O Talibã avança no Vale do Panshir, o último grande foco de resistência armada ao grupo que tomou o poder no Afeganistão, de acordo com as últimas informações divulgadas neste domingo (05/09). Washington alerta sobre os riscos de uma guerra civil no país.
Desde 30 de agosto e com a saída das últimas tropas norte-americanas do Afeganistão, as forças do movimento islâmico lançaram uma série de ofensivas contra este vale, sem litoral e de difícil acesso, localizado a 80 quilômetros ao norte de Cabul.
Uma fortaleza anti-Talibã de longa data, que o lendário comandante Ahmed Shah Massoud ajudou a tornar famosa, no final dos anos 1990, antes de ser assassinado pela Al Qaeda, em 2001, agora é a sede da Frente de Resistência Nacional (FNR).
Liderada por Ahmad Massoud, filho do comandante Massoud, a FNR inclui membros de milícias locais e ex-membros das forças de segurança afegãs, que chegaram ao vale quando o resto do Afeganistão foi dominado pelo Talibã.
De acordo com a ONG italiana Emergency, presente em Panshir, as forças do Talibã chegaram a Anabah na noite da sexta-feira (03/09), um vilarejo localizado neste vale que tem 115 km de extensão. “Muitas pessoas fugiram dos vilarejos da região nos últimos dias”, informou a ONG em um comunicado, acrescentando que havia recebido “um pequeno número de feridos no centro cirúrgico de Anabah”.
Um oficial do Talibã afirmou no Twitter que várias partes do Panshir estavam agora sob o controle das forças do regime. Do lado da resistência, Ali Maisam Nazary, porta-voz da FNR, garantiu no Facebook que a resistência “nunca falharia”.
O ex-vice-presidente do Afeganistão, Amrullah Saleh, refugiado em Panshir, denuncia uma “crise humanitária em grande escala”, com milhares de deslocados na sequência da tomada de poder do Talibã.
A comunicação é muito difícil no Vale do Panshir e a imprensa internacional não foi capaz de confirmar, através de uma fonte independente, o real avanço do Talibã na área.
Condições para uma guerra civil
Diante da situação caótica, o Chefe do Estado-Maior dos Estados Unidos, general Mark Milley, estimou que “as condições para uma guerra civil” seriam “provavelmente satisfeitas” no Afeganistão.
U.S. Marine/ Isaiah Campbell
Após voltar ao poder, grupo Talibã promete o estabelecimento de um governo ‘inclusivo’ o Afeganistão
“Acho que há pelo menos uma probabilidade muito alta de uma guerra civil” que poderia levar “a uma reconstituição da Al-Qaeda ou ao fortalecimento do ISIS (o grupo Estado Islâmico) ou de outros grupos terroristas”, disse ele em uma entrevista ao canal americano Fox News, transmitida no sábado.
Sem governo
Enquanto isso, o Afeganistão segue sem saber quem vai dirigir o país e a composição do novo governo, três semanas após a chegada do Talibã ao poder. O grupo deseja ser reconhecido pelas potências estrangeiras e recentemente conclamou as embaixadas a se reinstalarem no país, enquanto a comunidade internacional observa com atenção o cumprimento das promessas de abertura feita pelos talibãs.
De volta ao poder 20 anos depois de ter sido derrubado por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, o Talibã é monitorado pela comunidade internacional, que avisou que julgaria o movimento islâmico por suas ações.
Desde a sua chegada à Cabul, em 15 de agosto, o Talibã promete o estabelecimento de um governo “inclusivo” e se comprometeu a respeitar os direitos das mulheres, ao contrário do que aconteceu durante o seu primeiro mandato, entre 1996 e 2001.
No sábado (04/09), pelo segundo dia consecutivo, dezenas de mulheres saíram às ruas de Cabul para exigir o respeito aos seus direitos e uma participação feminina no futuro governo.
Ajuda humanitária
O Catar enviou 15 toneladas de ajuda humanitária de todo o mundo para o Afeganistão, neste sábado, e indicou que novos voos continuariam a se dirigir ao país “nos próximos dias”.
A ONU, que esta semana alertou para uma “catástrofe humanitária iminente”, realizará uma reunião entre os Estados-membros no dia 13 de setembro para aumentar a ajuda humanitária ao país.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, é esperado de segunda a quarta-feira no Catar, país que vem dialogando com a nova potência afegã.