Com as eleições federais da Alemanha a apenas algumas semanas de distância e após duas votações parlamentares controversas, milhares de pessoas protestaram em todo o país neste final de semana contra o fim do isolamento do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) no Parlamento alemão.
Os manifestantes criticaram ativamente o candidato a chanceler federal alemão Friedrich Merz, da conservadora União Democrata Cristã (CDU).
Neste domingo (02/02), 160 mil pessoas protestaram em Berlim, segundo cálculo da polícia da capital alemã. Os manifestantes carregavam cartazes dizendo “faltam 5 minutos para 1933”, em uma referência ao ano em que o partido de Adolf Hitler assumiu o poder na Alemanha pela primeira vez.
As manifestações também reuniram grandes multidões em Aachen, Augsburg, Braunschweig, Bremen, Colônia, Essen, Frankfurt, Hamburgo, Karlsruhe, Leipzig, Würzburg e diversas outras cidades menores.
Merz e CDU criticados por derrubar “cordão sanitário” contra ultradireita
A maioria dos protestos foi direcionado ao candidato a chanceler Friedrich Merz, que apresentou uma moção e um projeto de lei anti-imigração no Bundestag (Parlamento alemão) esta semana. Ambos receberam apoio do partido Partido Liberal Democrático (FDP), da aliança populista de esquerda Sahra Wagenknecht (BSW) e, de forma mais notável, da ultradireitista AfD.
Diversos diretórios da AfD são classificados como “suspeitos” de extremismo. Na última quarta-feira (29/01), os três partidos aprovaram uma moção não vinculativa anti-imigração. Já na sexta-feira (31/01), uma proposta da chamada Lei do Fluxo Migratório foi derrotada por uma margem apertada.
A insistência de Merz em levar os projetos à votação, mesmo sabendo que precisaria do apoio da AfD para aprová-los, foi duramente criticada como uma violação do “cordão sanitário” alemão que existe desde a Segunda Guerra Mundial, criado para impedir que a ultradireita chegasse ao poder.
A disposição do líder da CDU em ignorar esse consenso virou o centro das manifestações deste sábado. O candidato é o líder das intenções de voto para assumir o governo alemão na eleição de 23 de fevereiro.
Manifestantes pedem que Merz “ouça a Mutti” Merkel
A ex-chanceler Angela Merkel, predecessora de Merz na liderança da CDU e que durante seus 16 anos no cargo abriu as portas para um grande fluxo de imigrantes sírios e afegãos, também esteve em destaque nas manifestações de sábado (01/02).
Merkel, conhecida por sua discrição, tomou a rara iniciativa de criticar publicamente a estratégia política de Merz nesta semana, condenando qualquer cooperação com a AfD.
Em Berlim, os manifestantes marcharam até a sede da CDU, onde realizaram um “mar de luzes” aos gritos de “nós somos o cordão sanitário”.
No sábado, na cidade de Colônia, manifestantes seguravam cartazes dizendo “Fritz, ouça a Mutti!”, usando apelidos tanto para Merz quanto para Merkel, que durante seu governo era chamada ironicamente de “Mutti” (mãezinha).
O ministro da Saúde da Alemanha, Karl Lauterbach, também participou da manifestação em frente à Catedral de Colônia.

160 mil pessoas protestaram em Berlim contra avanço da ultradireita
AfD e apoiadores enfrentam resistência de manifestantes
Em algumas cidades menores, como Neu-Isenburg, próxima a Frankfurt, assim como Göttingen e Hildesheim, o principal alvo da ira dos manifestantes não foi a CDU, mas a AfD em si.
Perto de Frankfurt, manifestantes protestaram contra um evento de campanha da AfD no sábado, entraram em confronto com a polícia e tentaram incendiar veículos policiais.
Outro alvo foi o movimento “Querdenker” (“pensadores divergentes”), que convocou suas próprias manifestações no sábado sob o lema “Políticas contra o povo?”.
Os Querdenker são um grupo heterogêneo de cidadãos que protestam contra políticas governamentais, vacinas, a mídia, imigração e outros temas. O movimento surgiu originalmente como oposição às restrições da pandemia da covid-19.
Em Göttingen e em outras cidades, contramanifestações foram organizadas pela Aliança contra a Direita, formada por grupos da igreja, sindicatos e organizações da sociedade civil, para se opor aos discursos programados pelos Querdenker, além de uma marcha e um cortejo de automóveis.
A polícia relatou vários confrontos entre grupos rivais. Testemunhas também afirmaram que policiais usaram cassetetes para afastar contra-manifestantes que bloqueavam o caminho da manifestação dos Querdenker.
De acordo com as autoridades, policiais foram atacados com fogos de artifício, garrafas e ovos. A polícia montada precisou ser acionada para controlar a situação.
Líder da CSU, partido irmão da CDU, apoia decisão de Merz
Embora os manifestantes de sábado estivessem indignados com as táticas de Merz, ele recebeu apoio da União Social-Cristã (CSU), o partido irmão da CDU na Baviera.
Markus Söder, líder da CSU, manifestou apoio público às votações parlamentares desta semana, chamando a decisão de avançar com os projetos de lei de “fundamental”.
“Ele escolheu esse caminho como candidato da CDU à chancelaria e demonstrou que está sério em relação à reversão da política de refúgio”, disse Söder, que também é primeiro-ministro da Baviera.