Após dias de silêncio, os ministros de Relações Exteriores da União Europeia marcaram uma reunião hoje (31/01) para analisar as revoltas populares na Tunísia e no Egito. Os 27 ministros decidiram reivindicar ao presidente egípcio, Hosni Mubarak a organização de eleições “livres” e “justas”. A mensagem difundida após a reunião também pede “reformas democráticas substanciais”.
Para os chanceleres da UE, qualquer avanço deve se pensar a partir de um governo de unidade com “ampla base” que atenda às demandas dos manifestantes. Os ministros também oficializaram seu apoio à transição democrática na Tunísia e oferecerão seu apoio técnico e econômico.
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Antes da reunião, a Alta Representante da União Européia, Catherine Ashton, já tinha antecipado as conclusões das conversas pedindo ao presidente egípcio, Hosni Mubarak, um diálogo “pacífico” e “aberto” com toda a oposição. “As legítimas exigências do povo egípcio devem ser atendidas. Suas aspirações de um futuro melhor e justo devem ser atendidas com respondas urgentes, decisivas e concretas e com medidas verdadeiras”, disse Ashton aos jornalistas antes de entrar na reunião em Bruxelas.
Falta de posição comum
“Há necessidade de um avanço pacífico, baseado no diálogo aberto e sério com os partido opositores e todos os setores da sociedade civil, e nós acreditamos que isso precisa acontecer agora”, continuou. Ashton afirmou que a UE estaria “presente para apoiar o processo, mas o processo deve ser dirigido pelo povo do Egito”.
Até agora, frente à falta de uma posição comum – a UE não disse nada da situação na Tunísia, apesar de as manifestações terem começado em 17 de dezembro –, vários países já tinham feito declarações independentes ou conjuntas. Sábado (29/01), a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro ministro britânico, David Cameron, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediram juntos a convocação de eleições. O chefe de Estado francês precisa fazer esquecer a falta de apoio ao movimento popular tunisiano antes da queda do ex-ditador Ben Ali.
Linguagem diplomática
Sem esperar as declarações dos ministros de Relações Exteriores, o comissário europeu da Energia Gunther Oettinger dispensou a linguagem diplomática para qualificar de “irresponsável” e “incompreensível” a estratégia das autoridades egípcias para responder ao descontento da rua. “Estamos todos muito preocupados em relação ao Egito, basta ver as imagens e a quantidade de mortos”, disse hoje em uma coletiva, abandonando a prudência mostrada pelos comissários europeus até agora.
Além das violações dos direitos humanos, ele comentou o temor das economias europeias, já muito afetadas pela crise econômica, de sofrer as consequências da alta do preço do petróleo. O Egito tem uma importância limitada enquanto produtor, mas controla o canal do Suez, por onde passa cerca de um milhão de barris de petróleo por dia e que liga o mar Vermelho ao Mediterrâneo, permitindo que o combustível que transita do Oriente Médio para a Europa e América do Norte não tenha de contornar o continente africano, o que encareceria o custo de transporte. Hoje, o barril de referência em Londres se aproximou dos 100 dólares.
Teste político
Ao contrário dos Estados Unidos, que indicaram, em 29 de janeiro que cogitavam rever a ajuda de 1,5 bilhões de dólares ao Egito, a porta-voz da UE para as relações exteriores Maja Kocijancic adiantou na semana passada que a ajuda europeia (449 milhões de euros previstos para os dois próximos anos) não seria questionada.
A situação na África do Norte é um teste político importante para a UE, especialmente para o Serviço de Ação Europeia Externa (EEAS na sua sigla em inglês) que começou a ser operativo em dezembro.
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