Alemanha vai às urnas no domingo; imigração e guerra na Ucrânia são tópicos centrais
Eleições definem governo dos próximos quatro anos; esquerda subir nas pesquisas
Chega ao fim a campanha para as eleições parlamentares da Alemanha. Neste domingo (23/02), os alemães escolhem nas urnas quem vai comandar o país pelos próximos quatro anos. O novo governo da maior economia europeia será crucial para ajudar a coordenar a resposta do continente aos desafios apresentados pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
A votação não é importante só para o país, mas também é vital sob a perspectiva europeia. Um governo alemão forte é importante para sustentar a resposta europeia à nova administração nos Estados Unidos, em meio à turbulência em relação à guerra na Ucrânia e em outros lugares.
A Alemanha e a vizinha França têm sido tradicionalmente os motores da União Europeia. Mas, os dois países estão mergulhados em instabilidade política interna nos últimos meses.
A eleição alemã está sendo realizada sete meses antes do planejado originalmente, depois que a coalizão de três partidos que sustentava o governo do chanceler Olaf Scholz entrou em colapso.
Em novembro passado, o Partido Liberal (FDP) abandonou a aliança governista em meio a divergências sobre como revigorar a economia alemã, que encolheu nos últimos dois anos. E uma das tarefas mais urgentes do novo governo será encontrar uma resposta coerente para esse problema.

Manifestações em massa contra a ascensão da extrema direita da Alemanha em Munique, no sul do país
Crise econômica e imigração
A crise econômica é uma das principais preocupações do eleitorado alemão nessa campanha, deixando em segundo plano temas que tradicionalmente movem o eleitorado, como problemas sociais e a crise climática.
A campanha também está sendo dominada pela questão sobre como reduzir a imigração irregular. O debate sobre imigrantes foi reaceso na Alemanha por atentados recentes supostamente cometidos por imigrantes.
O último deles foi há pouco mais de uma semana em Munique, no sul da Alemanha. No episódio, um motorista jogou seu carro contra uma multidão de manifestantes. Duas pessoas morreram e quase 40 ficaram feridas, o suspeito é um solicitante de asilo do Afeganistão.
No mês passado, um ataque a faca deixou dois mortos na cidade de Aschaffenburg, também no sul da Alemanha. O autor do crime seria outro solicitante de asilo do mesmo país.
A discussão sobre imigração tem colaborado para aumentar a popularidade da extrema direita alemã. Prova disso é que o partido ultradireitista Alternativa para a Alemanha (AfD) está em segundo lugar nas pesquisas.
Conservadores lideram pesquisas de voto
Tal fenômeno político levou a uma intensa discussão sobre o chamado “cordão sanitário” praticado pelos outros partidos para isolar a direita radical. O assunto gerou uma série de protestos nas ruas de diversas cidades da Alemanha, principalmente de pessoas que temem uma colaboração dos políticos das demais siglas com a AfD.
O líder conservador, Friedrich Merz, levou ao Parlamento uma moção não vinculativa pedindo mais rejeições de imigrantes nas fronteiras alemãs, a medida foi aprovada com votos da AfD. O movimento foi visto como a quebra inédita de um tabu, já que, pela primeira vez, um texto foi aprovado no Parlamento alemão com apoio da extrema direita.
Merz, aliás, é o favorito para se tornar o novo chanceler alemão. E as últimas pesquisas parecem confirmar a predileção. Há semanas que as sondagens de intenção de voto se mantém com poucas variações.
A aliança conservadora de Friedrich Merz, formada pelos partidos União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU), tem de 28% a 30% nas sondagens, com a AfD em segundo, apresentando intenções de voto em torno de 20%.
Coalizão de governo é incógnita
Os sociais-democratas do chanceler Olaf Scholz aparecem em terceiro lugar nas pesquisas, com cerca de 15% das intenções de voto, seguidos pelo Partido Verde, que compõe a atual coalizão de governo, com 13%. Por causa disso, é considerado certo que Scholz não vai conseguir se reeleger.
Os socialistas do A Esquerda estão na quinta posição das sondagens, com 8% e têm relativa certeza de que farão parte da próxima legislatura.
A grande pergunta é quais das outras legendas menores vão conseguir alcançar um mínimo de 5% para garantir uma bancada no Bundestag, o Parlamento alemão.
Esta é a pergunta que vai definir a formação do futuro governo. Porque menos partidos no Parlamento facilitariam a formação de uma coalizão de dois partidos apenas, ao passo que um Parlamento fragmentado só permitiria uma aliança de três siglas, que seria menos estável, como a que sustentava Scholz, e se desintegrou antes de completar o mandato.
O favorito Friedrich Merz já declarou estar aberto a colaborar tanto com os sociais-democratas de Scholz quanto com o Partido Verde.
