A nova rodada de consultas do presidente Emmanuel Macron para a nomeação de um primeiro-ministro é a principal manchete da imprensa nesta segunda-feira (02/09). Macron recebeu no Palácio do Eliseu dois ex-presidentes, François Hollande e Nicolas Sarkozy, e dois potenciais candidatos à chefia do governo, o ex-ministro do Interior e ex-premiê socialista Bernard Cazeneuve e o presidente da região Hauts de France, Xavier Bertrand, da direita republicana.
Com essas reuniões, fica claro que Macron pretende nomear um premiê moderado, capaz de se aliar ao centro, seja um representante do Partido Socialista ou da direita republicana, que implodiu na última eleição legislativa quando o presidente do partido Os Republicanos debandou para a extrema direita.
Na avaliação do Le Parisien, o socialista Bernard Cazeneuve é favorito. O ex-premiê de François Hollande sempre foi contra a aliança do PS com o partido A França Insubmissa (LFI) de Jean-Luc Mélenchon. No momento de formação da Nova Frente Popular (NFP) para disputar as legislativas, coligação que reúne socialistas, comunistas, ecologistas e a esquerda radical, Cazeneuve disse que era uma “falta moral” do PS se unir à ideologia de Mélenchon. Para o Le Parisien, Cazeneuve é “um servidor do Estado que encarna uma forma de autoridade que agrada aos franceses”. Ao mesmo tempo, é o retorno da velha política.
Em um breve perfil, Le Parisien recorda que Cazeneuve se autodenomina “radicalmente moderado”, um “defensor da laicidade, da construção europeia, do combate ao déficit, da justiça social e do respeito à ordem pública”.
No entanto, de acordo com o portal de notícias France Info, deputados ecologistas e de esquerda radical “detestam” Cazeneuve, “um símbolo da era Hollande”. A reprovação vem da Lei Cazeneuve adotada em 2017, que autorizou policiais municipais a usarem armas de fogo. A gestão de Cazeneuve no ministério do Interior é associada à repressão de manifestações ecologistas que resultaram, inclusive, na morte de um militante em 2014.
A Nova Frente Popular insiste que a única candidata ao cargo é a economista Lucie Castets, já descartada por Macron. Para a nomeação de Cazeneuve, Macron conta com o apoio da prefeita de Paris, Anne Hidalgo.
Novas consultas?
No início da tarde, depois de ter conversado com os principais interessados, Cazeneuve e Bertrand, uma fonte do Palácio do Eliseu disse que o objetivo dos encontros foi verificar se essas duas candidaturas eram compatíveis com o critério de estabilidade fixado pelo presidente para o futuro governo do país. A mesma fonte disse que outros nomes são cogitados, como Thierry Beaudet, presidente do Conselho Econômico, Social e Ambiental, uma hipótese menos política, mais próxima de um governo “técnico”. Fica a dúvida se esta declaração serviu apenas para despistar a imprensa.
Se vier a ser nomeado, Cazeneuve terá a complicada tarefa de encontrar apoio numa Assembleia Nacional fragmentada. A Nova Frente Popular tem 193 deputados, mas longe da maioria de 289 parlamentares. A mobilização de uma parte dos deputados socialistas poderia ajudá-lo, mas seria prejudicial para a união da esquerda. Uma vantagem nessa escolha é que a extrema direita já declarou que não censurará, em princípio, um governo Cazeneuve.
Já o candidato de centro-direita, Xavier Bertrand, tem o apoio de Sarkozy mas não do atual líder da direita republicana, Laurent Wauquiez.