Afetada por apagões, Cuba aposta na energia solar como alternativa
Com instalação de parques fotovoltaicos, governo cubano espera acabar com cortes
No dia 18 de outubro, os cubanos sofreram um dos maiores apagões de energia em anos, após a usina de energia Antonio Guiteras, a maior e mais eficiente das oito usinas termoelétricas que abastecem a ilha, ter sofrido uma falha, afetando 10 milhões de cubanos e levando à queda de toda a rede nacional de energia.
Desde então, dois outros apagões nacionais ocorreram em Cuba: um causado mais uma vez por uma falha na usina Antonio Guiteras e o outro associado à passagem do furacão Rafael pelo país em 6 de novembro, que causou danos à rede elétrica no oeste da ilha. Os cubanos têm sofrido continuamente ainda com longos períodos diários sem energia, que podem atingir até 50% do território e durar mais de 12 horas em algumas regiões.
Os desafios do setor energético cubano estão associados a múltiplos fatores. Com boa parte do sistema de energia é dependente de usinas antigas, com tecnologias obsoletas, os reparos têm de ser constantes, assim como são as falhas. Além do bloqueio imposto à ilha pelos Estados Unidos ter prejudicado a capacidade de Cuba renovar essa parte vital de sua infraestrutura, por exemplo por meio de acesso a empréstimos para investimentos, ele também prejudica a importação de peças de reparo ou a contratação de profissionais estrangeiros.
O bloqueio afeta também a capacidade cubana de importar combustíveis. Com 95% de sua energia gerada a partir de combustíveis fósseis, estima-se que as importações de energia da ilha custem até tres vezes mais do que o preço médio internacional, já que as sanções norte-americanas podem atingir qualquer navio que aporte em Cuba, encarecendo a cadeia logística para a ilha. Além disso, o bloqueio dificulta a obtenção de reservas internacionais, fundamentais para a compra de combustíveis.
Por outro lado, uma crítica recorrente entre a população e especialistas é a de que o governo cubano alocou recursos demais em outras áreas estratégicas, deixando o setor energético comprometido. “Muito pouco foi investido no setor, o que em última instância cobra seu preço. O contraste é evidente quando comparamos os recursos alocados em hotéis de luxo”, disse ao El País o economista Ricardo Torres, ex-pesquisador da Associação para o Estudo da Economia Cubana (ASCE), nos Estados Unidos. Durante o apagão nacional de outubro, boa parte destes hotéis também ficaram sem energia, afetando um setor chave da economia cubana, responsável por cerca de 7% do PIB nacional.

(Foto: Union Electrica / Irena / Flickr)
Para enfrentar o problema, uma das principais apostas do governo cubano tem sido a instalação de parques de energia solar. Até 2028, há a previsão de 92 novos parques do tipo. “Destes [92], 55 estarão disponíveis em 2025, o que possibilitará eliminar os apagões durante o dia”, disse o ministro de Relações Exteriores do país, Bruno Rodriguez, na última quinta-feira (26).
Em informe à Comissão de Indústria, Construção e Energia do Parlamento cubano, o ministro de Minas e Energia, Vicente de la O Levy, disse que até fevereiro de 2025 haverá dois novos parques de energia solar, e mais seis em março. A previsão é de uma média de cinco novos parques em operação por mês em 2025, com capacidade de geração combinada de 1.2 gigawatts de energia à rede elétrica cubana, que atualmente conta com uma capacidade instalada de geração de energia de 7.76 gigawatts. “No primeiro semestre teremos 590 megawatts, no segundo semestre 612 megawatts, que somam 1,2 gigawatts”, disse ele.
Segundo a chefe do Laboratório de Pesquisa Fotovoltaica da Universidade de Havana, Lídice Vaillant, o governo cubano planeja alcançar uma participação de 12% da geração energética do país por meio das usinas fotovoltaicas até 2031, reduzindo assim a dependência da ilha nos combustíveis fósseis. Outras medidas, como a produção de energia a partir de biomassa feita do bagaço de cana-de-açúcar e a instalação de parques eólicos, também são previstos.
