A reunião de cúpula da América do Norte chegou ao fim sem grandes pronunciamentos, mas com o apoio ao livre-comércio e à cooperação em campos como tráfico de drogas, imigração, desenvolvimento de energias limpas e pandemia da nova gripe.
Encerrada ontem (10), na cidade mexicana de Guadalajara, a cúpula trilateral – que ocorre desde 2005 – contou com a presença dos presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e do México, Felipe Calderón, e o primeiro-ministro canadense, Stephen Harper.
Com o propósito de avaliar as conquistas e tarefas pendentes em torno de vários temas, a chamada “narcoviolência”, o comércio e a regulação de fluxos migratórios dominaram boa parte das discussões nesta quinta edição da cúpula, segundo a agência EFE.
O encontro em Guadalajara serviu para preparar a próxima reunião do Grupo dos Vinte (G20, que reúne os países ricos e principais emergentes) em Pittsburgh (Estados Unidos) no mês que vem, onde os mecanismos para reformar as instituições financeiras multilaterais devem dominar a pauta de discussão.
Honduras
Os presidentes dos três países reafirmaram que o presidente deposto hondurenho, Manuel Zelaya, deve concluir seu mandato na data prevista, em janeiro de 2010.
Sobre a crise em Honduras, Obama criticou a “hipocrisia” dos que primeiro se queixam de que os EUA não intervieram o suficiente para restabelecer Zelaya no poder e que depois pedem que “os ianques saiam da América Latina”.
Harper apoiou Obama ao acrescentar que “se fosse americano, estaria verdadeiramente cansado deste tipo de hipocrisia”.
Calderón, por sua vez, afirmou que “a aposta para resolver a crise em Honduras deve ser o uso das instâncias internacionais e do direito internacional, além da intervenção de um só Estado, ou de uma só pessoa, para resolver um tema desta natureza”.
Economia
Obama, Calderón e Harper também apresentaram uma frente unida contra o protecionismo, e o presidente norte-americano afirmou que a polêmica cláusula “Buy American”, dentro do plano de estímulo econômico nos Estados Unidos, não prejudicou o multimilionário comércio com México e Canadá.
Alvo de críticas de canadenses e mexicanos, além de outros parceiros comerciais, o “Buy American” possui uma cláusula que exige que os contratistas que recebem fundos do plano de estímulo utilizem unicamente matéria-prima – em particular, aço – fabricada nos Estados Unidos.
No entanto, o governo norte-americano assegurou que seguirá cumprindo com suas obrigações internacionais dentro da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Quanto à recessão econômica, os três líderes se comprometeram a uniformizar ações contundentes para disseminar o crescimento econômico pela América do Norte.
Iniciativa Mérida
O presidente Barack Obama reafirmou também seu apoio à Iniciativa Mérida, que prevê o uso de ajuda financeira dos Estados Unidos no combate ao narcotráfico no México, e elogiou os esforços de Calderón no tema, apesar de o uso de militares na repressão aos crimes ligados ao tráfico de drogas ter despertado críticas de defensores dos direitos humanos.
“Confio em que, conforme a coordenação entre os militares e a polícia melhore, haverá uma maior transparência e prestação de contas, e que os direitos humanos serão respeitados. Os maiores violadores dos direitos humanos agora, sem dúvida, são os cartéis, que sequestram, extorquem e incentivam a corrupção”, afirmou Obama.
O presidente dos Estados Unidos acrescentou que seu governo já começou o envio de recursos e equipes para o México dentro da Iniciativa Mérida, que prevê gastos de 1,4 bilhão de dólares.
A violência ligada ao tráfico de drogas deixou mais de dez mil mortos no México desde 2006. O problema preocupa o governo norte-americano diante das informações de que traficantes mexicanos já estão presentes em 230 cidades dos Estados Unidos.
Reforma migratória
O presidente do México, Felipe Calderón, aproveitou a ocasião para pedir a Barack Obama que não se esqueça do “peso” que os imigrantes mexicanos têm na economia e na sociedade norte-americana e ressaltou o “valor” de seu governo na questão migratória.
Em entrevista coletiva ao final do encontro, Obama reiterou que espera que uma minuta da reforma migratória esteja pronta até o final do ano para ser debatida em 2010.
No entanto, considerou que, ao final de seu recesso de agosto, o Congresso norte-americano terá de trabalhar antes nas reformas na saúde, no setor de energia e no regime regulador dos bancos, nessa ordem.
Clima
Os presidentes de Estados Unidos, México e Canadá reafirmaram durante o encontro a “urgência e necessidade” de atuar contra a mudança climática e a importância de “desenvolver e fortalecer” instrumentos financeiros para respaldar esta adaptação.
Eles disseram apoiar o objetivo global de redução das emissões em 50% até 2050, na comparação com os níveis de 1990, e deram boas-vindas ao Fundo Verde Mundial, proposto pelo México, para combater o problema.
Estados Unidos, México e Canadá planejam também colaborar no desenvolvimento de tecnologias que respeitem o meio ambiente e na construção de uma rede para conectar as novas fontes de energia com a atual rede de distribuição.
Além disso, impulsionarão, entre outras medidas, a redução das emissões do setor transporte e buscarão harmonizar os padrões sobre eficiência energética.
Apesar do exposto, a organização ambientalista Greenpeace disse lamentar que a cúpula não tenha anunciado “compromissos concretos e de curto prazo” em apoio às energias limpas e contra a mudança climática.
Virginie Lambert-Ferry, do Greenpeace Canadá, afirmou que “os três países [Estados Unidos, Canadá e México] emitem mais de um quarto das emissões de gases de efeito estufa do mundo e uma forma imediata de compensar isto seria se comprometer em um acordo de proteção ao clima”.
Gripe
Os líderes dos trÊs países também falaram sobre a cooperação na região contra a gripe A, para “melhorar a troca de informações, garantir o entendimento comum na efetividade das medidas de saúde pública e compartilhar as instalações e a assistência técnica”.
Eles ressaltaram ainda que o fechamento das fronteiras não contribuiria para combater a expansão do vírus A (H1N1) e, além disso, poderia agravar as consequências sociais e econômicas da pandemia.
Segundo os últimos dados do Escritório Regional para as Américas da Organização Mundial de Saúde (OMS), a região concentra o maior número de casos de gripe A do mundo, com quase 100 mil pacientes e mais de mil mortes.
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