Domingo, 20 de julho de 2025
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A história de Ghebrehiwot Tekle, de 32 anos, é comum entre milhares de outros jovens eritreus em Israel. Em 2002, ele foi preso quando participava de uma manifestação contra o presidente Isaias Afewerki, que comanda o país desde 1993, e obrigado a trabalhos forçados na construção civil. O eritreu só conseguiu fugir quatro anos depois.

Guila Flint/Opera Mundi

Tekle, que fugiu da Eritreia para viver em Israel: “Desde que cheguei, em 2007, nenhuma autoridade oficial falou comigo”

Morador de Tel Aviv, ele hoje é um dos líderes da comunidade de refugiados eritreus em Israel, formada por cerca de 40 mil pessoas. Tekle contou como foi a epopeia pelo Norte da África até chegar a terras israelenses e explicou as reivindicações da comunidade em relação ao governo, que não pode expulsá-los, mas por outro lado ignora sua existência.

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“Desde que cheguei, em 2007, nenhuma autoridade oficial falou comigo”, afirma. “O mesmo acontece com a grande maioria dos refugiados eritreus. As autoridades se esquivam de avaliar nossa situação para não terem que nos conceder o status ao qual temos direito: o de refugiado”.
 

Ghebrehiwot Tekle foi submetido a trabalhos forçados no país natal e precisou cruzar o deserto do Sinai a pé em sua jornada

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Formado em Língua Inglesa pela Universidade de Asmara, Tekle conseguiu fugir da Eritreia, regida por uma das ditaduras mais cruéis do mundo, em 2006. De acordo com o refugiado, Afewerk não só reprime qualquer liberdade de expressão, como também explora os jovens eritreus em regime de semiescravidão e trabalhos forçados.

Ainda segundo Tekle, os jovens eritreus em regime de trabalhos forçados não só constroem bases militares, mas também são obrigados a construir projetos privados, dos quais o governo ditatorial obtém lucros. “Nem sei quem era o dono dos apartamentos que construí naquela época”, conta.

Arquivo pessoal

Refugiados da Eritreia, dentre eles Tekle, realizam manifestação em Tel Aviv: “estamos aqui por causa da tortura”

Da Eritreia, Tekle fugiu para a Etiópia. De lá, seguiu para o Sudão, depois Egito, de onde atravessou a pé o deserto do Sinai e entrou em Israel. “Quando atravessei a fronteira fui detido por militares israelenses que me levaram até a Estação Rodoviária de Beer Sheva (no sul de Israel). Então peguei um ônibus para Tel Aviv, tinha amigos que já estavam aqui, e aqui estou até hoje”, fala.

Família e política

Toda a familia de Tekle ficou na Eritreia. De vez em quando ele conseguia mandar algum dinheiro para os pais, porém, depois que o Parlamento de Israel aprovou uma nova lei proibindo que refugiados envie dinheiro para o exterior, isso se tornou impossível. “Essa nova lei foi criada só para nos punir, trata-se de uma punição coletiva. Não é natural que um filho queira ajudar seus pais idosos?”, pergunta.

Tekle diz que tem muitas saudades da Eritreia e que gostaria de poder retornar. “Quando houver democracia em meu país, voltarei imediatamente. Mas se eu voltar enquanto a ditadura de Afewerki ainda estiver em vigor, tenho certeza de que vou morrer na prisão”, ressalta.

Guila Flint/Opera Mundi

Loja em Tel Aviv onde Tekle e a esposa vendem itens da Etiópia, país que acompartilha semelhanças culturais com a Eritreia

“Trabalho politicamente para mudar a situação em meu país. Nossa comunidade aqui em Israel faz muitas manifestações contra a ditadura e divulga informações sobre o regime na Eritreia”, explica. Israel mantém boas relações com a Eritreia, que possui uma embaixada em Tel Aviv. Tekle já organizou atos lá, com a partipação não só de refugiados eritreus, mas também de ativistas israelenses de direitos humanos.

Em 2010, Tekle se casou com uma refugiada da Eritreia que também entrou a pé em Israel. O casal tem dois filhos. Para sustentar a família, ele alugou uma pequena loja no sul de Tel Aviv, onde vende produtos da Etiópia, principalmente alimentos e roupas.

“A cultura e os hábitos na Eritreia e na Etiopia são os mesmos, então os eritreus aqui já se acostumaram a comprar produtos etíopes na minha loja”, afirma.

Tekle critica a negligência do governo israelense em relação aos refugiados africanos, mas elogia o povo. “Tenho muitos amigos israelenses, a maioria das pessoas que encontro aqui é gente aberta”, diz.