Pela segunda vez em dois dias o presidente deposto Manuel Zelaya foi à fronteira entre a Nicarágua e Honduras, na localidade de Las Manos, e como na sexta-feira (24), não atravessou o limite para retornar ao seu país. Ontem (25), Mel também se distanciou mais da fronteira e regressou a Ocotal, uma pequena cidade fronteiriça a 25 quilômetros de Las Manos.
Portando um megafone, ele incitou centenas de seguidores que chegaram ontem à noite a Honduras, cruzando a fronteira pelas montanhas e bosques que rodeiam Las Manos. “Fora (Roberto) Micheletti, fora Micheletti”, gritava Zelaya, eufórico, pelo megafone, enquanto era acompanhado por seus seguidores.
“Os senhores acreditam em Deus, têm fé em Deus, acreditam no povo, acreditam que o povo existe? Então saibam que a vitória é nossa”, disse em certo momento.
“Este homem não quer retornar de verdade, lhe falta valor” afirma Domenico, um comandante aposentando da Polícia Nacional nicaragüense. “Ontem (sexta-feira), ele apertou as mãos do tenente-coronel Luis Recate. Neste momento a tropa o havia deixado passar. Foi um gesto simbólico muito forte”.
As pessoas que chegam de Honduras esperam uma ação mais enérgica. “Apoiamos totalmente Mel e estamos aqui para demonstrar isso. Mas já é a segunda vez que o presidente vai à fronteira e não a cruza”, diz Rafael, militante hondurenho. “Hoje sequer tentou atravessá-la. Foi muito difícil chegar aqui. Levamos oito horas para cruzar a montanha. Gostaria que Mel fosse mais atrevido”.
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Manuel Zelaya afirmou que irá acampar em Ocotal com seus seguidores, “até quando seja necessário”, e depois, em breve discurso que concedeu em Las Manos, escondido atrás de um trailer parado na fronteira, para não ser vítima de um franco atirador, levantou o ânimo das 100 pessoas que gritavam em apoio.
Poucas horas antes havia chegado a notícia da morte, provavelmente por tortura, do jovem Pedro Magdiel Martinez, encontrado em El Paraíso, lado hondurenho da fronteira, onde as Forças Armadas estão detendo muitos simpatizantes de Mel.
“É um risco chegar aqui, sem falar nos militares que nos perseguem à noite pela montanha”, conta uma jovem vestindo um lenço roxo que cobre seu rosto, recém chegada das montanhas, com as calças e os sapatos estragados, cheios de lama. “Um companheiro se perdeu e levou várias horas para sair da floresta. Agora que estamos aqui, não podemos mais voltar, devido aos militares. Se voltamos, eles nos prendem”.
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A parte hondurenha da fronteira segue muito militarizada, com toque de recolher de 24 horas.
Cruz Vermelha
Na sexta-feira, os militantes pró-Zelaya descobriram que uma ambulância da Cruz Vermelha estava transportando bombas de gás lacrimogêneo para o Exército hondurenho. O carro era manejado por um funcionário da organização humanitária, conforme informou ao Opera Mundi uma fonte interna da Cruz Vermelha hondurenha.
A situação evolui a cada hora, mas o que parece clara é a vontade de Zelaya de manter alta a atenção midiática entre as pessoas.
Don Carlos, um nicaragüense que troca moedas na fronteira, confessa que se Zelaya “fosse meu presidente, lhe diria para parar de agitar as coisas e de se lançar contra os fuzis”.
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