A FDA (Agência Federal de Alimentos e Medicamentos) dos Estados Unidos anunciou nesta segunda-feira (16/07) a aprovação do Truvada, do laboratório Gilead Sciences, como primeira pílula para ajudar a prevenir o HIV em alguns grupos de risco, segundo divulgou a agência AFP.
“O Truvada é para utilizar na profilaxia prévia à exposição em combinação com práticas de sexo seguro para prevenir as infecções do HIV adquiridas por via sexual em adultos de alto risco. O Truvada é o primeiro remédio aprovado com esta indicação”, afirmou a FDA.
O Truvada é encontrado no mercado americano desde 2004 como tratamento para pessoas infectados com HIV, indicado em combinação com outros remédios antirretrovirais.
Em maio, um painel assessor da FDA pediu para aprovar o Truvada como prevenção para pessoas não infectadas, depois que testes clínicos mostraram que este medicamento pode reduzir o risco de HIV em homens homossexuais de 44 a 73%.
A pílula é considerada por muitos especialistas uma nova e potente ferramenta contra o vírus da Aids, mas alguns provedores de serviço de saúde temem que incentive comportamentos sexuais de risco.
Resultados divergentes
Testes clínicos que analisam o uso de antirretrovirais como forma de prevenir a Aids produziram resultados divergentes sobre a sua eficácia, segundo pesquisas publicadas na última quarta-feira (11).
Os resultados de três grandes estudos realizados na África e publicados na New England Journal of Medicine levantam questões sobre que grupos se beneficiariam, e como deveriam ser administrados os tratamentos, dizem os autores.
A proposta, conhecida como profilaxia pré-exposição (PrEP), consiste em pessoas saudáveis que tomam antirretrovirais para evitar que sejam infectadas pelo vírus ao manterem relações sexuais com parceiros infectados.
Um estudo citado pela revista, que incluía casais heterossexuais em que uma pessoa tinha Aids, mostrou que se reduzia entre 67% e 75% o risco de contrair a doença entre os que tomavam o medicamento.
O estudo, conhecido como Partners PrEP, foi realizado entre 2008 e 2010, em Uganda e Quênia, com mais de 4.700 casais, e ministrava aleatoriamente aos casais que não tinham a doença uma dose diária de tenofovir, uma combinação de tenofovir e emtricitabina, ou um placebo.
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Nos dois primeiros casos, os participantes apresentavam uma proteção “significativa”, ou de “magnitude semelhante” entre os homens e as mulheres, segundo a pesquisa.
A adesão ou prosseguimento do tratamento foram altos neste estudo: 82% dos participantes selecionados aleatoriamente mostraram níveis detectáveis dos fármacos, enquanto os autores estimam que 92% prosseguiram com o tratamento.
Outro estudo citado na publicação teve que ser interrompido em abril de 2011, porque o grupo que recebia o remédio não mostrou um nível de proteção maior do que o que recebia o placebo.
Este estudo, conhecido como FEM-PrEP, foi um teste controlado aleatório de 2.120 mulheres no Quênia, África do Sul e Tanzânia. Entre elas, 33 mulheres que faziam o tratamento contraíram a doença, contra 35 que tomavam o placebo.
O estudo mostrou uma taxa de adesão ao tratamento muito menor (40%), e uma relação muito maior de efeitos colaterais, como náusea, vômito e problemas nos rins e no fígado.
O fato de que muitas mulheres que participaram do estudo consideravam ter um risco pequeno de contrair o HIV pode ter contribuído para a baixa adesão ao tratamento.
Um terceiro estudo, chamado TDF-2, do qual participaram 1.219 homens e mulheres em Botsuana, mostrou que a profilaxia pré-exposição teve uma taxa de eficácia de 62% em adultos heterossexuais sexualmente ativos.
Estudos anteriores haviam mostrado que a proposta podia reduzir os casos de HIV entre homens homossexuais em 44% no total, embora tenha havido taxas maiores entre os homens que tomava a pílula com maior regularidade.
“Por que os resultados são diferentes ao longo dos diferentes estudos realizados até hoje não está claro”, destacam, em um editorial que acompanha os trabalhos, Myron Cohen, da Universidade da Carolina do Norte, e Lindsey Baden, do Brigham and Women's Hospital, em Boston.
As questões a serem consideradas envolvem que tipo de população poderia ser mais beneficiada, quando começar e interromper o tratamento, como evitar a resistência ao remédio, que efeitos colaterais ele poderia ter, e como garantir que o tratamento não estimule comportamentos de risco, como o sexo sem proteção.
(*) Com informações de agências internacionais