Nos bairros mais populares de Medellín, segunda maior cidade da Colômbia, um novo passatempo se tornou a sensação entre as crianças desde o último mês de julho: completar o álbum de figurinhas Pablo Escobar, el Patrón del Mal. A coleção faz sucesso entre os jovens, que se reúnem para comprar pacotinhos e jogar bafo, embora nenhum deles fosse nascido na época em que o líder mais famoso do narcotráfico colombiano estava no auge e aterrorizava o país.
Uma das principais razões do sucesso desse álbum de 16 páginas que começou a circular há apenas três semanas se deve ao grande sucesso de uma série de TV de mesmo nome, produzida e exibida desde maio pela TV Caracol. A produção, que trata da vida do fundador do Cartel de Medellín, teve início no fim de maio e tornou-se um enorme sucesso de audiência. Seu primeiro capítulo foi o lançamento mais visto na história das produções colombianas. A série, baseada em fatos reais, é na verdade uma ficção inspirada no livro “A parábola de Pablo” (Alonso Salazar, ed. Planeta Pub Corp – importado).
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Os críticos da série culpam a produção de transformar Escobar em um personagem de moda ou um ícone cultural. No entanto, ela foi criada por Camilo Cano, filho de Guillermo Cano, jornalista morto a mando do narcotraficante em 1986, e produzido por Juana Uribe, cuja mãe foi seqüestrada por ordens de Escobar e o tio, o ex-candidato à presidência Luis Carlos Galán, foi assassinado em 1989.
De acordo com o jornal colombiano El Tiempo, muitos professores que lecionam em escolas de bairros onde as figurinhas fazem sucesso alertam para o fato de que, além do álbum, muitas das brincadeiras entre crianças envolvem essa série de TV.
A mistura entre realidade e a ficção é outro ponto preocupante alertado pelos professores, já que, enquanto as figurinhas têm imagens apenas da TV, a capa do álbum escancara uma foto real do narcotraficante.
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Para Jorge Bonilla, especialista em comunicação política da Universidade Eafit (Escola de Administração e Finanças e Instituto Tecnológico de Medellín), esse sucesso midiático em torno da figura de Escobar é um fato que precisa ser analisado sob o ponto de visto antropológico.
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“A figura de Escobar entrou na categoria de mito. É como se ele não tivesse morrido, como se sua imagem não tivesse deixado esta cidade. Ele ainda simboliza um sujeito que se colocou contra as regras de sua época”, diz Bonilla ao El Tiempo. “É semelhante ao que ocorre em diferentes partes do país, com a presença de guerrilheiros e paramilitares, que são fugitivos e atuam de forma ilegal. Mas através destes e outros atos, acabam se tornando ícones populares”, diz ele.
Para o diretor da ONG Corporación Región Medellín, Max Yuri Gil, esse fenômeno é apenas a “ponta do iceberg” e que os pais deveria assistir à série com os filhos e orientá-los. “O problema não é só nos bairros populares. Lá, Escobar é visto como um líder que encarna o que alguns jovens gostariam de ser. Mas isso na ocorre só ali, a linha entre o que é admitido e o que não é torna-se muito tênue, a aceitação de tratar esses temas é um tabu para a sociedade”, afirma.
Não é somente a série de TV que traz à tona a imagem do narcotraficante. Um de seus filhos, Sebastián Marroquín, chegou a lançar uma marca de roupas na Argentina com imagens do pai.
Escobar foi o fundador do Cartel de Medellín, a mais temida organização de tráfico de drogas no final do século XX. Em 1989, chegou a ser o sétimo homem mais rico do mundo, segundo a Revista Forbes. A Justiça colombiana o vincula a assassinatos de cerca de dez mil pessoas,o que o tornou o criminoso mais procurado do mundo na década de 1990. Acabou morto em uma operação policial em 1993.