Atualizada às 18h13 para correção de informação
Os 11 jovens detidos durante protestos realizados há dez dias no México foram libertados por falta de provas. Em meio a um contexto tenso por conta do caso dos 43 desaparecidos em Iguala, a soltura dos estudantes acontece dias depois do presidente mexicano, Enrique Peña Nieto, anunciar uma reforma em que prevê o fim das polícias locais como medida para combater o crime organizado e a violência no país.
Libertados neste sábado (29/11), os dez mexicanos e um chileno haviam sido detidos por participar das mobilizações históricas em todo o México — por ocasião do 104º aniversário da Revolução Mexicana e para exigir que os 43 estudantes da escola de Ayotzinapa, no estado de Guerrero, desaparecidos em 26 de setembro fossem encontrados com vida pelo Estado. Seus relatos sobre o período como detidos contêm denúncias de ameaças e intimidações feitas pelos policiais: “Vamos desaparecer com vocês e esquartejá-los”, lembra um dos jovens.
Desinformémonos
Jovens exibem cartazes feitos para exigir libertação
Na noite de sexta-feira (21/11), o estudante da Unam (Universidade Nacional Autônoma do México) Sandino Bucio Dovalí, detido arbitrariamente na tarde do mesmo dia, foi libertado após ser agredido e ameaçado por policiais vestidos como civis.
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No caso dos 11 jovens, o juiz considerou que não existiam provas suficientes para processá-los. A PGR (Procuradoria-Geral da República) os acusava pelos crimes de motim, associação criminosa e tentativa de homicídio — todos considerados graves pela legislação local. Eles foram detidos com base no depoimento de um policial que disse que os jovens agrediram um de seus colegas, com a intenção de matá-lo.
De acordo com uma investigação realizada pelo site Proceso, a procuradoria “desdenhou” das “numerosas evidências” que desmentiam a versão dos policiais e assinalavam, ao contrário, que os uniformizados atuaram de forma arbitrária e violenta.
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O advogado chileno Jorge Insulza, disse estar contente com a libertação do chileno Laurence Maxwell Ilabaca e comentou que “o que acontece hoje no México nos lembra as violações dos direitos humanos de nossa ditadura. Aqui tudo indica que o que há é uma penetração da corrupção nos organismos públicos que derivaram também em violação aos direitos humanos”.
Indignação e abusos
Durante ato realizado na Cidade do México após o anúncio da libertação dos 11 jovens, os pais, que passaram 48 horas acampados diante do juizado, leram um comunicado no qual expressaram indignação diante do que consideraram ser uma “montagem judicial” para prender os estudantes e denunciaram as agressões contra o direito de livre manifestação no país.
Agência Efe
Jovens libertados foram recebidos por familiares e pessoas solidárias que se manifestaram contra as detenções
Luis Carlos Pichardo, diretor de teatro e um dos acusados, relatou ao Proceso como ocorreu a detenção em 22 de novembro: “Nos levaram em uma caminhonete branca e no caminho nos fizeram tortura psicológica. Os agentes da PGR zombavam de nós, nos hostilizaram durante todo o caminho”. E acrescentou: “Nos acusavam de mil coisas, como de queimar a porta do Palácio. Mas chegou um momento em que disseram: ‘vamos desaparecer com vocês e vamos esquartejá-los. Sentimos que tínhamos que esperar pelo pior”.
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Três das garotas detidas — Tania Damián Rojas, Hillary Analí González Olguín e Liliana Garduño Ortega — foram levadas para uma prisão de segurança máxima.
Após deixar o cárcere, Hillary González disse que faltou atendimento médico às companheiras que não tiveram a devida atenção. Sobre o tratamento dentro da prisão disse que “as internas me trataram muito bem, longe de tudo o que se diz da prisão”.
Liliana Garduño, por sua vez, disse que no momento da detenção “os policiais me bateram muito, me afrouxaram os dentes, tive que costurar minha perna e às vezes recebia medicamento, às vezes não”.
Sequestro de outro estudante
Na tarde de sexta-feira (21/11), Sandino Bucio Dovalí, estudante da Unam, foi interceptado por quatro homens, vestidos como civis, sem identificação, que o obrigaram a entrar em um carro prata.
No momento da ação, um grupo de jovens conseguiu filmar o momento em que Bucio entra no carro enquanto grita: “Me ajudem, estou sendo sequestrado”. Do outro lado da rua, os jovens pedem que ele diga seu nome para que possam posteriormente divulgar o acontecimento”.
O vídeo [disponível abaixo] e as fotos de Bucio sendo detido circularam amplamente na internet. Seis horas após o ocorrido, ele foi libertado por “falta de elementos” contra ele.
Após a libertação, o estudante de letras afirmou que a intenção foi amendrontrá-lo. “Andaram comigo por várias regiões da cidade, me bateram, me interrogaram sobre meu papel no movimento estudantil e me ameaçaram e à minha família”. Após ser apresentado à Subprocuradoria Especializada em Investigação do Crime Organizado da PGR, os agressores limparam seu rosto, o pentearam e deram outra camiseta, além do aviso para que não contasse sobre a agressão “diga que caiu”, ordenaram.
A Comissão Nacional de Direitos Humanos abriu uma queixa pela detenção de Bucio e pediu que as autoridades de segurança pública respeite a lei.