Em publicação em suas redes sociais, difundida nesta quarta-feira (12/02), o ex-presidente da Bolívia, Evo Morales (2006-2019), acusou o atual mandatário do país, Luis Arce, de “liderar uma nova operação midiática do governo para me prender, para encobrir o já óbvio escândalo de corrupção envolvendo contratos para doar lítio a empresas estrangeiras”.
A declaração foi feita horas depois de a Justiça boliviana ratificar a emissão de um mandado de prisão preventiva contra Morales, dentro de um processo no qual ele é acusado de, supostamente, ter abusado sexualmente de uma menor de idade, no ano de 2015.
A medida, segundo o Ministério Público local, foi solicitada pelo fato de o ex-presidente ter faltado a um depoimento que estava marcado para outubro passado.
A prisão preventiva de Morales foi anunciada, inicialmente, em 17 de janeiro, mas se manteve paralisada em virtude de recursos apresentados pela defesa de Morales, os quais acabaram sendo rechaçados posteriormente pelo juiz Nelson Rocabado, que avalia o processo.
El nuevo operativo mediático del gobierno para detenerme -en el marco de su Plan Negro (lawfare) tiene el objetivo de tapar el ya inocultable escándalo de corrupción sobre los contratos para regalar el litio a empresas extranjeras.
El régimen de Arce no busca justicia. Solo…
— Evo Morales Ayma (@evoespueblo) February 12, 2025
Em suas redes sociais, o líder indígena acusou Arce de “manipular um promotor e um juiz nomeado pelos membros ilegais e autoproclamados do Conselho da Magistratura”, e de promover uma “estratégia que consistiu em inventar uma acusação por um suposto crime apenas para me prender, me destruir política e moralmente e me tirar da disputa eleitoral”.
“O regime de Arce não busca justiça. Ele só quer encobrir sua administração desastrosa: a economia afundada e as instituições destruídas; sua guinada para a direita e traição ao povo; e sua submissão ao imperialismo americano”, afirmou o líder indígena.
No processo, Morales também é apontado como suposto cúmplice de uma rede de tráfico de pessoas. Porém, o ex-presidente acusa o ministro do Interior da Bolívia, Eduardo del Castillo, e a procuradora-geral do Departamental de Tarija, Sandra Gutiérrez, de terem sido “mencionados pela suposta vítima (a mulher que teria sido abusada por Morales em 2015, quando era menor de idade) como os verdadeiros envolvidos com casos de tráfico (de pessoas)”.

Ex-presidente da Bolívia acusa atual mandatário de liderar operação de lawfare para prejudicá-lo
Por sua parte, o ministro Del Castillo disse que a polícia boliviana recebeu a ordem de capturar Morales, e pediu ao ex-presidente que não resista à prisão.
Marcha contra a inelegibilidade
Dias antes do anúncio da Justiça boliviana, Morales disse que pretende concorrer novamente às eleições presidenciais na Bolívia, marcadas para o próximo mês de agosto, apesar de uma decisão do Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia, de dezembro de 2023, ter estabelecido que presidentes e vice-presidentes só podem exercer o cargo por dois mandatos, de forma consecutiva ou não, o que torna legalmente impossível a sua candidatura.
Ainda assim, o ex-mandatário tem convocado suas bases de apoio entre os movimentos sociais para organizar uma marcha desde Cochabamba, seu principal bastião eleitoral, até La Paz, capital do país, que teria início em março e culminaria em meados de dezembro. A iniciativa teria como objetivo pressionar tanto o Executivo quanto o Judiciário para aceitarem reverter as decisões que impedem a candidatura de Evo.