo EI em Kobani provocou a crítica da esquerda curda. Eles consideram que a posição reflete uma visão positiva do domínio dos jihadistas na região que pretende estabelecer uma administração autônoma nesta faixa.
Nos últimos dias, políticos do partido HDP (Partido Democrático dos Povos) atribuíram ao Executivo parte da responsabilidade pelo atentado de Suruç.
No mesmo dia do massacre contra os 32 jovens, um tiroteio entre forças da ordem e membros do partido curdo PKK (Partido de Trabalhadores de Curdistão) em Adiyaman deixou um policial morto. Trata-se de um dos poucos incidentes com vítimas mortais desde que a guerrilha curda proclamou um cessar-fogo, há dois anos. Eles acusam o governo de “ter aberto a Turquia ao EI”.
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Ontem, no entanto, a situação ganhou nova tônica. Isso porque o PKK reivindicou a autoria do assassinato de dois policiais, executados enquanto dormiam em casa na cidade de Ceylanpinar, na fronteira com a Síria. A justificativa do grupo foi de que os agentes “colaboravam com o Estado Islâmico”.
Na mesma linha, a organização urbana e juvenil do PKK, conhecida pela sigla YDG-H, anunciou uma campanha de assassinatos de membros do EI na Turquia e reivindicou a autoria do assassinato, em Istambul, de um homem que seria importante dentro da hierarquia do grupo jihadista.
Agência Efe
Manifestantes culpam governo pela morte dos jovens
O jornal turco Hürriyet Daily News afirmou, com base em fontes policiais, que Mürsel Gül realmente tinha vínculos com o EI e que tinha viajado várias vezes à Síria. Gül, de 45 anos, comemorou o massacre dos “infiéis” de Suruç em sua conta no Facebook, em que não faltaram mensagens a favor do EI, como noticiou a Agência Efe.
“Nosso trabalho contra membros do EI continua e identificamos alguns. Serão punidos com a execução”, advertiu o comunicado do YDG-H.
Diante deste cenário, há uma possibilidade de que com o fim do cessar-fogo, possa haver uma nova onda de conflitos entre o PKK e o Exército.
Estrangeiros no EI
Estimativa dos serviço secreto turco publicada nesta quinta-feira pelo jornal Hürriyet revela que entre mil e 1,3 mil turcos estejam nas fileiras do EI, incluindo os que morreram em combate ou retornaram à Turquia.
O EI tem entre 40 e 70 mil militantes, dos quais 24 mil não são nem sírios e nem iraquianos. O levantamento entregue a ministros turcos revela que a os europeus são a maioria entre os combatentes estrangeiros.