O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, deu início hoje (5) ao segundo mandato. A reeleição havia sido formalizada nesta semana pelo líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei.
A polícia impediu protestos de opositores reunidos nas imediações do Parlamento em Teerã, cercado por um forte aparato policial. Eles acusam o presidente de fraude nas eleições de junho.
Ahmadinejad também foi reconhecido pela primeira vez ontem (4) pela Casa Branca como “líder reeleito”. O motivo da demora na declaração dos Estados Unidos se deve às circunstâncias suspeitas em que a vitória do iraniano aconteceu, principalmente por conta da rapidez na contagem dos votos e pela diferença de números previstos para os candidatos com os obtidos nas urnas.
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Apesar de admitir a reeleição de Ahmadinejad, o governo norte-americano disse que não pretende felicitá-lo hoje, no dia de sua posse.
Após a divulgação do resultado das eleições, a população iraniana saiu às ruas para protestar. As manifestações deixaram mais de 20 mortos.
Oficialmente, Ahmadinejad recebeu 63% dos 40 milhões de votos, contra 34% do candidato reformista Mir Hossein Moussavi.
O início: Ahmadinejad, o filho do ferreiro
Mahmoud Ahmadinejad, nascido em 1956, é um discípulo da Revolução Iraniana de 1979, um exemplo das camadas e grupos que conquistaram vez e voz com a grande mudança “modernizadora” que ela providenciou. Por exemplo, a taxa de fecundidade da mulher iraniana caiu bastante durante os últimos 25 anos – de 6 filhos por mulher passou para 1,7.
Com o êxodo rural, o pai de Ahmadinejad, ferreiro, guiou sua família modesta até os subúrbios pobres de Teerã, carregando o conservadorismo nos costumes e hábitos.
Rapidamente, o filho se torna adepto da seita dita “mahdista”, um chiismo heterodoxo que pretende acelerar a vinda do Messias (o mahdi esperado). Ahmadinejad milita ao lado dos estudantes islâmicos, na época minoria nas universidades, onde predominavam o marxismo e o marxismo islâmico. Diplomado engenheiro em 1987, o jovem participa da guerra contra o Iraque, servindo como instrutor dos Bassidjs – grupo de estudantes leais ao aiatolá e subordinados à guarda revolucionária iraniana – e depois, como voluntário da guarda.
Depois, ele ocupa postos administrativos como governador nomeado em cidades do Azerbaijão durante quatro anos, depois como conselheiro no Curdistão durante dois anos, e em seguida, como governador geral da recém-criada província de Ardabil, onde é escolhido durante três anos seguidos como melhor governador do Irã. A chegada do presidente Khatami ao poder o tira da administração, e ele volta a dar aulas na universidade de Ciências e Tecnologia.em 1997.
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Sim, podemos…
Ahmadinejad saberá canalizar as frustrações dos Pasdaran (guarda revolucionária) e Bassidjs acumuladas no período pós-guerra, do Iraque quando se sentem inúteis, e igualmente traídos pela abertura “selvagem” promovida por Ali Akbar Hashemi Rafsandjani – aiatolá de 1989 e 1997 – e pelo reformismo “diletantista” de Muhammad Khatami (1997-2005).
Impulsionado pela falta de liderança dos conservadores, Ahmadinejad aproveita a ocasião de uma das eleições menos concorridas da história da república islâmica, as municipais de 2003, prejudicadas pela decepção popular com os reformistas, para ganhar a prefeitura de Teerã.
Durante a eleição e ocupando a prefeitura, ele forja a imagem de um homem simples e trabalhador, que lhe serve de trampolim. Também, começa a tecer uma rede nacional conservadora, que parte da prefeitura e se apóia no ressentimento dos Bassidjs e Pasdaran em todo o país. Nesses dois anos que antecedem a eleição presidencial de 2005, Ahmadinejad prepara sua máquina eleitoral e teoriza o que ele chama de “segunda revolução islâmica”, focada no combate à corrupção, que se aloja nas instituições e privilegia os mostazafin (humildes) e na recuperação dos valores islâmicos “autênticos”.
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Com slogans simples, mas empolgantes ( “é possível…sim, podemos”, “darei o dinheiro do petróleo pra aqueles que nunca o receberam”), Ahmadinejad, desconhecido fora da capital, consegue a façanha de chegar em segundo lugar nas eleições, a frente de figuras destacadas do reformismo e do conservadorismo. Atípica, com sete candidatos consistentes que repartem os votos, a eleição culminou pela primeira vez em um segundo turno.
No primeiro turno, ele fica somente atrás do favorito e ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, líder do regime dos anos 1980 e 1990, mas também um dos homens mais ricos do país. No segundo turno, ele usa a rejeição popular cristalizada contra Rafsandjani pra ganhar com mais de 61% dos votos e virar uma surpresa nacional.
O Irã elege o primeiro presidente leigo da revolução islâmica, um conservador “crente” e “místico” em sua fé rudimentária, um “filho de ferreiro” que muda os parâmetros do jogo político e eleitoral.
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