A coalizão de esquerda uruguaia Frente Ampla definiu sua chapa presidencial uma semana depois do opositor Partido Nacional – e com figuras notadamente mais sérias. Danilo Astori, ex-ministro de Economia do governo de Tabaré Vázquez, aceitou acompanhar José Mujica para as eleições de 25 de outubro, mas não chegou a um acordo político com o ex-guerrilheiro. Mujica derrotou Astori nas eleições primárias de 28 de junho e assim se tornou o candidato único da FA. Os dois mantêm divergências em temas como política monetária e inserção internacional.
O senador do Partido Nacional Carlos Moreira referiu-se à aliança com ironia. “Não é muito estimulante, considerando a cara de tristeza de todos. Não é uma boa maneira de começar uma campanha, já que pelo visto eles ainda têm de entrar em acordo sobre tudo. Se formos comparar os dois começos, fico com o nosso”, afirmou ao Opera Mundi. Para Moreira, o fato de Astori ter aceitado a candidatura à vice-presidência não beneficiará a FA por causa do modo como se definiu a chapa.
O ambiente na sede da Frente Ampla segunda-feira (6) contrastou com o alvoroço que dominou o Partido Nacional quando Jorge Larrañaga aceitou ser candidato a vice, acompanhando Luis Alberto Lacalle. Enquanto o PN contou com a presença dos principais dirigentes, a sóbria entrevista coletiva da FA só teve a participação dos candidatos e do presidente da coalizão.
“A definição do PN foi mais notável e espetacular e, portanto, tem um peso simbólico mais importante”, opinou Agustín Canzani, cientista político e diretor da Fundação frenteamplista Líber Seregni (similar à Fundação Perseu Abramo, do Partido dos Trabalhadores, no Brasil). No entanto, disse Canzani ao Opera Mundi, as definições das chapas presidenciais “são questões mais conjunturais na campanha” e devem ser avaliadas no médio prazo.
Por outro lado, acrescentou Canzani, o fato de Astori ter aceitado a candidatura a vice significa “nivelar” e equilibrar a fórmula, já que ele representa um setor da FA que não se identifica com Mujica. “A FA tem agora o desafio de mostrar que o todo é mais importante que as partes”, afirmou.
Em termos programáticos, Canzani lembrou que a FA já possui um programa comum, aprovado por seu Congresso, e observou que agora o desafio é construir a plataforma de governo.
Para o analista, a entrada de Astori na chapa fará com que o discurso de campanha tenha mais referências “à gestão de governo como elemento básico da convocação eleitoral” e mais referências à macroeconomia. Neste ponto, ele diz que a presença de Astori “provavelmente tornará Mujica mais moderado no tratamento de alguns temas econômicos”, como ocorreu com o atual presidente, Tabaré Vázquez, na campanha de 2004, quando designou Astori como seu ministro de Economia.
Astori como diferencial
Na FA, embora se afirme que a definição da chapa não foi a melhor em termos simbólicos, a crença majoritária é a de que a presença de Astori constitui um diferencial para vencer as eleições presidenciais de outubro. “Sempre é possível melhorar, mas a chapa é a melhor que temos, é uma chapa imbatível, embora obviamente não se possa esquecer que a FA obteve 50 mil votos a menos que o Partido Nacional (nas eleições internas)”, observou o senador frenteamplista Rafael Michelini.
A chapa presidencial frenteamplista deverá ser ratificada pelo Plenário da esquerda neste sábado (11). Mujica afirmou segunda-feira (6) que é uma “grande honra” ter a companhia de Astori e que seu partido vai “lutar pela continuação das conquistas do governo do Dr. Tabaré Vázquez, que inaugurou uma etapa de transformação na história nacional que não queremos ver retroceder”.
Astori, por sua vez, prometeu trabalhar para que Mujica seja o próximo presidente da República e afirmou ter aceitado a candidatura a vice porque estará “no lugar onde a FA” necessitar que ele esteja.
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