Um dia após a queda do presidente de Madagascar, Marc Ravalomanana, e da chegada ao poder do líder oposicionista Andry Rajoelina, os habitantes do país africano estão sem acesso a informações. Os prédios da TV e da rádio nacionais e da Radio Mada (privada e legalista) foram incendiados por rebeldes ontem (17). Outros veículos de comunicação sofreram ameaças, segundo jornalistas locais ouvidos por telefone pelo Opera Mundi.
O repórter fotográfico Jahaziela Ramanitra, 22 anos, disse que a população tem acesso somente a uma rádio – a Fahazavana, comandada pela Igreja Católica – e a poucos jornais e canais de TV. “Soldados e rebeldes queimaram tudo que havia dentro da emissora de TV e das rádios pró-governo. As que estão funcionando emitem poucas notícias sobre o golpe e com pouca análise”.
A apresentadora de TV do canal Madagascar (MaTV), Tinasoa Liuna, relatou que o jornal Midi Madagasikara, vizinho ao edifício da MaTV, foi ameaçado esta tarde. “Eu consigo trabalhar normalmente, mas muitos dos meus colegas jornalistas estão sofrendo para dar notícias à população”.
Tinasoa ressaltou que o principal alvo até agora foram as emissoras de rádio, a maioria fechada pelo novo governo. “Devido à pobreza, poucas pessoas em Madagascar têm acesso a televisão e jornais. Portanto, o rádio se torna o principal meio de comunicação, especialmente no interior”.
Ramanitra lembrou que poucos canais estrangeiros, como a rede norte-americana CNN e a britânica BBC, são acompanhados pela população. “O máximo que vemos é a reprodução de alguns telejornais franceses, de canais como TV5 e TF1 no noticiário local”. Madagascar foi colônia francesa de 1883 a 1960 e tem como primeira língua o francês.
O jovem repórter fotográfico afirmou que o clima é de incerteza no país. Poucos se arriscam a sair à noite na rua, temendo conflitos. “O povo está dividido, o que é preocupante. Todos temem uma guerra civil”.
“A maioria dos pobres apoia Rajoelina, mas ainda não confia nele. A camada rica de Madagascar parece ainda estar atordoada com a saída de Ravalomanana”, contou Tinasoa. Bem-sucedido homem de negócios, o ex-presidente era bastante popular entre o empresariado malgaxe.
Blog e twitter quebram silêncio
Em meio à falta de informação, o blogueiro Andriankoto Ratozamanana buscou formas de contar em tempo real o que acontecia em seu país. Ele postou em seu twitter (micro-blog) fatos e impressões sobre o golpe, anexou fotos de demonstrações em Antanarivo no flickr (álbum de fotos digital) e publicou novos textos em seu blog.
No dia 16, um dia antes da derrubada do governo, Ratozamanana escreveu no twitter: “A situação está piorando. Ouvi tiros há três minutos”. Pouco tempo depois, complementou: “As rádios tocam canções, mas nenhuma notícia do Iavaloha (palácio presidencial). O que está acontecendo?”.
Ontem, dia do golpe, o blogueiro não publicou posts. Apenas hoje retornou ao computador, e escreveu: “Viver em Madagascar era muito difícil durante a era Ravalomanana. Estou em minha casa, em Madagascar, vendo os raios de sol pela janela… o mundo mudou”.
Rajoelina promete reconciliação
Hoje, no primeiro discurso após se proclamar chefe de um governo de transição em Madagascar, Andry Rajoelina prometeu montar um gabinete pluripartidário e promover a reconciliação na sociedade malgaxe. “Vou construir um verdadeiro Estado democrático”, garantiu, diante de milhares de seguidores na Praça 13 de Maio, em Antananarivo.
No mesmo dia, Alta Corte Constitucional de Madagascar (HCC) aprovou a indicação de Rajoelina como “presidente da Autoridade Suprema da Transição”. O tribunal acatou a renúncia de Ravalomanana e a transferência de poder para uma junta militar liderada pelo vice-almirante Hyppolite Ramaroson. A Justiça também reconheceu como constitucional a decisão dos militares de transferir o poder a Rajoelina, decisão já anunciada na véspera em um quartel dos golpistas.
Desde a renúncia, Ravalomanana permanece em local desconhecido.
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