Sábado, 12 de julho de 2025
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Diante da dificuldade dos Estados Unidos, da China e de alguns países da Europa chegarem a um acordo sobre as novas metas de redução nas emissões de poluentes, a Conferência de Mudanças Climáticas a ser promovida pela ONU (Organização das Nações Unidas), em Copenhague, de 7 a 18 de dezembro, tende a repetir o fracasso do Protocolo de Quioto. A três semanas do prazo estabelecido pela comunidade internacional para se chegar a um acordo de combate ao aquecimento global a partir de 2013, os líderes políticos descartaram a possibilidade de assinar ainda neste ano um novo tratado climático internacional.

Consultados pelo Opera Mundi, pesquisadores acreditam que um dos pontos fundamentais para a elaboração de um compromisso mundial é o posicionamento dos Estados Unidos e da China, responsáveis por 40% das emissões de gases causadores de efeito estufa. Como o presidente Barack Obama, em visita ao chinês Hun Jintao, reconheceu o impasse para fechar um acordo até a cúpula, os analistas acreditam que a reunião de Copenhague tem tudo para não produzir efeitos práticos. Ainda assim, defendem a apresentação de uma solução, mediante um esforço para a melhoria do diálogo entre ambientalistas e políticos.

O físico Paulo Artaxo, especialista em química atmosférica e um dos autores do quarto e último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), acredita que os governos ainda deveriam tentar obter um acordo em Copenhague para tentar controlar as ondas de calor e o aumento do nível do mar. Segundo o professor da USP (Universidade de São Paulo), um dos caminhos possíveis é tentar mobilizar a sociedade civil, mas “principalmente o poder público, para que exista também um interesse em encontrar e aprovar uma negociação”.

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“É preciso fazer com que as pessoas escutem os ambientalistas e sensibilizem os políticos. Eles devem levar isso em conta na hora dos preparativos para Copenhague. Caso contrário, vamos ter um novo Quioto. De que adianta uma negociação sem assinatura dos Estados Unidos?”, questiona.

Artaxo refere-se ao Protocolo de Quioto, acordo anti-aquecimento global que vence em 2012, e ao fato de os Estados Unidos se negarem a assiná-lo. O então presidente norte-americano George W. Bush alegava que tais compromissos de redução de emissão interfeririam negativamente na economia norte-americana.

O coordenador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental da USP Paulo Saldivia, pesquisador da Universidade de Harvard, acredita que a cúpula pode trazer algo de útil para tentar amenizar os problemas ambientais.

“Há possibilidade de mudança no rumo do problema, desde que se faça alguma coisa”, diz. Para ele, o congresso norte-americano ainda não aprovou a legislação porque uma das dificuldades são as “linguagens dos políticos e dos cientistas, que são muito diferentes”, aspecto que precisa ser mudado, segundo ele.

Saldivia cita também os entreveros econômicos. “Você fala em petróleo, em energia, que é o dependente químico de um planeta doente, mas é uma adversidade por conta da dependência energética e de interesses econômicos”, afirmou o pesquisador, que participou em setembro de reuniões com representantes dos governos.

Batalha

Para o professor titular em relações internacionais Eduardo Jose Viola, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB (Universidade de Brasília), o adiamento das negociações era evidente. O anúncio só “oficializou o que já estava claro”, segundo o especialista, que prevê um longo impasse.

“Faltando pouco tempo para a COP 15, e sem o plano norte-americano aprovado, certamente não sairia acordo”, afirma. “O nó para se chegar a um acordo continua sendo os Estados Unidos. Sem que o plano de mudanças climáticas deles seja aprovado no Senado, nenhum acordo mundial vai sair”, afirmou.

Paulo Saldívia acredita que, se o presidente Barack Obama não mudar a postura adotada por George W. Bush, o adiamento da solução vai diminuir a pressão sobre os países.

Por sua vez, Paulo Artaxo acredita que a postura de Obama é diferente da do antecessor, que “negava os avisos dados pelo relatório sobre a situação do planeta”. “Obama está com as mãos atadas. Ele defende publicamente uma ação forte, mas não consegue aprovar uma legislação no Congresso dos Estados Unidos”.

A legislação com metas domésticas de corte de emissões foi aprovada na Câmara por 219 a 212, sendo 44 votos democratas contrários. Um projeto similar tramita no Senado, onde Obama tem 60 votos necessários para aprovar qualquer lei, número mais justo do que na Câmara. A legislação não entrará em pauta antes de 2010.

Discurso

Hoje, os líderes dos Estados Unidos e da China disseram estar comprometidos em alcançar êxito na reunião de Copenhague. Barack Obama defendeu um acordo com “efeito operacional imediato” e que aborde todos os aspectos do problema, como propôs o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Lokke Rasmussen.

Hu Jintao afirmou que China e EUA estão de acordo em ampliar o diálogo sobre ambiente e energia. Segundo ele, os países buscarão o sucesso da cúpula de Copenhague sobre mudança climática levando em consideração as “responsabilidades” e as “capacidades” de cada país.

David Gray/EFE/Pool



O presidente Hu Jintao e a secretária Hillary Clinton durante encontro em Pequim

Ainda é possível pressionar para Copenhague não repetir Quioto, dizem especialistas

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