As declarações do presidente uruguaio, José “Pepe” Mujica, que chamou o México de “Estado falido” por causa da falta de respostas e ações do governo diante do desaparecimento dos 43 estudantes da escola de Ayotzinapa desde 26 de outubro, gerou um incidente diplomático entre os países. O governo mexicano convocou o embaixador no Uruguai, Jorge Alberto Delgado Fernández, para esclarecimentos e o mandatário uruguaio, em nota, ponderou que o México, como outros países afetados pelo narcotráfico, “não é Estado inócuo ou falido” e ressaltou também o compromisso de ajudar no que for necessário.
Agência Efe
Muijica concedeu a entrevista na chácara onde mora em Montevidéu
Em um comunicado divulgado na noite deste domingo (23/11), a chancelaria mexicana manifestou “surpresa e rechaço categórico” às declarações do mandatário, concedidas durante entrevista à revista Foreign Affairs. Mujica disse também que no país norte-americano a vida humana “vale menos do que a de um cachorro” e que a situação é pior do que a vivenciada em uma ditadura.
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A nota da Secretaria de Relações Exteriores reiterou a “importância dos vínculos históricos de amizade com o povo e governo do Uruguai” e ressaltou o compromisso do governo em “continuar as investigações com clareza, transparência e responsabilidade, tal como vem ocorrendo até agora”.
Após a repercussão em torno das declarações, o mandatário uruguaio manifestou solidariedade com os países afetados pelo narcotráfico, como México, Honduras e Guatemala, e ressaltou “os laços históricos de amizade que unem historicamente Uruguai e México”.
Em nota divulgada também na noite deste domingo (23/11) pela Secretaria da Presidência do país, Mujica manifestou confiança no capital político dos partidos e instituições democráticos mexicanos. “Não são, nem serão, estas nações Estados inócuos ou falidos, porque têm cimentos históricos de nações pré-colombianas, possuem capital político em seus partidos e em suas decisões democráticas, que estão acima de suas vicissitudes de hoje”, disse Mujica, segundo a página da presidência na internet.
Agência Efe
Manifestante faz referência à declaração de Jesús Karam de que estaria cansado da insistência de repórteres em torno do tema
A tragédia vivenciada pelo México é um golpe para todos e “não podemos ser menos que solidários com o povo mexicano e com seu sistema político, incluindo seu governo”, afirmou. Nos sentimos solidários com o México, mas além disso comprometidos com sua luta, e no que for possível, estamos à disposição de seu governo legítimo para apoiá-lo em tudo o que possa facilitar o enfrentamento deste difícil momento”, acrescentou Mujica.
Entenda o caso
No dia 7 de novembro, tal como era esperado pelas famílias dos 43 estudantes, o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, anunciou que todos os jovens estão mortos e que os corpos foram queimados e os restos, jogados em um rio. A informação dada por presos acusados pelo desaparecimento, longe de encerrar o caso, fortaleceu a onda de protestos no país.
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A maior delas, considerada histórica no país, ocorreu na última quinta-feira (20/11), quando se comemorou o aniversário de 104 anos da Revolução Mexicana. Durante o ato, familiares dos jovens denunciaram que as valas comuns e o desaparecimento forçado de pessoas são uma realidade em todo o país. Para a Anistia Internacional, a situação revela que o México vive uma “crise humanitária”.
Apesar do caráter pacífico dos protestos, atos de violência foram registrados pontualmente e motivaram uma resposta ofensiva por parte da polícia. Senadores do PRD (Partido da Revolução Democrática) e do PT (Partido do Trabalho) e o presidente do Morena (Movimento de Regeneração Nacional) denunciaram, no entanto, que o governo federal está por trás de tais atos violentos.
Em entrevista a Opera Mundi, ex-agentes do Estado mexicano afirmaram que o presidente Enrique Peña Nieto e o Exército são os responsáveis pelo sumiço dos 43 estudantes.